DEU NO X

DEU NO X

RODRIGO CONSTANTINO

DEU NO X

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

QUANDO EU BRINCAVA DE RODA

Conversa de Calçada Virtual coordenada por esta colunista

Quando eu brincava de roda
Lá no meu interior
Era menina feliz
A vida tinha calor
Eu soltava minha voz
Pra cantar: “Ó Linda flor.”

Dalinha Catunda/ Rio de Janeiro–RJ

Quando eu brincava de roda
Bem novinho, ainda moço
A mão na mão da menina
Outra mão lá no pescoço
Mas a brincadeira boa
Era a de cair no poço.

Marcos Silva/São Paulo-SP

Quando eu brincava de roda
Em noite de lua cheia
Na brincadeira de anel
Ou pisando o pé na areia
Dava a mão pra meninada
Todos gritavam: sereia!

Creusa Meira/ Bahia

Quando eu brincava de roda
No terreiro lá de casa
A lua era testemunha
Da felicidade rasa
No ritmo da ciranda
Cirandando, criava asa.

Chica Pessoa/Pentecoste-CE

Quando eu brincava de roda
No pátio da minha escola
Toda hora do recreio
Hoje a saudade me assola
Me lembro dela fardada
E um par de brinco de argola

Jairo Vasconcelos

Quando eu brincava de roda
Atirava o pau no gato
Que brincadeira perversa
Falta de mimo de trato
Mas ganhei delicadeza
Quando vim morar no Crato

Bastinha Job/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Já Doido Pra Namorar
Adorava O Cai No Poço
Para As Meninas Beijar
Moro Em Cruz De São Francisco
Estado Do Ceará.

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DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JOÃO ARAÚJO – MUNIQUE – ALEMANHA

Mestre Berto,

Uma notícia muito boa para o universo da Cantoria de Viola:

O Poeta Dimas Batista ganha Documentário.

Obrigado, muita saúde, um forte abraço a todos e até a próxima.

E para os leitores que quiserem acessar o link de inscrição no meu canal é só clicar aqui

J.R. GUZZO

BARULHO INÚTIL

Brasília, como se sabe desde 1960, é uma dessas cidades onde as camadas mais altas – políticos, potentados do serviço público e todo o mundinho que vive delas, numa relação de seres que só prosperam como parasitas uns dos outros – não trabalham. Não de verdade; o trabalho que fazem produz bens e serviços de valor igual a três vezes zero e dificilmente seria considerado “trabalho” pela maioria dos brasileiros comuns. (Com o “home office”, é claro, a coisa só piora.) O resultado é que a capital passou a ser o paraíso natural número 1 das falsas questões, crises ou problemas. É natural. Na falta do que fazer, inventa-se coisas extraordinárias, emocionantes e em geral absolutamente falsas, para dar aos peixes graúdos a oportunidade de fingir que estão resolvendo problemas monumentais e inexistentes – e de parecer, assim, importantíssimos para os destinos do Brasil e do mundo.

Aconteceu de novo, com a história desse “desfile militar” que passou por Brasília a caminho de uma área de Goiás que fica ali perto, onde faria as mesmas manobras que vem fazendo no mesmo lugar há 33 anos – uma carreata de carros blindados que atravessou a cidade, deu uma paradinha no Palácio do Planalto para entregar um convite (o presidente gostaria de ver o exercício?) e foi-se embora sem incomodar um tico-tico. Esse não-fato foi transformado, no minuto que se soube dele, numa “crise militar” de primeiríssima grandeza. Era o dia da votação da emenda propondo mudanças no atual sistema de votação para as eleições de 2022; por conta disso, e só disso, políticos, mídia e primeiros escalões e geral entraram em transe. Estaria havendo, segundo a bolha de Brasília, uma “ação militar” para intimidar a Câmara dos Deputados; era uma ameaça de “golpe”, ou de pré-golpe, um momento de “tensão” e mais uma porção de coisas horríveis.

Nada disso tem, teve ou terá o menor ponto de contato com a realidade. Os tanques de guerra (na verdade, o que mais tinha era caminhão de transporte) foram embora, a mudança no sistema eleitoral não alcançou os 308 votos que precisava para ser aprovada – teve até maioria de votos, mas não o suficiente – e meia hora após a passagem do desfile a história toda estava morta e enterrada. Ou seja: barulho inútil do primeiro ao último dos 15 minutos de fama que essa história teve.

