JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

OS PÉS DE FULÔ!

O pé de fulô que Das Dores prantou

Faz tempo que usamos a fala popular de lugares, repleta de regionalismo. Ainda que passemos a morar em meio aos conglomerados urbanos, carregamos “a forma de falar” daqueles lugares onde nascemos e vivemos por décadas. Muitos chamam isso de cultura regional. Pode ser. Ninguém duvida.

Mas, isso não fica restrito apenas ao modo de falar. Estende-se, também, aos diferentes e ricos modos de vida. É comum o apego com a poesia do verde e do ter o que fazer todos os dias, ao acordar e levantar. Uma tarefa que ocupa a alma, lubrifica e norteia o ego.

– Diacho, eu prantei um pé de fulô meis passado, e inda num nasceu nadica de nada?

Maria das Dores viera do interior do Ceará, tangida pelas agruras da seca. Ali deixou algumas galinhas que sobraram e resistiram diante da morte de outras tantas, por conta da falta de alimentos. Dona Das Dores não suportava conviver com aquele sofrimento enfrentado pelas aves, e achava estranho ter que abater todas para o consumo. Até porque eram muitas. Também não dava para levar nenhuma daquelas aves para a nova moradia, uma casa num bairro diferente e cheio de pessoas da classe média alta. Ali, ninguém aceitaria dividir o sono do início das manhãs com o cantar de despertar de um galo. Teria que se adaptar a novos hábitos. Mas, outros, nem tanto.

Eis que, na noite daquele mesmo dia o tempo mudou. Nuvens negras apareceram no céu azul, pintando o firmamento de um cinza previsível que, no sertão, o relógio da vida garantia uns bons e generosos dias de chuva. E choveu bastante durante a noite. No dia seguinte, mais chuva, que continuou acontecendo no terceiro dia.

Felizmente, no quarto dia o sol voltou a brilhar, e aquela luz convidou Das Dores à abrir a janela do quarto onde passara a dormir e traquinar sexo com Assis, o marido.

– Deus dos céus, que maravia! O meu pé de fulô nasceu!

Naquela manhã o café foi diferente. A mesa farta com coisas sempre presentes no café da manhã da roça (tapioca, pamonha, batata doce cozida, ovos fritos na manteiga, cuscuz, coalhada e um café que, de tão cheiroso incomodava a vizinhança) era uma forma de dar graças à Deus, e agradecer à Natureza pelo nascimento do pé de fulô.

– Quem pranta, coie!

Das Dores não cabia em si de tanta felicidade. Todos os dias, por três vezes molhava o vaso onde plantara o pé de fulô que trouxera de onde morava. Presente de Deus pelas mãos de Raimundinha.

E todos os dias ela mesma observava que o pé de fulô crescia. Se espraiava tanto quanto as boas coisas.

A danisca da fulô nasceu, cresceu e se espaiou

– Aubrigado Deus, foi aquele pezim de fulô que prantei que tá ficano mais que bonito!

Era, realmente, uma poesia que a Natureza escrevia a partir da mão de Das Dores. Tudo tem uma semente. Até a bondade ou a maldade.

Mas como quase todos sabem, não existe bem que dure para sempre, muito menos mal que nunca acabe. Eis que, Dona Das Dores e Assis foram avisados que invasores do alheio estavam se abancando da roça deles.

O casal nem esperou pelo tempo bom. Arrumou aquela velha mala de madeira e pegou o caminho de volta para a antiga vida, agora renovada pela certeza das coisas boas. Um simples pé de fulô serviu para ensinar Das Dores.

A casa da roça tinha um aspecto de abandono. O trabalho árduo seria cansativo, mas valeria à pena para colocar tudo em ordem. E a primeira providência de Das Dores foi aproveitar um pote velho em desuso e um alguidá. O pote serviu de apoio e o alguidá serviu como vaso para plantar outro pé de fulô. Na verdade, rosas vermelhas, que para Das Dores nunca deixaria de ser mais um pé de fulô.

Ai eu plantei outra fulô dendicasa in riba do pote

Retomando a roça e expulsando aquele aspecto de abandono, Assis e Das Dores, de tão cansados com a labuta da limpeza da moradia, sequer banharam e foram para o catre como se vivessem uma nova lua de mel.

