CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

DANÇA COM LOBOS (1990) – UMA OBRA-PRIMA DE AVENTURA OESTEANA

Dances with Wolves foi uma surpresa quando foi lançado em 1990 nos cinemas americanos. Ninguém esperava não só o sucesso de crítica, mas, principalmente, o sucesso de público que o primeiro filme dirigido por Kevin Costner alcançou, especialmente em se tratando de um épico de três horas em sua versão original, que ganhou quase uma hora a mais em sua versão estendida, lançada um ano depois.

O filme, que marca a estreia de Costner na direção, foi produzido por ele e Jim Wilson. A trilha sonora é de John Barry, a direção de fotografia de Dean Semler, o desenho de produção de Jeffrey Beecroft, a direção de arte de William Ladd Skinner, o figurino de Elsa Zamparelli e a montagem de William Hoy, Chip Masamitsu, Steve Potter e Neil Travis.

O filme conta a história de John Dunbar (Costner), um oficial de cavalaria que se destaca como herói na Guerra Civil Americana e, por isto, recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele escolhe um posto longínquo e solitário, na fronteira. Ali estabelece amizade com um grupo de índios Sioux – Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços com o exército estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o adota.

“Dança com Lobos” novamente abre as portas para o gênero em Hollywood e mostra que ainda temos muitas coisas para falar a respeito de um tema tão consagrado e cultuado nas décadas passadas. O longa ficou marcado como o responsável pela renovação dos westerns americanos e marcou o início do faroeste moderno nos cinemas. Aqui temos uma aventura épica, um drama envolvente, um romance singelo e um humor leve e passivo. Kevin Costner traz simplesmente o melhor e mais notável trabalho de toda a sua carreira, com uma direção magistral, com muita segurança em cada cena, com uma narrativa muito bem amarrada onde era mesclado momentos de tranquilidade e tensão.

O roteiro de “Dança com Lobos” é incrivelmente perfeito e feito com uma coesão incrível. Pois temos o início da história do tenente John Dunbar, que se inicia durante a Guerra Civil americana (por volta da década de 1860) em uma luta travada pelo fim da escravidão. Somos confrontados com um personagem que sofre com traumas pelos horrores da guerra, que é totalmente perturbado, que já tentou suicídio, mas que ao partir para um local para viver sozinho, ele vai se reencontrando, se desenvolvendo, se achando, sua vida vai tomando um outro rumo e uma outra forma. Temos aqui um verdadeiro estudo do ser humano e suas culturas – como o desenvolvimento e a construção do respeito, do reconhecimento, dos ensinamentos, da admiração, da confiança. Também temos o choque e o confronto de cultura entre o homem branco americano e os índios Sioux, que aparentemente poderia difundir a sua cultura entre os índios, mas somos confrontados com uma assimilação dos costumes dos nativos, acontecendo uma verdadeira aculturação às avessas.

O filme foi indicado a 12 Oscars no Oscar de 1991 e ganhou sete, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor para Costner, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Mixagem de Som. O filme também ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme – Drama. O longa de Costner ainda integra a seleta lista dos únicos três westerns a ganhar o Oscar de Melhor Filme na história, sendo acompanhado por “Cimarron” (1931) e “Os Imperdoáveis” (1992).

“Dança com Lobos” é um marco na indústria hollywoodiana, é muito importante para um fator social, por praticamente ter assumido a culpa de ter dizimado uma cultura inteira (a cultura indígena). Após 32 anos de lançamento, o longa não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem, o tempo fez muito bem para à obra. Além, é claro, o filme é creditado como uma das principais influências para a revitalização do gênero de cinema ocidental em Hollywood.

Dança com Lobos – Trailer Oficial (LEGENDADO)

Dança com Lobos: O filme que Revolucionou o Faroeste (Análise)

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WARLOCK (1959) – MINHA VONTADE É LEI

Faroeste estrelado pelo brilhante ator Henry Fonda, no papel do pistoleiro Clay Blaisedell, Antony Quinn, no papel do pistoleiro (Tom Morgan) e Richard Widmark.

