JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

DÉJÀ VU EM GOZO

Só depois descobri que a visão
D’uma casa estranha, mas bonita
Com reboco e pintura esquisita
Há milênios é lar d’uma paixão.
Muito embora eu visse só um vão
Eu senti ser a parte d’um castelo
Que no orgasmo, no sonho paralelo
Visitei sobre ti, também gozando,
No momento que estava relembrando
Um instante estranho, porém belo.

Um baú, nossas roupas espalhadas
Sobre a pele, por tapete, lá no chão,
Duas piras acesas, um brasão
E uns quadros nas paredes rebocadas.
Outras coisas eu vi organizadas
Nesse mundo perdido, mas lembrado
Que eu trago em mim bem avivado
Cada vez que gozamos no presente
Um amor milenar tão envolvente
Nas visões que eu tenho do passado.

A foto que ilustra esta publicação foi criada por IA.

DEU NO X

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

ATÉ TU MADURO?

A Venezuela, antes do Chavismo, tinha uma economia sustentável apoiada na exploração de Petróleo. A década de 1970, talvez tenha sido o melhor período para o país, dado os bons indicadores econômicos que geraram prosperidade e qualidade de vida. Nesse período, a Venezuela teve o maior PIB da América Latina, havia relevantes projetos de infraestrutura e, teve início a implantação de programas sociais. O país registrava uma taxa de consumo de bens duráveis elevada, fato que dinamizava a economia, programas sociais foram implementados, e experimentou um aumento substancial no turismo internacional. O hoje comentarista de futebol, Neto, jogou uma temporada na Venezuela.

Entre 1980 e 1990, o país entrou na crise do empobrecimento. A crise do petróleo de 1973, produziu efeitos tardios na Venezuela e uma terrível combinação de má gestão, corrupção, dívida externa crescente (qualquer semelhança com o Brasil pode não ser mera coincidência), gerou uma crise fiscal intensa que se refletiu em inflação alta e desemprego, fato que contraria, por exemplo, a chamada curva de Phillips na Economia que sugere uma relação contrária entre inflação e desemprego. Para se ter ideia, já no início dos anos 1990 quase 60% da população vivia abaixo da linha da pobreza. Obviamente, pobreza gera reação popular, violência e afins.

A reserva construída nos anos 1970, acabou não sendo suficiente para superar os problemas e o país entrou num processo de degradação acelerado com infraestrutura precária, saúde pública ineficiente com limitações graves para atender demandas por serviços de saúde, falta de equipamentos hospitalares e falta de medicamentos. Registrou-se, também, altos índices de evasão escolar, notadamente no ensino médio, porque, naturalmente, a opção era buscar alguma atividade remuneratória, não falo nem emprego porque isso era complicado.

Com tudo isso, instala-se uma crise institucional porque a confiança nas instituições políticas caiu diante de tantos, e sucessivos, escândalos de corrupção. Politicamente, o bipartidarismo entre os partidos Ação Democrática (AD) e COPEI já sinalizava esgotamento e isso foi um tapete estendido para o discurso, ou narrativa como queira, de Hugo Chávez.

A relação entre Brasil e Venezuela, para além das transações comerciais, foi bastante intensa, principalmente após a chegada de Lula ao poder. Ao longo da primeira década desse século, que coincide com o governo petista, essa relação passou a ser “parede e meia” como se diz no interior do Nordeste. Incontestavelmente, a Venezuela era um dos grandes parceiros comerciais do Brasil na América do Sul. Mas, se em termos de divisas, esse vínculo ficou meio enfraquecido pela conjuntura econômica, política e humanitária venezuelana, em termos políticos não foi bem assim. O Brasil, com Lula na presidência, apoiou inquestionavelmente as eleições fantasiosas de Hugo Chávez, esteve lá várias vezes para dar sustentação a isso e foi com a Venezuela que foi acordada a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Suape-PE, fruto de um dos maiores escândalos de corrupção do mundo. Um projeto de US$ 2,1 bilhões, terminou em US$ 19 bilhões e a refinaria não foi concluída.

