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CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

O DOQUE DE JARAGÚA

No final do século XIX os ricos comerciantes de Maceió construíram casarões avarandados em frente aos trapiches da praia do aterro em Jaraguá. Fachada com dois andares, ornamentadas com varandas, balaustradas em ferro batido, desenhos arabescos, moderno estilo arquitetônico europeu. Esses casarões serviam para moradias e estabelecimentos comerciais e tomava quase toda a Rua Sá e Albuquerque.

A enseada de Jaraguá por ser um local adequado, um ancoradouro natural, foi contemplada com uma ponte de embarque de navios e barcaças, além dos trapiches existentes mar adentro que também serviam à exportação do açúcar fabricado pelos engenhos daquela época.

A Ponte de Jaraguá estimulou o movimento comercial da região, e houve um desenvolvimento urbano efervescente no bairro e na cidade. Foi o argumento decisivo para transferência da capital da cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro) para Maceió.

Cais, porto, ancoradouro, ponte de embarque, navios e marinheiros atraem biroscas, bares e cabarés. A região comercial de Jaraguá transformou-se em ponto boêmio. Os moradores dos casarões, famílias das mais distintas e conservadoras se mudaram para outros bairros, abandonando as belas moradias para o comercio pela manhã e a boemia durante a noite.

Os casarões transformaram-se em casas noturnas. Boates ocuparam os patamares superiores, enquanto no térreo conservaram as empresas de negócios, de exportação.

Esses lupanares abrigavam mulheres refinadas. Selecionavam as mais bonitas para os grandes comerciantes, políticos e barões. Jovens de serventia foram importadas da Europa, França, Bahia e do sertão nordestino.

Essas raparigas passaram mais de 60 anos nos casarões, trabalhando com o suor de seu corpo. Fazendo a vida na mais velha das profissões. Ao mesmo tempo, involuntariamente, conservaram suas moradas, seus pontos de trabalho, os casarões do bairro de Jaraguá.

Para homenagear as moças que preservaram e legaram para outras gerações os casarões de Jaraguá, alguns boêmios da cidade resolveram afixar o MEMORIAL À RAPARIGA DESCONHECIDA em um beco do bairro, conhecido pelo intenso movimento noturno de Beco das Raparigas, perpetuando o agradecimento dos boêmios e dos artistas que amam aqueles casarões. Gesto merecedor e reparador.

Em minha juventude fui um curioso frequentador daqueles cabarés, mesmo que, só para tomar uma cerveja ou ouvir música dos conjuntos tocando para clientes se divertirem. Com as jovens aprendi a dançar bolero, mambo, tango, rock and roll.

Os nomes das casas eram expressivos: Alhambra, Tabariz, Night and Day. Nas ruas circulares ficava a ZBM, Zona do Baixo Meretrício, frequentada pela população pobre. Duque de Caxias e o Verde eram os “randevus” mais conhecidos da ZBM.

Quando os bairros nobres de Pajuçara, Ponta Verde se tornaram mais habitados pela burguesia, houve uma forte pressão das madames para tirar a zona de Jaraguá. Sentiam-se incomodadas. Ao se deslocarem até ao centro, inevitavelmente passavam pelo corredor de prostíbulos.

Em 1969 o Secretário de Segurança Pública mandou transferir todos os cabarés de Jaraguá para região do Canaã no Tabuleiro dos Martins.

A partir desse momento alguns casarões de Jaraguá foram demolidos pelas imobiliárias e construtoras. Construíram prédios de gostos duvidosos: BRADESCO, COMISPLAN.

Um grupo de intelectuais e artistas liderados por Ênio Lins, Pierre Chalita e Solange Lages, se movimentou e conseguiu o tombamento do bairro de Jaraguá.
Não fosse esse movimento da comunidade artística, nada mais restaria dos casarões. O que as raparigas conservaram por mais de 60 anos, estava para ser derrubado em poucos meses.

Hoje, o bairro de Jaraguá está restaurado. Mas, falta um projeto para um movimento noturno que atraia os turistas e nativos. E a Prefeitura está sensível em transformar o bairro em uma grande atração turística cultural. Iniciou recentemente uma intervenção urbana no Beco das Raparigas, com bancos, fontes luminosas, um local agradável para uma boa conversa.