A vila de Warlock, onde se passa a história, tem um recorrente problema com um perigoso bando sediado no Rancho San Pablo, que constantemente saqueia a cidade e segue matando ou expulsando os Xerifes dali. Uma reunião do Conselho local decide então contratar um experiente e famoso pistoleiro (personagem vivido de maneira brilhante por Henry Fonda) para agir como Xerife, embora isso não seja lá uma atitude oficial/legal, mas uma medida desesperada dos cidadãos. Esse contratado salvador impõe uma série de regras aos cidadãos, entre elas, a presença de seu inseparável amigo (personagem também vivido de maneira brilhante por Anthony Quinn) e ambos irão iniciar sua trajetória de “colocar a cidade nos eixos”.

O diretor Edward Dmytryk faz um bom uso de sua larga experiência dramática para conduzir o soberbo elenco do filme, grupo que merece todos os elogios possíveis. Se a mesma direção perde a mão na condução das subtramas amorosas (a verdadeira pedra no sapato do filme) e não consegue juntar bem as muitas subtramas na parte final da fita (abrindo aí também um problema de ritmo pela montagem), é na direção de atores e na condução de cenas mais densas, com diálogos inteligentes e cheios de significado que o cineasta consegue as suas maiores conquistas. Aliado ao excelente trabalho do fotógrafo Joseph MacDonald com o CinemaScope, o diretor ainda consegue destaque na construção de belas cenas utilizando a paisagem, com destaque para a tentativa de roubo de uma diligência e um certo encontro romântico nos arredores da cidade.

Minha Vontade é Lei sai bastante do convencional, explorando questões psicológicas ou criando subtramas familiares e amorosas que ganham grande espaço no desenvolvimento da história, diminuindo consideravelmente os enfrentamentos, perseguições e fugas. A ação é majoritariamente centrada na cidade de Warlock e, à parte, os dilemas humanos desenvolvidos em distintos núcleos, levanta questões sobre o exercício do direito (enforcamento, linchamento e licença para matar ou estabelecer o controle frente aos cidadãos são temas discutidos) e questões sociopolíticas que jogam com os dilemas morais de cada grupo social àquela época.

Assim, vem à tona o caráter das mulheres e dos homens que elas amam; o desejo de um amigo para com o outro; a ânsia de ser herói, estar junto, morrer defendendo uma causa; ou a mudança de personagens dúbios ou foras-da-lei para o lado dos mocinhos. Estes são assuntos discutidos amplamente no filme. o que de certo modo o torna, como disseram alguns críticos à época de seu lançamento, “cerebral demais“.

A plácida direção de Dmytryk, assim como a trilha sonora muito bem marcada por peças épicas e outras mais sentimentais conseguem um bom resultado diante disso. Até a fotografia tem uma marca definitiva nesta seara, ao final da obra, quando ilumina com forte cor azul um saloon incendiado, contrastando aquela sequência à paleta de todo o restante da fita.

Existe uma aparência anticlimática vinda com a resolução da obra, mas este certamente é um final esperado para um filme que o tempo inteiro discute a aplicação da lei versus os desejos e gostos dos personagens. Quando lançado, o longa não chamou muita atenção, mas teve o seu reconhecimento a posteriori. Um faroeste diferente, intenso, inteligente. Uma obra que certamente conseguiu fugir dos clichês de seu gênero, por mérito dos seus dois personagens principal, principalmente o pistoleiro Clay Blaisedell, vivido por Henry Fonda.

Western Official Traile

Resenha

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DJANGO (1966) – OBRA-PRIMA DO GÊNERO SPAGHETTI WESTERN

Django e seu caixão fantasmagórico

A cena de abertura do epopeico faroeste do gênero spaghetti western, Django, é antológica: um lamaceiro escorregadio como cenário natural. A câmara focando um homem solitário, arrastando um caixão fantasmagórico pelo lamaçal caótico, acompanhado da antológica trilha sonora Django, composta pelo maestro argentino-italiano Luis Enríquez Bacalov, apropriada para o clima sinistro da história do filme.

O filme Django conta a história de um andarilho misterioso, arrastando sua poderosa metralhadora, disposto a vingar a morte de sua esposa, assassinada por uma gangue rival que agia na região fronteiriça do México. Para conseguir seu feito ele fez “acordo” com o chefe da gangue comandada pelo general Hugo Rodriguez, bandido histriônico, calculista, ambicioso, contra seu oponente, louco, o Major Jackson, da gangue rival e seus mais de quarenta facínoras, sanguinários, que aterrorizavam a fronteira do México.