A decisão de Maduro de taxar produtos brasileiros com taxas que variam de 15% a 77%, vai afetar setores como alimentos (como carnes bovina e de frango, arroz, leite em pó, açúcar), medicamentos e produtos químicos, além de máquinas, tratores, equipamentos agrícolas, autopeças, calçados e têxteis. Durante o período de maior aproximação política entre os governos de Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva, o comércio bilateral ultrapassou US$ 5 bilhões por ano.

No início da segunda década desse século, Brasil entrou numa derrocada econômica intensa, além de viver uma crise política que culminou com o impeachment de Dilma. Não foi diferente na Venezuela. A morte de Chávez e a assunção de Maduro com interesse nítido de se perpetuar no cargo, levou à Venezuela a este retrato degradante que é hoje. Isso piorou com o rompimento diplomático do governo Bolsonaro e, para o Brasil, os setores acima citados foram, ainda mais, impactados.

De fato, houve perda de mercado, inadimplência nos pagamentos e interrupções, não apenas suspensões, logísticas. Apesar disso, a construção civil não reclamou muito porque a Odebrecht realizou muitas obras de infraestrutura na Venezuela, destacando-se: o metrô de Caracas, o sistema ferroviário Los Teques e outras intervenções urbanas, mas o detalhe é que tais investimentos foram financiados com recursos do BNDES, ou seja, algo da ordem de US$ 1 bilhão, foi repassado pelo BNDES para tais construções na Venezuela. Os recursos do BNDES decorrem do lucro das suas operações e a utilização de recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Cabe lembrar que no que concerne à matriz de importação brasileira com a Venezuela, destacavam-se os principais produtos envolviam petróleo bruto e derivados (como gasolina e diesel) e insumos petroquímicos (resinas, plásticos). A partir de 2016, estas importações praticamente zeraram tanto devido a queda de produção da Venezuela quanto por sanções econômicas impostas por diversos países ao regime de Maduro.

O Brasil precisa buscar alternativas para seus produtos, posto que, em linhas gerais se trata de produtos prioritários que podem ser comercializados em outros mercados. Mas, não deixa de ser surpreendente a atitude Maduro. Isso pode ser retaliação ao posicionamento de Lula em não reconhecer sua eleição fraudulenta. Demorou muito para ser isso, mas quem sabe? Também pode ser que maduro esteja querendo agradar Trump.

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

DEU NO X

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

DEU NO JORNAL

ALTO NÍVEL

A comitiva de senadores brasileiros chega a Washington, nesta segunda-feira (28), faltando apenas quatro dias para entrar em vigor o tarifaço de 50% de produtos brasileiros nos Estados Unidos, e a visita pode virar um bate-volta constrangedor.

Até pela presença de senadores petistas, ligados a Lula.

A chegada ocorre 19 dias depois da carta de Donald Trump.

Em vez de negociar, como China, Japão e toda a União Européia, Lula (PT) quis tentar proveito político eleitoral.

O experiente ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa recomendou uma “comissão de alto nível” para negociar o tarifaço.

O problema é que um grupo de senadores não pode ser considerada propriamente uma comitiva de alto nível, necessária nessas ocasiões.

* * *

É só medir o tamanho de cada componente do grupo.

Senadores com mais de 1,80 m podem perfeitamente ser enquadrados como de “alto nível”.

Os senadores petistas, com apenas 1,13 m, não se enquadram no padrão.

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

UMA COISA É UMA COISA – E, OUTRA COISA, É OUTRA COISA

Beiju feito com a “goma” retirada da massa da mandioca

Cada coisa no seu devido lugar.

Quem bebe água do pote na caneca, não tira a água com a caneca usada para beber. Tira com outra caneca, ou com uma concha feita de uma das bandas do coco – e, depois, recoloca tudo nos devidos lugares. É assim que começa a lida de uma coisa ser uma coisa, e outra coisa ser outra coisa.

Como dizia Vovó: “na terra dos sapos, de cócoras com eles”.

Na Queimadas, a cada fim de dia da farinhada, com ordem explícita do patrão dono de tudo que está sendo feito, o Encarregado pela torração da farinha inicia o procedimento: limpa os tijolos do forno com uma vassoura, e prepara a massa para a feitura de cinco ou seis beijus. Prontos os beijus, cada um é entregue aos beneficiados que lideram as famílias envolvidas na farinhada.

O catitu que cevou a mandioca, cevou também o coco que será acrescentado ao beiju. Uma antiga tradição, pois ninguém consegue explicar o sabor que o coco dá ao beiju.

