RODRIGO CONSTANTINO

A QUEDA DE CUOMO

Andrew Cuomo anunciou que vai renunciar ao governo de Nova York nos próximos dias. Ele fez um discurso alegando que o importante era o povo, o “nós”, não o “eu”, e por isso, pensando na população do Estado, o melhor que ele tinha a fazer era sair agora. Praticamente um altruísta abnegado! Faltou só lembrar que, após o relatório concluindo contra o governador em vários casos de abuso sexual, seu impeachment era inevitável.

Além da hipocrisia de Cuomo, o caso chama a atenção pelas supostas prioridades dos democratas. Como disse Ben Shapiro, a ocultação de estatísticas sobre asilos por parte do seu governo foi um ato criminoso e pode ter sido responsável pela morte desnecessária de inúmeros idosos. Por mais ofensiva que seja uma cantada indevida em local de trabalho, como isso se compara a uma monstruosidade dessas? De um lado temos mulheres ofendidas, do outro velhinhos mortos! Cuomo caiu oficialmente em desgraça perante seu próprio partido pela conduta inapropriada com mulheres, não pela gestão temerária e mesmo assassina durante a pandemia.

Cuomo se tornou uma figura inconveniente para o Partido Democrata, eis a verdade. Nova York teve números horríveis na pandemia, o desemprego subiu bem, tudo isso enquanto a mídia enaltecia a administração “científica” do governador. Em vez de admitir que tudo foi um engodo, o que forçaria uma revisão das táticas de combate ao vírus, seus pares preferiram um “pretexto” para derrubá-lo. Até porque com a variante Delta querem retomar as restrições, que não se mostraram eficazes.

Não que o feminismo não esteja cada vez mais forte entre os democratas, mas certamente qualquer pessoa sensata e com senso de proporção saberia que a gestão irresponsável foi muito mais grave do que flertes inadequados ou mesmo investidas sexuais absurdas. Cuomo nega as acusações, aliás, mas pede desculpas às mulheres que se “sentiram” ofendidas. Haja malabarismo!

No fundo, se Cuomo não renunciasse ao cargo, ele sofreria impeachment, e aí ficaria afastado para sempre do governo. Renunciando, ele pode alegar que fez isso para se defender das acusações “infundadas”, pensando no melhor para o povo, e tentar retornar em quatro anos. Na imprensa, aliás, já tem gente falando dessa possibilidade de volta, antes mesmo de ele sair!

Em sua fala, Cuomo tentou defender seu “legado”, afirmando que ajudou a transformar Nova York no Estado mais “progressista” da nação. Ele mencionou “conquistas” para o público LGBT, deixando de lado um dos maiores êxodos populacionais da história do Estado. A Flórida, sob governo republicano, foi um dos principais receptores desse fluxo, que abandonou Nova York basicamente pelos impostos cada vez mais abusivos. Idosos mortos e fuga generalizada: eis o legado real de Cuomo!

A advogada particular de Cuomo, dias antes do anúncio da renúncia, estava em cadeia nacional de televisão detonando cada testemunha contra o governador, colocando em xeque sua credibilidade, negando as denúncias. Cuomo cedeu, portanto, por puro cálculo político. Ele percebeu que lhe restaram poucos amigos, inclusive entre os democratas. O presidente Joe Biden mesmo chegou a pedir a renúncia. E, depois do ato consumado, Biden disse “respeitar” sua decisão, tecendo elogios ao governador. O elogio veio após se livrar do fardo, claro. “Ele fez um grande trabalho”, afirmou Biden.

Cuomo sabia ser um pária no partido, e não apenas pelas denúncias sexuais, mas também e principalmente pelo fracasso na gestão pandêmica. Os democratas estão tentando fazer uma limonada do limão, e se vangloriando de manter um padrão moral rigoroso mesmo contra os seus. Tudo mentira! Aliás, um parêntese: como é comum o comportamento imoral por parte desses democratas materialistas! E, não custa lembrar que, até na ficção do House of Cards, o principal personagem, indecente e imoral, era um democrata. A arte imita a vida. Fecho o parêntese.

Não se trata de um caso de rigor ético democrata, e sim de uma exposição desgastante de um governador já queimado. Antes, na corrida das primárias, quando nenhum nome parecia vingar para tirar o comunista Bernie Sanders da disputa, Cuomo era uma alternativa considerada. Ele só é jogado aos leões agora porque se tornou supérfluo, descartável. Ora, Bill Clinton é até hoje respeitado dentro do partido, sua esposa, Hillary, contou com amplo apoio do establishment, e todos lembram do comportamento sexual do ex-presidente com as mulheres, a mais famosa sendo a estagiária Monica Lewinsky.