É um dos melhores exemplos de filmes do gênero spaghetti western, com uma trilha sonora apropriada ao clima da história, duelos de armas e um anti-herói de poucas palavras, que arrasta um caixão mortífero. O visual magnífico do filme é devido ao trabalho do diretor de arte Carlo Simi, que já havia criado personagens e cenários para filmes anteriores do diretor Sergio Corbucci, como o “Minnesota Clay.”

Antes e depois da primeira cena antológica do confronto entre Django com a metralhadora e o mais de quarenta bandidos da gangue dos Camisas Vermelhas comandada pelo Major Jackson em frente ao Saloon do Nathaniel, ficou a impressão de que estávamos diante de mais um western lugar-comum, mas ante a competência do diretor Sergio Corbucci o que vemos é um filme com cenário de batalha expertise, épica, que até hoje fascina crítico e cinéfilo que o elogiam como uma obra-prima do spaghetti western.

Django é o primeiro, o único faroeste do western sphaghetti a conquistar público e críticas favoráveis. Projetou o ótimo ator Franco Nero ao panteão dos deuses do faroeste numa época em que o romantismo reinava no faroeste americano. Todos logo identificamos o primeiro e o melhor da franquia. Sim, o nome Django tornou-se uma franquia, pois existem muitas dezenas de filmes relacionados ao personagem famoso, talvez chegue perto de meia centena de filmes, todos com adjetivos diversos, títulos chamativos, mas nenhum chegou perto do original que permanece eterno, com a matriz intocada, sem nada que possa abalar a sua merecida fama.

No ponto de vista cinematográfico, o único filme que chegou quase a merecer comparação com a qualidade do original, foi o filme “Django Livre” do diretor Quentin Tarantino. A comparação que se faz é apenas pela qualidade do filme, seus valores cinematográficos, seu ótimo elenco, que contou acertadamente com a participação do “Django” original, Franco Nero, numa pequena atuação, mas uma grande e merecida homenagem prestada pelo cineasta Tarantino ao grande ator, criador do personagem cujo nome, até hoje impressiona os aficionados do gênero. O filme cria um clima místico e quase sobrenatural, quando o personagem aparece do nada arrastando um caixão, com uma aparição fantasmagórica deixando todos os telespectadores surpresos. O diretor Sergio Corbucci soube segurar com muita competência e profissionalismo essa atmosfera sombria.

Nada de parecido tinha sido visto antes nos filmes do gênero western, e a expectativa vai num crescendo para todos os personagens do vilarejo e muito importante, também para nós os expectadores do filme, pois o que vai ou poderá acontecer é uma incógnita.

Mas o diretor Sergio Corbucci mostrou que é um mestre, pois os fatos vão se sucedendo até que afinal o inesperado é revelado e com a sucessão dos acontecimentos, os vilões são enfrentados e como em todo bom filme de faroeste, o mocinho vence no final para satisfação de todos.

Ressalte-se ter sido lançado uma grande quantidade de filmes que levam o nome Django, com dezenas de atores que tentaram imitar o personagem-título do primeiro, mas nenhum deles possui a competência do filme e ator original. Não que não sejam bons atores, porque o personagem do primeiro é muito místico, sombrio, e o ator deu ao personagem principal uma áurea, um desempenho extraordinário que nenhum outro filme de faroeste conseguiu alcançá-lo.

Official Trailer – DJANGO (1966, Franco Nero, Sergio Corbucci, Loredana Nusciak)

Crítica RetrôDJANGO – 1966 | Crítica Retrô

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MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA

Cartaz de Mar Adentro, quando lançado em DVD

“Mas cá entre nós, eu acho que depois de morrermos não há nada. Tal como antes de nascermos. Nada.” Ramón Sampedro – personagem do ator Javier Bardem, no filme.

MAR ADENTRO (2004), narra a história do marinheiro, escritor e ativista espanhol, Ramón Sampedro, interpretado magistralmente no cinema pelo ator hispânico Javier Bardem, tendo Ramón ficado tetraplégico após um mergulho numa área rasa do amar e ter batido com a cabeça numa pedra. O filme mostra a luta incessante de Sampedro perante os Tribunais locais pelo direito de cometer suicídio assistido, contando com a ajuda dos amigos e da família, além de um advogado, que abraçou a causa gratuitamente.