Nas primeiras chuvas, agora com total assistência e trabalho da mão de Das Dores, a frente da casa tomou novo desenho, recebendo um aspecto europeu da Holanda. Flores por todos os cantos da propriedade, a ponto de chamar a atenção de quem por ali passava.

Nim todo lugá nasciam fulôres

Das Dores só tinha motivos para regozijo e se deliciava com tudo que a retina dos olhos alcançava. Até mesmo distante da primavera, o roçado de Das Dores deixava de ser uma simples roça para se transformar um jardim florido – e a qualquer época do ano.

Tudo a partir de uns simples “pés de fulô”!

– Quem pranta tem, e coie”!

A PALAVRA DO EDITOR

PANELA NO FURICO

Fiz ontem uma postagem pedindo que os leitores me dessem notícias de como tinha sido o panelaço em suas cidades.

O arrasador panelaço contra o presidente da república, levado a efeito na noite de sexta-feira passada.

Uma manifestação que ultrapassou todos os limites toleráveis de decibéis e que deixou o Brasil inteiro com os zouvidos doloridos de tanta zuada.

Vários leitores se manifestaram e postaram seus comentários lá na postagem.

Mas um leitor de Piracicaba, interior de São Paulo, que pediu pra não ter seu nome citado, me mandou um vídeo sobre o assunto.

Um vídeo que o leitor não disse onde foi feito, apenas pediu pra ser publicado.

Aqui está:

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

UMA RODA DE GLOSAS

Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Mote desta colunista

Dalinha Catunda:

Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Bastinha Job:

Chinesa não tomo não
nem na bunda, nem no braço
coronavac… fracasso,
China não é salvação
buscarei outra opção
A Oxford aceitar
se a Moderna chegar,
a picada vai ser funda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Creusa Meira:

Na fila eu amanheço
Pego a preferencial
Passo longe de hospital
UTI eu não mereço
Quero logo o endereço
Quando o dia D chegar
Se na hora H falhar
A primeira e a segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Chica Emídio:

Pode ser no mei da testa,
Na barriga, ou no bumbum
Não vou excluir nenhum
Eu quero é fazer a festa
Se assim for o que resta
Só não quero é me isolar
Chega de trancafiar
Igual Dalinha Catunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Vânia Freitas:

Gente estou assustada
Com tanta gente falando
Da bruta vacina entrando
Tô ficando aperreada
Bunda e braço na jogada
O braço dá pra pensar
Bunda não vou cutucar
A coisa é muito profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Lindicassia Nascimento:

Já que não tem outro jeito
Eu vou ter que aceitar
Dessa vez não vou chorar
Vou deixar entrar direito
Quero sentir o efeito
Levemente sem gritar
Sei que vou me emocionar
Não vou ficar moribunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Sueli Diniz:

O vírus veio com tudo
A vacina é necessária
A vida tá temerária
Pra isso teve o estudo
Tem que ser muito peitudo
Tem que gostar de arriscar
Pra nela não apostar
D’onde a vida se oriunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Djenane Emídio

Como logo se anuncia
Tenho cá os meus receios
Se já encontraram os meios
Da cura da pandemia…
Peço a Deus que é meu Guia
Pra que eu possa confiar
E venha assim declamar:
Vacina, em mim se difunda!
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

NACINHA – CUIABÁ-MT

Sr. Editor e distintos amigos:

Tem gente que vive dizendo que Bolsonaro tem que dar o exemplo.

Agora vejam só, se eu fosse viver de exemplos de presidentes, hoje eu seria analfabeta, cachaceira e ladrona.

Prefiro um Bolsonaro ainda “aprendendo a governar” do que uma quadrilha esquerdopata com “doutorado em roubar”.

E vamos que vamos!!!!!

DEU NO X

PREJUÍZO

* * *

Isto é um absurdo!

Este ministro está completamente pirado e não entende nada de economia.

Deve ser formado em Psicologia ou em Direito.

Isto é prejuízo grande para os cofres públicos, seu cabra leso!