Mas não faltaram formadores de opinião na mídia comparando o mecanismo “ético” dos democratas com a postura “negligente” dos republicanos, que nunca teriam se importado com o comportamento sexual de Trump. Tudo isso esquecendo que até “ontem” Cuomo era o queridinho da mesma mídia, pois ainda tinha a perspectiva de disputar a Presidência. Os elogios eram frequentes: grande líder nacional, honesto, direto, corajoso etc. Moral conveniente, essa.

Por fim, resta apontar para a relação incestuosa entre o governo e a imprensa. O irmão de Andrew é Chris Cuomo, âncora da CNN. Foram vários os momentos em que irmão entrevistou irmão, inclusive com toques familiares, com direito a “brincadeiras” sobre qual era o preferido da “mamãe”. Que tipo de cobertura imparcial pode surgir disso? Para piorar, há alegações de que Chris estava auxiliando o irmão na gestão da crise política. Assessoria informal de imprensa? Essa promiscuidade não é incomum: são vários os jornalistas com parentesco e ligações pessoais com políticos democratas. Alguém fica surpreso com o enorme viés partidário da mídia?

Andrew Cuomo caiu, mas a hipocrisia democrata segue firme e forte — e com a complacência de boa parte da imprensa.

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

LIÇÕES DE PAI E OUTRAS NOTAS AFINS

1. Na capital pernambucana, Teatro Santa Isabel, certa feita exibiu-se uma companhia de revista que exibia um espetáculo musical chamado Les Girls, onde todos os seus integrantes eram travestis belíssimos, de corpos fascinantes. Como éramos, à época, menores de 18 anos, ficamos impossibilitados de assistir. Mas logo uma ideia brotou em nossas cabeças presepeiras: assistir, após o espetáculo, a saída das “meninas” do teatro. O que foi feito, ensejando comentários no café da manhã da família do dia seguinte, na presença de nosso pai. E o comentário dele até hoje ressoa em nossa memória: “Aprendam que, na natureza humana, existem todas as cores. E todas elas merecem nosso respeito, posto que são originárias da Criação. Respeitem para serem respeitados.”

2. Recentemente, diante das agressões homofóbicas acontecidas nos quatro cantos do mundo, procurei me inteirar mais consistentemente sobre o assunto, até para tratar com afeto e carinho os diversos parentes que possuem uma afetividades diferenciada da minha, alguns deles já convivendo com seus companheiros(as) há bastante tempo, dois deles com adoções já devidamente resolvidas pelas instâncias judiciárias.

Consultando um amigo médico, hétero radical, integrante da AMEMG – Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, dele recebi a orientação de ler textos especializados no assunto. E a primeira indicação foi um trabalho consistente, amplamente reconhecido por todo o país: Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal, Andrei Moreira, Belo Horizonte MG, Editora AME, 2012, 414 p. Um livro dedicado “a todas as pessoas homossexuais que lutam por compreender sua experiência evolutiva atual e fazer dela um caminho de auto-encontro, responsabilização pessoal, amorosidades e crescimento espiritual em busca da felicidade.” Com uma declaração do notável psiquiatra Carl Jung: “Nunca pergunte o que uma pessoa faz, mas como o faz. Se o faz por amor, ou seguindo o os princípios do amor, está servindo a algum deus. E não cabe a nós estabelecer quaisquer julgamentos, por se tratar de algo nobre.”

A segunda indicação foi a de outro livro espírita também de bom calibre técnico: Homossexualidade, reencarnação e vida mental, Walter Barcelos, Votuporanga SP, Editora Espírita Pierre-Paul Didier, 2005, 238 p. Páginas que apresentam análises feitas pelo Allan Kardec, André Luiz e Emmanuel sobre as inclinações sexuais das criaturas, no corpo e fora dele, suas exigências morais de responsabilidade e amor.

3. O meu amado pai era um católico conservador, nunca reacionário, de mente sempre antenada para os amanhãs que se configuravam ao longo dos caminhos de todos. Admirava muitíssimo o amado Dom Hélder Câmara, embora sempre não tivesse vontade de integrar o corpo progressista militante do arcebispo, posto que se achava muito distanciado dos últimos documentos religiosos. Um dia, entretanto, ele nos disse: “Tenham sempre certeza disto: “O uso de bens da Terra é um direito de todos os homens! Esse direito é consequente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo”. (O Livro dos Espíritos, 711). E ele não era espírita. O livro era do meu avô Severiano, pai de minha mãe.