Por causa da sua incapacidade física de não poder suicidar-se e morrer conforme seus desígnios, Ramón lutou na justiça durante vinte e cinco anos pelo direito de morrer com dignidade sem incriminar os amigos ou a família que viesse a auxiliá-lo no ato de tirar a própria vida, tomando cianeto de potássio.

Ramón Sampedro tornou público seu desejo de morrer no início de 1990, mas só oito anos depois foi que conseguiu um suicídio assistido, através da ajuda de uma amiga, que antes gravou um vídeo de sua morte que foi divulgado nas redes de tevês do país e do mundo e voltou a despertar na sociedade a importância do debate sobre a despenalização da morte assistida.

A associação espanhola “Direito a Morrer Dignamente” considera que, graças à sua luta e às suas reivindicações, Ramón Sampedro contribuiu para que, em 1995, fosse aprovada uma reforma no Código Penal que reduziu as condenações em caso de eutanásia ou de assistência ao suicídio.

Entre os temas mais difíceis que o cinema ou qualquer outra arte pode tentar retratar, a morte, mais especificamente a eutanásia ou a morte assistida, deve figurar entre os principais. A complexidade da questão, aliada à falta de representatividade entre grandes diretores e roteiristas faz com que sejam raras as películas que se dedicam a debater o assunto. Em 2016, a comédia romântica britânica Como Eu Era Antes de Você recebeu uma série de críticas e protestos por ter, na ótica de muitos, glamurizado a eutanásia e reduzido o debate sério a uma comédia leve e adolescente, que se resolvem em meio a piadas, sarcasmos e uma alta dose de humor. A diretora inglesa Thea Sharrock não teve competência para dirigir um tema sensível com catilogência.

Mar Adentro, anterior à comédia britânica, parece entender exatamente as críticas e se antecipar a todas elas. A história retrata a vida de Ramón Sampedro, o espanhol de meia idade que se tornou tetraplégico, deseja, conscientemente, a morte. Ramón, depois de mergulhar e bater a cabeça numa pedra no fundo do mar, vive numa cama na humilde residência em que mora com o pai, seu irmão José, a cunhada Manuela e o sobrinho Javier. A eutanásia na Espanha era proibida e Ramón precisa contar com a ajuda da advogada Júlia, que simpatiza com sua história, para tentar convencer a Corte espanhola a alterar a lei e atender ao seu pedido.

Todo o drama é escrito de maneira muito sóbria e humana. Não existe qualquer tentativa de se romantizar a questão ou criar heróis e vilões dentro da trama. Um ponto bem claro para evidenciar a preocupação do roteiro é o pouco tempo dedicado ao debate legal sobre a morte assistida em si. As cenas de tribunal são mínimas e os termos jurídicos, inexistentes.

O centro da trama é realmente o sentimento de Ramón e sua relação com a vida e as pessoas à sua volta. Nesse sentido, conforme as relações evoluem, entendemos melhor os dramas de Júlia e Rosa e porque elas se conectam tanto com o protagonista. Júlia sofre de uma doença degenerativa que coloca ela numa cadeira de rodas e a aterroriza quanto ao seu futuro. Ela se apega à Ramón e eles criam uma conexão forte e sensível. Já Rosa, tão machucada em relacionamentos amorosos, projeta em nele um homem ideal e que a dá forças para viver. Quando ela entende que para ele a maior demonstração de amor é ajudá-lo a morrer, ela se entrega e deixa de lutar contra a vontade dele, trazendo à história um final sensível e melancólico, mas nada romântico ou glamourizado.

Toda essa sensibilidade é positivamente ressaltada pelas ótimas atuações e pelo design de produção da obra. A preocupação de Amenábar em balancear a quantidade de tomadas internas e externas dá um alívio ao espectador e evita uma sensação claustrofóbica de acompanhar toda a história dentro do quarto onde Ramón vive. A composição de personagem por parte do ator Javier Bardem também merece destaque, desde as expressões faciais, a postura enrijecida, a respiração e a fala acelerada trazem verdade ao personagem, que através da maquiagem indicada ao Oscar daquele ano o transforma completamente.

Mar Adentro consegue emocionar e ao mesmo tempo trazer reflexões pertinentes sobre a morte assistida em caso extremo da vida, duas características que infelizmente nem sempre andam juntas. O filme é mais um ótimo trabalho do direto Alejandro Amenábar e do cinema espanhol que, merecido, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de volta à Espanha, que havia vencido pela última vez com Tudo Sobre Minha Mãe (1999), do espalhafatoso, mas talentoso cineasta, Pedro Almodóvar.