Tem que fazer igual ao João Doria em São Paulo: cortar em 12% repasses pras Santas Casas, elevar impostos de cesta básica, aumentar ICMS de veículos e acabar com a gratuidade de transporte para os idosos.

Como bem diz Ceguinho Teimoso, este atual presidente e sua equipe tem feito tudo errado, metem os pés pelas mãos e, ainda por cima, só falam porcaria.

Estamos vivendo um governo fascista, genocida, reacionário e retrógrado.

Vejam, por exemplo, o desabafo deste jovem brasileiro:

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Manoel de Abreu

Manoel Dias de Abreu nasceu em São Paulo, SP, em 4/1/1891. Médico, cientista, poeta e inventor da “abreugrafia”, pequenas radiografias que permitem o diagnóstico precoce da tuberculose pulmonar. Em outros países o exame recebeu nomes como: “schermografia” (Itália), fotofluorografia (França), roentgenfotografia (Alemanha) e microrradiografia (Portugal). No período 1951-1953 recebeu 6 indicações para o Prêmio Nobel de Medicina.

Formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1914, com a apresentação do trabalho “Natureza pobre”, referente à influência do clima tropical sobre a civilização. No mesmo ano, junto com a família, viajou para Lisboa e tem inicio a I Guerra Mundial. Não podendo voltar ao Brasil, mudou-se para Paris, onde passa a morar por 8 anos. Lá manteve contatos com escritores e cientistas, como Baudelaire, Antero de Quental, Nietzche e Darwin, quando decide aprofundar os estudos na medicina. O primeiro emprego se deu no Nouvel Hôpital de la Pitiê, encarregado de fotografar peças cirúrgicas. Dedicado e engenhoso, descobriu um dispositivo especial para obter fotografias da mucosa gástrica. Em 1916 foi trabalhar no Hôtel-Dieu, a Santa Casa francesa, e foi despertado para o estudo da recente especialidade criada pelo físico Wilhelm Conrad Roentgen, em 1895, a Radiologia.

No exame de um caso de tuberculose, realizado junto com seu chefe, Dr. Gilbert, nada foi encontrado de anormal, nenhuma afecção pulmonar ou pleural, conforme as normas de propedêutica clínica, através da percussão e da auscultação. O chefe pediu-lhe para levar o paciente ao laboratório de Radiologia para um exame do tórax, cuja chapa confirmaria o exame clínico. Feita a chapa, o médico ficou surpreso ao constatar uma tuberculose avançada. Conforme Dr. Adauto Barbosa Lima, ex-diretor da Faculdade de Medicina da USP, “aquela contradição entre o achado clínico e o achado radiológico era resultante dos experimentos e conhecimentos médicos na ocasião… A radiologia ensaiava seus primeiros passos”. Em seguida, o Dr. Gilbert confiou-lhe a chefia do Laboratório Central de Radiologia do Hôtel-Dieu, dando inicio a próspera carreira do cientista brasileiro.

Em 1918 foi trabalhar no Hospital Laennec, como assistente do prof. Maingot. Aí aperfeiçoou-se na radiologia pulmonar e desenvolveu a “densimetria”, mensuração de diferentes densidades. Visualizou na fotografia do “écran” fluorescente um meio de fazer o exame do tórax – em massa e a baixo custo – a fim de detectar a tuberculose pulmonar precoce. Tais conhecimentos levaram-no a publicar o livro Radiodiagnostic dans la tuberculose pleuro-pulmonaire, (Editora Masson, Paris), em 1921, obra pioneira sobre a interpretação radiológica das lesões pulmonares. No ano seguinte, retornou ao Brasil e passou a chefiar o Departamento de Raios X da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose, no Rio de Janeiro. Encontrou a cidade assolada por uma epidemia de tuberculose e ficou impressionado: “Havia óbitos, não havia doentes, os quais ocultavam seu diagnóstico na espessa massa da população; os poucos doentes que havia, procuravam o dispensário na fase final da doença, quando o tratamento, o isolamento e as várias medidas profiláticas já eram inúteis”.