4. Certa feita, numa reunião familiar, se comentava algumas falcatruas cometidas no Serviço Público Federal. Meu pai, que era muito sensato, disse para os dois filhos menores presentes: – A vê-los ladrão, eu prefiro vê-los mortos. E a lição foi sempre entendida e seguida. Infeliz de uma família que tem parentes próximos envolvidos em operações financeiras que desonram histórias e caminhadas.

5. Uma outra lição de pai, uma das últimas, já perto de eternizar-se: – Os judeus nunca foram culpados da morte de Jesus Cristo. Quem o crucificou foi a dominação romana que à época imperava.

Um grande pai, o Antônio Carolino, 1,60 m, sempre sereno, mariano fervoroso, apaixonado pela sua Maria Luiza, mãe do Zé Carlos e minha. Que comemorou, no último dia 13 deste mês, 103 anos, lá na Mansão do Pai.

PENINHA - DICA MUSICAL

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

DULCE – Castro Alves

Se houvesse ainda talismã bendito
que desse ao pântano – a corrente pura,
musgo – ao rochedo, festa – à sepultura,
das águias negras – harmonia ao grito…

Se alguém pudesse ao infeliz precito
dar lugar no banquete da ventura…
E trocar-lhe o velar da insônia escura
no poema dos beijos – infinito…

Certo… serias tu, donzela casta,
quem me tomasse em meio do Calvário
a cruz de angústia que o meu ser arrasta!…

Mas se tudo recusa-me o fadário,
na hora de expirar, ó Dulce, basta
morrer beijando a cruz de teu rosário!…

Antônio Frederico de Castro Alves, Bahia (1847-1871)

DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

VIOLANTE PIMENTAL – NATAL-RN

Boa tarde, Luiz Berto!

Segue o comprovante da doação.

Grande abraço.

R. Brigadíssimo, minha querida amiga e colunista fubânica.

Seu depósito já está na conta desta gazeta escrota.

Chupicleide já fez um vale de adiantamento de salário!

É hoje que essa inxirida vai encher a cara junto com Bosticler, o faxineiro da redação.

Grato também aos leitores Humberto e Emília Maria por suas generosas doações.

Vai voltar tudo em dobro pra vocês na forma de paz, saúde, tranquilidade e longa vida!!!

“Obrigada e um beijo para todos!!!”

DEU NO X

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

ARLINDO CHAGAS E O SÃO DOMINGOS

A poderosa equipe do São Domingos

Existem personalidades, tipos inesquecíveis, de uma cidade que deixam lembranças com suas histórias. Quem conheceu e desfrutou a amizade de Arlindo Chagas não esquecerá essa figura marcante de nossa cidade. Suas histórias certamente serão contadas por muitos anos, e pesquisadas como parte de nossos costumes na época de ouro dos anos 70.

Éramos frequentadores assíduos do Clube Fênix na Avenida da Paz. Aos domingos ficávamos em uma roda de uísque à beira da piscina ouvindo o conjunto “Sambrasa” do cantor Paulo Sá. As histórias irreverentes de Arlindo Chagas davam o sabor bem humorado à conversa.

Notívago, Arlindo iniciava seus trabalhos à tarde; dizia ter melhor poder de convencimento quando os outros já estavam cansados. Era excelente ousado negociador. Não vendia qualquer produto, acreditava em seus argumentos. Passou parte da vida como publicitário na Gazeta de Alagoas, benquisto por todos. Em seu enterro fiquei ao lado do seu amigo, triste, o presidente Fernando Collor. Em todos os lugares, nas rodas de papo de botequim, shopping, alguém conta alguma história de Arlindo Chagas. Deixou seu nome nos anais, na memória da cidade.

Arlindo Chagas além de publicitário era um esportista, gostava de futebol, acompanhou a construção do Estádio Rei Pelé que foi inaugurado pelo governador Lamenha Filho, com uma série de jogos maravilhosos, no ano da copa 1970. O estádio vivia lotado até com a disputa do campeonato local, a luta tradicional entre CRB x CSA.

Um grupo de esportista, incluindo Arlindo Chagas, resolveu investir no Clube de Futebol São Domingos para acabar com a hegemonia de CRB e CSA. O São Domingos tornou-se um time competitivo, com bons jogadores: Gabriel, China, Beijoca. Disputava na cabeça, pau-a-pau, com os dois times tradicionais, era a terceira força do futebol alagoano. Se o jogo era SÃO DOMINGOS x CSA, os regatianos torciam pelo São Domingos. No jogo SÃO DOMINGOS X CRB, os azulinos torciam pelo DOMINGÃO.