Trailer do Filme Mar Adentro

Cine Bioéticas – Mar Adentro

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LEONARDO DANTAS SILVA – HISTORIADOR DO CARNAVAL DE PERNAMBUCO

Leonardo Dantas Silva (1945-2023)

Encantou-se no sábado, dia 11.11.2023, o historiador e jornalista pernambucano Leonardo Dantas Silva, aos 77 anos. O pesquisador foi o primeiro presidente da Fundação de Cultura do Recife e, em 2022, foi eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Leonardo Dantas encantou-se no Hospital Unimed, localizado no bairro da Ilha do Leite, na área central do Recife, onde estava internado desde o dia 19 de outubro, e onde recebia tratamento de uma fibrose pulmonar.

Nascido no dia 10 de dezembro de 1945, Leonardo Dantas era um dos mais profundos conhecedores do carnaval pernambucano. Em 1969, ele se formou em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco.

O jornalista e historiador recifense Leonardo Dantas era conhecido como um dos maiores especialistas da história do carnaval pernambucano e do período do Brasil Holandês. Leonardo Dantas deixa um enorme legado de amor e reverência a Pernambuco e à sua Cultura. Uma luz que jamais deixará de brilhar.

Durante anos o Jornal da Besta Fubana acolheu uma coluna do jornalista e historiador, que sempre nos abrilhantava com um artigo semanal historiando sobre a história do carnaval pernambucano e o período holandês.

Sua obra é extensa sobre o carnaval e o período holandês no Brasil, indo desde “Bandeira de Pernambuco” (1972), com prefácio de Marcos Vinícios Villaça até “Arruando Pelo Recife” (2021), sem contar os milhares de artigos científicos publicados nos jornais e revistas especializadas de Pernambuco e do País.

Vai deixar saudades.

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O CABUETA

Cabuetas, imagem de arquivo

Há mais de quinze anos sem se ver, amigo de turma ginasial reconhece colega trabalhando na Uber, faz a maior festa, e o convida para fazer uma corrida: levá-lo até a residência do pai que ficava distante do bairro onde se encontrava trabalhando. Para encurtar caminho e chegar mais depressa em casa, uma vez que conhecia os atalhos, o colega pede para o amigo de ginásio seguir por outro caminho, que não era reconhecido pelo GPS, que chegava a casa com mais de meia hora adiantado.

Sujeito de princípios éticos e ilibados, o colega da Uber não estava disposto a ceder à proposta indecorosa do amigo de classe. Logo disse não, mas o amigo insistiu no sim, demonstrando mais uma vez as vantagens da corrida e o lucro que a Uber e o colega iam ter se seguisse sua orientação.

– Mas a Uber tem o direito de me suspender por estar quebrando uma cláusula de contrato se eu seguir sua orientação, amigo. O sistema acusa que eu estou burlando o trajeto para tirar vantagens. Sinto muito amigo mais eu vou seguir a direção correta, estabelecida pelo GPS, pois tenho família para sustentar e uma suspensão sai caro para mim, argumentou.

– Amigo, – insistiu o colega de turma mais uma vez, – vá por mim. A Uber não fiscaliza isso não e você não está burlando nada, apenas encurtando caminho, que é mais vantajoso para você e para a empresa.

Percebendo que o amigo não ia desistir mesmo, cedeu à tentação mesmo, e seguiu o rumo do caminho traçado pelo colega, mas a contra gosto.

Como a Uber não tinha como checar aquele caminho, pois não constava no sistema do GPS, o colega sacana, no outro dia ligou para a empresa, contou o ocorrido, dedurou o amigo e apelou para a empresa demiti-lo por estar sacaneando com ela.

No outro dia a empresa liga para o “uberista” dizendo que ele estava dispensado, pois ludibriou a empresa utilizando de artifícios ardis não previstos em contrato, ou senão teria de pagar uma multa por descumprimento de cláusulas de contrato.

Foi o que o amigo de ginásio fez, pagou a multa, com dinheiro emprestado pelo pai que lhe deu um puxão de orelha e aprendeu uma grande lição: nunca ceder a tentação fácil, pois ela é inimiga da honestidade.