A ocasião, naturalmente, serviu para políticos que morrem de medo de uma bala de borracha mostrassem toda a sua valentia diante dos “militares”, dizendo que não se deixariam “intimidar” e outras lorotas. Só ficam valentes porque que não correm risco nenhum fazendo cara de machão para general bonzinho; sabem que não vai acontecer nada, e que falar mal do Exército, hoje, é tão perigoso quanto falar mal do Instituto de Pesos e Medidas. Serviu, também, para se ouvir uma dessas declarações que seriam um poema se não tivessem sido feitas. “Foi uma coincidência trágica”, disse o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, referindo-se ao desfile e a votação. “Trágica” por que? O deputado Lira, então, acha que a presença legal de tropas do Exército Brasileiro na capital do país é uma tragédia? É ele quem está dizendo.

DEU NO JORNAL

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

MAIS UM 11 DE AGOSTO

Nessa quarta, comemoramos mais um Dia do Advogado. E há duas maneiras de fazer isso. Uma é com a razão. Na linha de Baltasar Gracián (L’Homme de Cour), para quem “Não há vingança maior que o esquecimento”.

1. História. Fomos nomeados, os três, por OAB e ABI, com procuração para requerer o impeachment de Collor. De sexta a domingo, durante meses, nos reunimos na OAB Federal. Para redigir. O Ministro Evandro Lins e Silva, responsável na petição pela parte de Direito Penal, começou a ler o discurso que preparou para a sessão do Senado, “As relações entre Collor e PC Farias são espúrias. Um conúbio (casamento). Um contubérnio (concubinato)”. Silêncio na mesa. Ficou olhando e nós dois, parados. Fábio Konder Comparato, que redigiu as questões de Direito Constitucional, se vira para mim e diz “Fale, por favor”. E eu, que redigi o resto, protestei, “Melhor você, que é sobrinho dele”. Evandro parou de ler, indignado. “Lá vêm vocês, de novo, botar defeito no meu discurso”. “Não é isso, Ministro. Mas vai ter que escolher entre conúbio e contubérnio. Os dois, juntos, pode não”. “Mas a frase está pedindo esse reforço (repetiu, gesticulando, como se estivesse num júri). Acho que vocês nunca vão ser advogados de verdade. Que, para isso, precisam sentir gosto de sangue na boca”. Depois, mais calmo, riscou o conúbio. Collor acabou cassado. E vem à memória o último parágrafo de nossas alegações finais.

– No meio deste processo que abalou a Nação foi descoberto, no sótão obscuro da vida privada do denunciado, o seu verdadeiro retrato. Era Dorian Gray. A personalidade do jovem esbelto e formoso, de olhar altivo e gestos imponentes, apareceu na tela, pintada no seu lado moral, a horrenda figura da corrupção, do vício e da fraude. Todos puderam ver que a personagem pública era uma burla e o retrato escondido, a realidade.

2. Afetiva. Das lembranças que me voltam agora, curiosamente, nenhuma é maior que o som da frase “o pai ou o filho?”, que durante tantos anos ouvi no escritório. Em resposta à invariável pergunta, feita à telefonista, “Dr. José Paulo está?” Como meu pai já se foi, em uma clara manhã de setembro, sempre imaginei que, com ele, morreria também o som daquela pergunta singela ‒ e desde então lamentei, secretamente, não mais poder ouvir aquelas palavras. Ocorre que passou o tempo e presenciei a mesma telefonista repetindo a mesma frase – “o pai ou o filho”. Só então me dando conta de que ocupo, agora, o papel que um dia foi de meu pai. Tendo, no outro papel, meu filho José Paulo. Ouvir essa frase foi quase compreender o sentido da permanência, o curso natural do destino, e que a vida “vale a pena de viver e a dor de amar” ‒ palavras de Carlos Pena Filho (A Solidão e sua Porta). Se o destino conceder virá, depois, meu neto José Paulo. Até que, um dia, outra telefonista perguntará a outros amigos e clientes, “o pai ou filho?”. Com meu filho, então, em meu lugar. Depois, meu neto. E la nave va.