Certa vez o SÃO DOMINGOS foi jogar em Aracaju um amistoso contra o CONFIANÇA, campeão estadual. O time viajou num ônibus velho, enquanto dois carros de luxo levaram a diretoria: Miguel Spinelli, Severino Rabelo, Walter Mendes , Arlindo Chagas e o jornalista Bernardino Souto Maior. Domingo à tarde o estádio estava cheio, jogo da entrega de faixas ao campeão, o CONFIANÇA. Os torcedores sergipanos preparados para a grande festa esportiva davam como certa a vitória do CONFIANÇA. O SÃO DOMINGOS mostrou um bom futebol e ganhou de 2 x 0 acabando com a festa sergipana.

Os alagoanos fizeram um carnaval no vestiário já pensando em uma noitada na simpática na zona de Aracaju. Nesse momento entra um radialista do programa mais ouvido da região, fez algumas entrevistas com aquelas respostas previsíveis de jogadores. Entrevistou também Arlindo Chagas. O dirigente alagoano com sua pose de vencedor, não teve dúvida, nem freio na língua:

“O SÃO DOMINGOS É HOJE O MELHOR TIME DO NORDESTE BRASILEIRO. VENCEMOS PORQUE SOMOS BONS. AQUI EM SERGIPE NÃO TEM UM TIME QUE SE COMPARE COM O SÃO DOMINGOS. PODE JUNTAR TODOS OS TIMES, FAÇAM A SELEÇÃO SERGIPANA QUE AINDA DOU DOIS GOLS DE LAMBUJA E SÓ VALE GOL DO GABRIEL!!!!”

O pronunciamento debochado de Arlindo feriu o brilho dos sergipanos. Durante a saída, os jogadores receberam uma calorosa vaia do povo revoltado com a irreverência irritante, provocadora, de Arlindo.

Os atletas estavam prontos para um passeio na zona, quando se deu um imprevisto. Os dirigentes do SERGIPE, feridos com as declarações da diretoria alagoana, desafiavam o SÃO DOMINGOS para um jogo na quarta-feira. Miguel Spinelli, o presidente, ouviu a proposta, não aceitou; teria que voltar no outro dia. Eles insistiram, estavam magoados. Spinelli nesse momento chamou Arlindo, deu-lhe carta branca: “Você que fez a confusão, resolva o problema”.

Arlindo nunca foi de amolecer, aceitou e marcou outro jogo na quarta-feira, com a renda para o vencedor. Spinelli quase tem um infarto, mas segurou a decisão do dirigente. Reuniram os jogadores, esclareceram os detalhes do outro jogo. Liberaram os jogadores para farrear na zona durante uma noite. Concentração a partir de segunda-feira no hotel, com treino na praia.

Os jornais de Sergipe noticiaram com alarde o “Jogo da Vingança”, para atrair público. Foram dois dias de expectativa. Na quarta-feira o estádio estava superlotado. Torcedores do CONFIANÇA, do SERGIPE, de todos os times, com bandeiras incentivando, a honra sergipana estava no gramado.

O SÃO DOMINGOS era bom em qualquer lugar, jogadores experientes, cheios de malícias. Como foi prometido, a metade da renda seria dos jogadores. Eles deram tudo pensando na grana. Resultado: 1 x 0 para o DOMINGÃO.

Ao ser entrevistado Arlindo fez tanta gozação e irreverência, que os outros dirigentes, com receio, pediram para ele calar. Dessa vez o ônibus foi apedrejado. No hotel, a renda foi dividida entre os jogadores. O que restou ao clube foi gasto com despesas e uma farra homérica na zona de Aracaju.

Os sergipanos não se conformaram, pediram outra revanche. Nessa altura, os familiares da delegação, só sabiam notícias através de jornais, o telefone era péssimo naquela época. E para o cúmulo do deboche, Arlindo Chagas acertou outra partida no domingo contra o CONFIANÇA. Dessa vez não puderam segurar os jogadores que se concentraram, dormiram dois dias na zona.

Afinal o domingo, depois de dois dias hospedados nos cabarés, os jogadores do SÃO DOMINGOS ainda fizeram o impossível, com um pouco de sorte, conseguiram empatar o jogo 1 x 1 aos 46 minutos do segundo tempo.

Foi assim que o futebol alagoano teve uma semana de glória nos gramados e na zona de Aracaju, graças à capacidade de negociação e a ousadia e irreverência de nosso inesquecível, Arlindo Chagas.