No dia seguinte ao pagamento da multa e a liberação do carro, o “uberista” volta a circular com o carro. Cinicamente o colega da traição telefona perguntando se o “uberista” estava disponível para levá-lo ao trabalho.

– Eu? Estou sim. E você? Tem alguma corrida para mim?

Do outro lado da linha silêncio total.

Bezerra da Silva – Ele Cabueta com o Dedão do Pé

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AS VANTAGENS DO ALZHEIMER

Alzheimer: Quem sou eu? Onde estou?

Aos 82 anos de idade, Francisco se casou com Maria, de 27 anos que, em consideração ao marido tão idoso, decide que devem dormir em quartos separados. Assim fica acordado entre os envolventes das núpcias.

Terminada a festa do casamento, cada um vai para o seu quarto. Maria se prepara para deitar, quando ouve batida forte na porta do seu quarto.

As batidas insistem… Ao abrir a porta, ela se depara com Francisco, com 82 anos, pronto para entrar em ação.

Tudo corre bem após uma relação quente e vigorosa… Francisco despede-se e vai para o seu quarto.

Passados alguns minutos, Maria ouve novas batidas na porta do quarto… Era Francisco, novamente pronto para outra ação.

Maria se surpreende, mas deixa-o entrar. Terminada a relação, Francisco beija Maria carinhosamente e despede-se, indo para o seu quarto.

Maria se prepara para dormir novamente, quanto escuta fortes batidas na porta do seu quarto. Espantada, Maria abre a porta e se depara com… Francisco!!! Mais do que pronto para a ação, com aspecto vigoroso e renovado.

E Maria diz, espantada e surpresa:

– Estou impressionada com o senhor que, em sua idade possa repetir a relação com essa freqüência… Já estive com homens com um terço de sua idade e eles se contentavam apenas com uma vez. Você, Francisco, é um grande garanhão!

Desconcertado, Francisco pergunta:

– E eu já estive aqui antes?

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QUANDO EXPLODE A VINGANÇA (1971) – UMA OBRA-PRIMA DE LEONE

Imagem extraída do DVD

Ambientado durante a revolução mexicana de 1913, “Quando Explode a Vingança” (título original em italiano (Giù La Testa), terceiro filme do magno diretor Sergio Leone da trilogia de Era Uma Vez… é uma história sobre poder e política, escrito pelo diretor, os famosos roteiristas Luciano Vincenzoni e Sergio Donati, que colaboraram com o diretor em “Três Homens em Conflito” (1966) e “Era Uma Vez na América (1984).”

Rod Steiger, vencedor do Oscar de melhor ator no filme “No Calor da Noite” (1967) do diretor Norman Jewison, onde fez o papel do xerife Bill Gillespie, atuando ao lado do ator negro Sidney Poitier, interpreta Juan Miranda, um camponês rude com um coração de Robin Hood, Jemes Coburn (Sete Homens e Um Destino) (1960), co-estrela no papel de John Mallory, um revolucionário irlandês atirador de dinamite que fugiu para o México para praticar suas habilidades e Romolo Valli (Um Homem, Uma Mulher, Uma Noite). Juntos, eles preparam uma ousada operação de fuga para libertar prisioneiros políticos, defender seus compatriotas contra a milícia bem equipada de um sádico oficial e arriscam suas vidas em um trem carregado com explosivos. O filme tem uma magnífica fotografia realizada nos desertos da Espanha.

A rapidez com que o longa progride deve muito à montagem de Nino Baragli, que opta por diversos cortes bruscos seguidos de elipses. Tais saltos temporais, a princípio, confundem o espectador, passando uma sensação de termos perdido algo na narrativa. Entretanto, conforme os minutos se passam, vamos encaixando lentamente as peças e, com elas, vem o entendimento do filme como um todo.

Aqui não se pode deixar de traçar a semelhança com a leitura de um livro e sua estrutura capitular, que se traduz na tela da mesma forma. Essa espécie de quebra da imersão nos força a pensar, a analisar a projeção diante de nós, assumindo, talvez, uma visão mais crítica em relação à sua trama e, em segundo momento, à revolução em si. Os questionamentos, presentes nos closes das bocas cheias de comida, voltam ao primeiro plano e, por mais que os protagonistas estejam de um lado do conflito, passamos a nos perguntar qual a diferença entre ambos os lados. A importância de Juan e John é, aqui, ressaltada, ao passo que ambos foram tragados a contragosto para a revolução, não pertencendo, efetivamente, a nenhuma facção.