Por conta dos velhos tempos, por participar na recuperação do velho bairro boêmio, a Liga de Blocos Carnavalescos de Maceió, comandada por Edberto Ticianeli, conferiu-me o título de DUQUE DE JARAGUÁ. O qual uso em meus escritos, em minha identidade. O diploma de Duque fica visível na parede de minha sala, homenagem ao bairro onde nasci e me criei.

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DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

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JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

OLIVEIRA LIMA

Nasceu no Recife (25/12/1867). Filho mais novo de mãe pernambucana, Maria Benedita de Oliveira Lima, e um portugês da Cidade Invicta, Luís de Oliveira Lima. Entrou na carreira diplomática, como Varnhagen, Patrono da Cadeira 39. E representou nosso país em numerosos países. Era um homem especial, antecipando-se a temas que não eram do seu tempo. Segundo ele, “quando as mulheres dispuserem algum dia da maioria parlamentar e do governo, a organização política será muito mais dotada de justiça social… e a legislação poderá, então, merecer a designação humana”.Manuel de Oliveira Lima – Wikipédia, a enciclopédia livre

Entre os que não gostavam dele, as razões não são claras, talvez apenas por conta do temperamento belicoso de OL, estava Emílio de Menezes. Por exemplo, quando à tarde saía para passear, braços dados com a mulher Flora, Emílio ficava repetindo “ali vão a flora e a fauna da literatura brasileira”. E dedicado a ele ainda escreveu soneto, O plenipotenciário da facúndia, da eloquência pois, que começa por verso pouco respeitoso criticando sua gordura, “De carne mole e pele bobalhona”, e finda com esse terceto lastimável: “Eis, em resumo, essa figura estranha:/ Tem mil léguas quadradas de vaidade/ Por milímetro cúbico de banha”.

De outro lado, entre seus mais leais admiradores, estava Gilberto Freyre, para quem seria um “Dom Quixote gordo”. Imagem na linha do que evoca o poeta português António Gedeão (Impressão digital) “Inútil seguir sozinhos/ Querer ser depois ou antes/ Cada qual com seus caminhos/ Onde Sancho vê moinhos/ Dom Quixote vê gigantes./ Vê moinhos?, são moinhos/ Vê gigantes?, são gigantes”. Assim era Oliveira Lima, seguindo sozinho e sempre sonhando em derrotar seus gigantes. E nem será dele, talvez, a tão conhecida frase, que lhe é atribuída, “Na geografia dos defeitos, Recife é capital da inveja e da maledicência”. A frase como assim redigida, não. Mas o conteúdo, com certeza sim.

Depois de se aposentar, foi para os Estados Unidos, onde viveu seu resto de vida, como professor visitante, em Harvard, e na Universidade Católica da América (Washington). Morreu nesta cidade (24/03/1928), onde está enterrado no cemitério Mont Olivet. Na lápide, não consta um nome. Apenas seu epitáfio, que ele próprio escreveu, Hic jacet amicus librorum (Aqui jaz um amigo dos livros).

P.S. Trecho do Discurso de Posse na Academia Brasileira de Letras (10/06/2022).

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DEU NO JORNAL

AVACALHOU O CONSELHEIRO ACÁCIO

Rodrigo Pacheco resolveu encarnar Conselheiro Acácio, personagem de Eça de Queiroz, que abusava da pompa balofa e da postura de pseudo-intelectualidade comum entre alguns políticos.

Esta semana, Pacheco chamou desmatamento de “retirada de vegetação degenerativa”.

* * *

Essa nota avacalhou o Conselheiro Acácio, um personagem eciano que eu tanto aprecio, homem de bem e de ficha limpa.

Comparar um tabacudo do porte de Pacheco ao nobre Conselheiro é avacalhar demais a querida figura criada por Eça de Queiroz em seu clássico romance O Primo Basílio, uma obra pela qual tenha uma grande estima e que é ponto de destaque aqui na minha estante.

E cuja leitura recomendo com muito entusiasmo aos leitores fubânicos.

Leiam e depois de me digam o que acharam.