Por esta época, intensificou as pesquisas de radiografias do tórax, mas os resultados são pífios. Apenas em 1935, com o aprimoramento dos aparelhos radiográficos, retomou as experiências no antigo Hospital Alemão do Rio de Janeiro. Nesse período concebeu um método rápido e barato de tomar pequenas chapas radiográficas dos pulmões para maior facilidade de diagnóstico, tratamento e profilaxia da tuberculose e do câncer de pulmão. Deu-se a invenção da “abreugrafia”, nome dado em sua homenagem e reconhecido em 1936 pela Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, seguido de sua adoção em nível mundial.

No mesmo ano foi convidado pelo prefeito do Rio, o médico Pedro Ernesto, a assumir a chefia do Serviço de Radiologia do Hospital Jesus. Logo depois, foram instalados 3 serviços de recenseamento torácico em São Paulo, noutras cidades do Brasil, Am. do Sul, EUA e Europa. Em 1939 o termo “abreugrafia” foi referendado no I Congresso Nacional de Tuberculose, seguido da aprovação pela União Internacional contra a Tuberculose. Em 1958, o prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, determinou que as repartições públicas deveriam adotar o nome e instituiu o dia 4 de janeiro, dia do nascimento do cientista, como o “Dia da Abreugrafia”. Estava apenas imitando o gesto do presidente Juscelino Kubitschek em âmbito nacional.

Em 1957 foi criada a Sociedade Brasileira de Abreugrafia, seguida pela publicação da Revista Brasileira d Abreugrafia. Tal método de diagnóstico de massas de baixo custo e fácil execução popularizou-se rapidamente. Foram criados equipamentos móveis, percorrendo fábricas, escolas e locais mais inacessíveis, fazendo exames e produzindo diagnósticos precoces. Com a diminuição dos casos e custos com outros equipamentos, a abreugrafia foi abandonada. O que não podemos é abandonar a memória de seu inventor, atualmente no limbo da história. Hoje, quando o diagnóstico médico por imagem está no centro das atenções, precisamos lembrar que o Brasil já deu significativa contribuição nesta área.

Manoel de Abreu foi um humanista que abriu mão da patente que lhe renderia bons lucros. Seu desejo era que o aparelho estivesse disponível à todos: “Eu vejo no horizonte a única porta aberta para o futuro, a da ciência (…) A ciência é de algum modo a única forma de ternura (…) As grandes descobertas da medicina foram realizadas por seres sonhadores, sublimes, inspirados pelo amor”.

A importância de seu invento rendeu-lhe algumas homenagens, além das indicações para o Prêmio Nobel: Cavaleiro da Legião de Honra da França; Medalha de Ouro e Médico do Ano em 1950, do Colégio Americano de Médicos do Tórax, entre outras. Sua contribuição à medicina conta com relevantes obras publicadas: Idéias gerais sobre o radiodiagnóstico na tuberculose; Estudos sobre o pulmão e o mediastino; Nova radiologia vascular e Radiologia do coração. Foi também poeta e publicou os livros Substâncias, ilustrado por Di Cavalcanti; Meditações, ilustrado por Portinari e Poemas sem realidade, que ele mesmo ilustrou. Faleceu em 30/1/1962, por ironia do destino, de câncer no pulmão, talvez causado pelo cigarro, hábito mantido desde longa data. Seu legado ficou registrado na biografia escrita por Itazil Benicio dos Santos: Vida e obra de Manoel de Abreu, o criador da abreugrafia, publicada por Irmãos Pongetti Editores, em 1963. Em 2012, no cinquentenário de sua morte, foi lançada, pela SPR-Sociedade Paulista de Radiologia, nova biografia: O Mestre das Sombras – Um Raio X Histórico de Manoel de Abreu, do jornalista e historiador Oldair de Oliveira.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ERNESTO GUEIROS – PETROLINA-PE

Caro Editor:

publique no nosso jornal este vídeo de um cabra desassombrado.

Ele fala a verdade e traduz o que nós nordestinos pensamos.

Nossa gazeta está cada dia mais tampa!!!

Saudações sertanejas!