Mesmo com essa visão política presente na projeção, o que fica, porém, incrustado em nossa mente, é a amizade entre o mexicano e o irlandês, reiterando a forte visão humanista de toda a violência apresentada na obra. Quando Explode a Vingança, no fim, fica como uma grande aventura desses dois homens, caráter constantemente lembrado pela inesquecível trilha de Ennio Morricone, que rompe o som ambiente nos momentos-chave, seja para empolgar o espectador, seja para fazê-lo rir através da palpável química entre Rod Steiger e James Coburn. É um filme que merece ser assistido inúmeras vezes e que, em nenhuma delas, irá cansar, fisgando nossa atenção do início ao fim.

É preciso mencionar aqui as curiosidades que houve durante a pré-produção dessa obra-prima:

Inicialmente, Peter Bogdanovich seria o diretor de Quando Explode a Vingança, mas ele desistiu do projeto, sendo substituído por Sam Peckinpah, que acabou sendo retirado do projeto por questões financeiras com a United Artists; Peckinpah era um diretor de temperamento explosivo.

Clint Eastwood e Jason Robards estiveram cotados para interpretar o personagem Sean Mallory, mas nada concretizado; Quando recebeu a proposta do papel de Sean Mallory, James Coburn relutou antes de aceitar. Para ajudar na decisão, procurou o ator Henry Fonda, que tinha filmado “Era Uma Vez no Oeste” com o cineasta, e ouviu que Sergio Leone era o maior diretor com o qual já havia trabalhado.

Trailler oficial de Quando Explode a Vingança

Crítica a Quando Explode a Vingança

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O AVARENTO

Após um dia de trabalho intenso e cansativo com muitas corridas com a UBER, o ex traxista João da Silva resolve parar e recolher o carango para descansar e no dia seguinte pegar no batente cedo.

Chega a casa por volta das duas e meia da madrugada. Dá um beijo na mulher que o aguardava acordada. Toma um banho, janta, descansa um pouco em frente à televisão assistindo a um show de Bob Dylan – (Bob Dylan – Across The Borderline) (Live at Farm Aid 1986), de quem é fã incondicional. Cansado, pega no sono no sofá e depois desperta, se levanta e recolhe definitivamente à cama.

Mal se deita, o celular toca. Era um morador da mesma rua o chamando às pressas para socorrer a filha para uma UPA, que estava passando mal, com muita febre e vômito. O “ubeiro” não titumbeou um segundo, disse que sim e, cansado do jeito que estava, vestiu a mesma roupa com que trabalhou o dia inteiro e disse não ter problema. Mandou que o vizinho entrasse no carro às pressas com a filha e a esposa e “cantou” os pinéus.

Quando retornou da UPA com o vizinho e a filha já recuperada do mal-estar e medicada, o dia já havia amanhecido. Cobrou do vizinho apenas o valor da corrida, que ficou no “pindura” para ser pago no final do mês.

Dias depois, o “ubeiro”, precisando de umas vinte máscaras para trabalhar numa empreitada que havia firmado com um hospital para carregar paciente, sabendo que a esposa do vizinho, a quem havia prestado socorro à filha, era enfermeira de hospital e poderia conseguir as antefaces, procurou-o e contou-lhe da necessidade das máscaras. Prontamente o vizinho arranjou, mas quando o “ubeiro” lhe foi agradecer pelo “presente” ofertado, o vizinho “mala” advertiu:

– Não! Não! Não! Não! Não, amigo!

– Você não entendeu! Essas máscaras que eu estou lhe passando, custa um real cada uma! Portanto, como na caixa tem vinte, são vinte paus a caixa! Aqui está a caixa com as vinte máscaras, mas a entrega só será concretizada mediante o pagamento dos vinte “mangos!” Morou??!!!

Até hoje o “ubeiro” João da Silva não compreendeu a atitude tacanha do vizinho, avareza sem tamanho, a quem lhe havia prestado um grande favor meses antes, levando à filha a uma UPA sem cobrar nada em troca.