Terminada a tarefa de assar os beijus, o forno é coberto para evitar que gatos tentem aproveitar a quentura dos tijolos para passar a noite com suas artimanhas sexuais ou necessidades fisiológicas: cagar ou mijar.

Tudo recomeça na manhã do dia seguinte: o responsável arruma a lenha e toca fogo para aquecer o forno para continuar torrando a farinha.

Tapioca caseira, também feita com a goma extraída da mandioca

Muito distante das Queimadas, o usufruto da farinhada percorre vários lares nas cidades grandes.

O café da manhã é servido. Pães, bolachas, frutas adequadas para a hora – mas, eis que alguém que ainda continua ligado ao sertão, “inventa” de preferir o que chama de tapioca.

Diferente do beiju sertanejo dos fins de dias da farinhada, a tapioca é menor. Feita com pouca goma, e sem o coco – mas também pode ser adicionado – que outros que preferiam os pães e/ou bolachas certamente vão aderir. Provar e aprovar.

Em vez do forno de tijolos aquecidos pela lenha, a frigideira, também utilizada para outras tarefas da cozinha. A goma molhada e às vezes peneirada faz a tapioca. Há quem acrescente manteiga ou margarina, da mesma forma que há aqueles que preferem sem esses ingredientes.

Essa é a tapioca. Diferente do beiju. E é aqui que começa a diferença de, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

Tapioca “recheada” servida nas cidades grandes

Criativas, algumas pessoas procuram sair da mesmice diária do consumo. Tentam mudar o foco, e até conseguem. Mas, felizmente, não conseguem mudar o sabor original. Tapioca será sempre tapioca, por mais ingredientes que sejam acrescentados.

Há até quem adicione algo doce – mas, aí, deixa de ser parte adicional do café da manhã, e passa a ser peça importante nos lanches.

Repetimos: uma coisa é uma coisa, e outra coisa é (e será sempre) outra coisa.

Aruá em desova em local apropriado

Voltamos à Queimadas. Anos antes do aproveitamento da área para reconstrução do Açude Novo, um pequeno lago servia de alimento para as batatas doces semeadas ao seu derredor. As raras chuvas aumentavam o diâmetro da área, alagando-a. E era ali que os aruás se deleitavam em vida e escolhiam para a reprodução.

Quem já viu a fome precedente da morte de perto, e sem fantasia carnavalesca ou literária, vai conseguir identificar o que, agora, tento descrever: “a gente procura o que comer, e come o que encontra”.

Quando íamos apanhar batatas doces para o café da manhã e para completar o dicumê do meio-dia, catávamos e apanhávamos, também, um bornal de aruás. Ovados ou não. Aprendemos a preservar, não bulindo jamais com os ovos postos nos galhos ressequidos das pequenas árvores. Seria a comida, no futuro.

Escargot da culinária francesa

Banha suína era coisa rara. Óleo de soja, milho ou outro qualquer, ainda não existia. Vovó recorria ao sebo bovino, retirado como excesso na carne e salgado separadamente. Aquele sebo era derretido, virando o adicional das frituras. Nenhum tempero – quando muito, o colorau feito a partir do urucu.

A farofa de aruá, por vezes (muitas) enfeitou o dicumê na casa dos Buretama.

Longe algumas horas da Queimadas, Paris. A Torre Eiffel.

Próximo dali, mas com vista privilegiada, a Brasserie Lipp serve aos endinheirados turistas, o “escargot”.

Para os cearenses que viram a fome sem desenhos estilosos, o aruá.

Mas, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

DEU NO X

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

ODE A UMA SECRETÁRIA

Afim de me proteger
Na Sé, comprei uma imagem,
Num cantinho da bagagem
Guardei, depois de benzer.
Também não pude esquecer
De pôr na minha maleta
Um papel, uma caneta
Pra compor nossa canção,
Mas deixei meu coração
Preso na tua gaveta.

Há mais duma explicação
Para o que houve entre nós:
Primeira: foi tua voz
Que tocou meu coração;
Segunda: foi a visão
Mais bela deste Planeta.
Teu sorriso é a “proveta”
Pela qual eu renasci,
Mas devolva o que esqueci
Dentro da tua gaveta!