DEU NO X

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

OS PAUS DO MÁRIO

Todas as quintas-feiras muito me divirto assistindo um evento internético coordenado pelos notáveis escrotólogos Maurício Assuero e Luiz Berto, onde a cultura popular é explicitada sem mas-mas-mas por personalidades especializadas, belas mulheres de QI arretados e homens idem, advindos de todas as regiões brasileiras. Que declamam, contam estórias, relatam acontecidos molecais, enaltecem o seu derredor regional e ainda divulgam fatos pitorescos inesquecíveis dos nossos ontens brasileiros não oficiais, que jamais deveriam ser relegados.

Rendo minhas homenagens aos construtores da cultura popular brasileira. Ela ainda não bateu pino graças aos esforços de muitos abnegados, que efetivam suas mostras tirando dos magérrimos próprios bolsos o necessário para divulgação dos seus estudos, feitos e fatos.

Nesse resistente universo, o lugar do folclorista pernambucano Mário Souto Maior, já na eternidade, está no primeiríssimo escalão. Os seus livros Nomes Próprios Pouco Comuns, Dicionário do Palavrão e Dicionário Folclórico da Cachaça, subsidiam centenas de estudiosos, que necessitam de trilhas seguras e honestas, distanciadas dos embusteiros macunaímicos e vivaldinos.

Integrando a trilogia acima, o Souto Maior, certa feira, fez entrega à sociedade, de um guia pra lá de arretado de ótimo: Geografia Popular do Pau Através da Língua Portuguesa. Trezentas e cinquenta expressões analisadas, sem resvalar para o chulo e o grotesco. Sem obscenizar seu meticuloso ensaio, ele demonstra como o pau contribuiu para as manifestações do nosso brasileiríssimo dia-a-dia, ainda não de todo tragado pelos importados modismos primeiromundistas colonizadores.

Imaginei logo uma pessoa distanciada das raizes da nossa gente entender o significado da frase “no largo da feira de Casa Amarela encontrei o Dr. Fulano a-meio-pau, caindo pelas tabelas”. Ou outra, querelosa com os atuais anos de bunda esfregada nos bancos da póspósgraduação, ao não entender o pensar de um companheiro de universidade: “o deputado fulano de tal está sujo-que-nem-pau-de-galinheiro na CPI do orçamento”.

Outro dia, uma faxineira declarava para uma madame perua que era pau-pra-toda-obra, indo logo por-cima-de-paus-e-pedras quando algum afoito desejava por-os-pauzinhos-ao-sol. E o marido da soçaite quase cai em desespero, ao ouvir da auxiliar, alto e bom som, que estava de olho grande num pauzão e que por conta disso já estava ajeitando o pauzinho-do-matrimônio. E que o casório aconteceria rapidamente, pois gostava mesmo era de pau-na-égua. Pedia apenas ao dono da casa, autoridade de primeira entrância, que fosse na sua vara bulir-com-os-pauzinhos, pois, mais que ninguém, o patrão era habituado a conhecer-o-pau-pela-raiz .

Para não fazer-casa-com-pau-bichado, li muitas vezes, de cabo a rabo, o imperdível livro do Mário Souto Maior. Também não desejando ser pau-de-amarrar-égua, nem tolerando os que adoram viver-à-sombra-do-pau, fiz questão de ganhar-os-paus para me deliciar com a leitura da pesquisa do Mário, meu ex-companheiro da Fundação Joaquim Nabuco, pai do Jan, esse arretado da informática, consultor de tudo que é gente, inclusive burra que nem eu, um metido, vez por outra, a descobrir-o-mel-de-pau na minha área de trabalho.

Tomei ciência que souto, em Portugal, é bosque espesso. E o Mário Souto Maior, folclorista popular de primeira linha, nunca desejou mudar-de-pau-pra-cacete, ficando sempre no bosque dele, convencido que nem-todo-pau-dá-esteio.

Não desejando deitar-os-pauzinhos-fora, este texto é uma demonstração de querer bem a um intelectual que jamais quis ser um dois-de-paus, em tempo algum desejando disputar-pau-a-pau com quem quer que fosse.

Um autêntico sábio nordestino, o Mário Souto Maior. Agrestino, jamais negou que se um-dia-é-do-pau-o-outro-é-do-machado. Ele certamente faria um sucesso arretado todas as quintas-feiras no Bordel do Berto gerenciado pelo Assuero.