Bob Dylan – Across The Borderline (Live at Farm Aid 1986)

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JACK THE RIPPER, UM CASO NUNCA SOLUCIONADO, TORNA-SE FAMOSO MUNDIALMENTE

Texto escrito em parceria com Luis Antonio Tavares Portella

Jack, o Estripador (Jack theRipper em inglês) é o pseudônimo mais conhecido para designar um famoso serial killer (assassino em série) que nunca foi identificado, famoso por atuar na periferia de Whitechapel, distrito de Londres, e arredores em 1888. Na verdade, a alcunha de “Jack, o Estripador” teve sua origem em uma carta denominada Dear Boss (Prezado Chefe) que foi escrita por alguém que alegava ser o assassino e encaminhada para a polícia, carta essa que foi amplamente divulgada pela imprensa da época.

Acredita-se hoje que a carta era falsa e foi elaborada e escrita por jornalistas na época em uma tentativa de aumentar o interesse do público sobre o caso dando um nome ao misterioso criminoso para vender mais jornais. O famoso homicida também recebeu outros nomes, como WhitechapelMurderer (Assassino de Whitechapel) e LeatherApron (Avental de Couro), segundo algumas testemunhas, o suspeito sempre era descrito usando um sobretudo de couro para esconder sua identidade.

“Um possível suspeito”, caricatura do The Illustrated London News, publicada em 13 de outubro de 1888, retratando o Comitê de Vigilância de Whitechapel buscando Jack, o Estripador.

Seu modus operandi consistia em perseguir, atacar e estripar prostitutas que viviam e trabalhavam nos bairros pobres de East End. Após serem abordadas, as vítimas tinham suas gargantas cortadas com uma arma afiada e logo após tinham o seu abdômen perfurado e eviscerado, muitas vezes com remoção de alguns órgãos. Para peritos da época, os cortes e remoção de alguns órgãos levantou a hipótese de o assassino ter algum conhecimento sobre cirurgias e anatomia.

Mulheres e crianças em Whitechapel, em frente a alojamentos comuns, em meados do período dos assassinatos e nos arredores onde Jack, o Estripador cometeu seus crimes. Eram vizinhanças conhecidas por sua pobreza e alto índice de crimes, o que dificultou mais ainda a investigação do caso.

Rumores sobre a identidade do assassino se intensificaram entre setembro e outubro de 1888, quando a Scotland Yard (Polícia Britânica) e a imprensa receberam outras cartas supostamente escritas pelo assassino. Uma delas, a famosa carta”From Hell” (Do Inferno), foi recebida por George Lusk do Comitê de Vigilância de Whitechapel, e incluía em seu interior a metade de um rim humano preservado, possivelmente retirado de uma das vítimas. Hoje, acredita-se que essa carta de fato tenha sido escrita pelo próprio assassino. A opinião pública sempre foi a favor da existência de um único assassino, descartando a possibilidade de serem vários, usando como base a natureza brutal de suas matanças e o sensacionalismo da imprensa da época, que criou uma aura quase sobrenatural ao redor de sua existência e dos homicídios. Jack, o Estripador, segundo os boatos, sempre agia sozinho, de forma fria e calculada.

Vários jornais locais cobriram exaustivamente o caso e foram essenciais para consolidar a fama internacional do Estripador, bem como o mistério da sua identidade, tornando-se praticamente uma lenda urbana. Suas vítimas canônicas, ou “As Cinco Vítimas”, como ficaram conhecidas: Mary Ann Nichols, Annie Chapman, Elizabeth Stride, Catherine Eddowes e Mary Jane Kelly, foram mortas entre 31 de agosto e 9 de novembro de 1888 e são geralmente consideradas as mais plausíveis de estarem conectadas, devido aos detalhes que conectam os crimes e o modus operandi do assassino detalhado pela polícia. Após as cinco, Jack aparentemente desapareceu. Entre 1888 e1891, outros assassinatos brutais ocorreram em Whitechapel, mas as investigações oficiais da polícia descartaram a relação destes com as “cinco canônicas”. Jack nunca foi capturado e os assassinatos das cinco mulheres nunca foram resolvidos. Estes, tornaram-se lendas junto com o assassino, sendo genuinamente fonte de pesquisas históricas, folclore e até pseudo-história. Hoje em dia, existem mais de cem suspeitos de serem Jack, o Estripador, mas a falta de tecnologia na época para análises mais detalhadas e as evidências limitadas tornam quase impossível concluir o caso. Jack, as cinco vítimas e a incapacidade da polícia de resolver o enigma inspiram muitos trabalhos ficcionais até hoje. Fica a pergunta: “Quem era ele ou ela”?