Nasceu no Recife (25/12/1867). Filho mais novo de mãe pernambucana, Maria Benedita de Oliveira Lima, e um portugês da Cidade Invicta, Luís de Oliveira Lima. Entrou na carreira diplomática, como Varnhagen, Patrono da Cadeira 39. E representou nosso país em numerosos países. Era um homem especial, antecipando-se a temas que não eram do seu tempo. Segundo ele, “quando as mulheres dispuserem algum dia da maioria parlamentar e do governo, a organização política será muito mais dotada de justiça social… e a legislação poderá, então, merecer a designação humana”.
Entre os que não gostavam dele, as razões não são claras, talvez apenas por conta do temperamento belicoso de OL, estava Emílio de Menezes. Por exemplo, quando à tarde saía para passear, braços dados com a mulher Flora, Emílio ficava repetindo “ali vão a flora e a fauna da literatura brasileira”. E dedicado a ele ainda escreveu soneto, O plenipotenciário da facúndia, da eloquência pois, que começa por verso pouco respeitoso criticando sua gordura, “De carne mole e pele bobalhona”, e finda com esse terceto lastimável: “Eis, em resumo, essa figura estranha:/ Tem mil léguas quadradas de vaidade/ Por milímetro cúbico de banha”.
De outro lado, entre seus mais leais admiradores, estava Gilberto Freyre, para quem seria um “Dom Quixote gordo”. Imagem na linha do que evoca o poeta português António Gedeão (Impressão digital) “Inútil seguir sozinhos/ Querer ser depois ou antes/ Cada qual com seus caminhos/ Onde Sancho vê moinhos/ Dom Quixote vê gigantes./ Vê moinhos?, são moinhos/ Vê gigantes?, são gigantes”. Assim era Oliveira Lima, seguindo sozinho e sempre sonhando em derrotar seus gigantes. E nem será dele, talvez, a tão conhecida frase, que lhe é atribuída, “Na geografia dos defeitos, Recife é capital da inveja e da maledicência”. A frase como assim redigida, não. Mas o conteúdo, com certeza sim.
Depois de se aposentar, foi para os Estados Unidos, onde viveu seu resto de vida, como professor visitante, em Harvard, e na Universidade Católica da América (Washington). Morreu nesta cidade (24/03/1928), onde está enterrado no cemitério Mont Olivet. Na lápide, não consta um nome. Apenas seu epitáfio, que ele próprio escreveu, Hic jacet amicus librorum (Aqui jaz um amigo dos livros).
P.S. Trecho do Discurso de Posse na Academia Brasileira de Letras (10/06/2022).
Dr. José Paulo.
Aproveitamos a oportunidade para renovarmos nossos cumprimentos pela sua posse como o mais recente “imortal” da ABL.
Mais um pernambucano da “Nova Roma de bravos guerreiros” de tantos outros, que ao longo de 124 anos fizeram história junto com tão digna Academia. Deus em sua infinita Bondade, quis, que o senhor, fosse empossado na mesma cadeira de outro conterrâneo ilustre, não é verdade? São tantos títulos… vamos ficar então, com Dr. Marco Maciel.
Acompanhamos, envaidecidos e embevecidos, também. Seu discurso de posse, no qual o senhor cita um pequeno trecho acima. Precisaríamos assistí-lo muitas outras vêzes para entendermos a magnanimidade, a eloquência, o altruísmo, a benevolência, a erudição…
E até mesmo, a plenitude em que chega um ser humano.
Muito obrigado pelo senhor existir. Parabéns mais uma vez por tão merecida “imortalidade”.
Que Deus continue iluminando seus caminhos e de toda sua família.
As palavras do colega Luiz Carlos Freitas estão iluminadas no tanto que o próprio iluminado acha exagerado: “não precisa tanto”. É pura modéstia, precisa sim. As palavras corporificam o sentido que expressam.
Muito boas e oportunas as palavras do colega no momento em que Paulo Cavalcanti filho toma posse de sua cadeira na ABL
De minha parte, o que restou foi uma certa “inveja”, tal como Rachel de Queiroz sentiu e manifestou ao ver o livro de seu amigo -Vidas Secas- Graciliano Ramos publicado: Ela que havia dissecado -O Quinze- a seca anos antes, declarou encantada com a obra: “Este livro deveria ser meu”.
Digo isto porque Oliveira Lima é um dos destacados e próximo integrante do “Memorial do Povo Brasileiro”, que vimos montando aqui no JBF e no Facebook desde 2019, com inauguração prevista, com 200 nomes, na comemoração do Bicentenário da Independência em setembro de 2022.
Claro que a “inveja” aqui é mais admiração: “Cabra bom!!!, queria escrever assim”, como poderia dizer Chico Anísio .
Ando coletando o que encontro sobre Oliveira Lima e tenho encontrado muita coisa. De repente, surge a figura clara, sucinta e definidora de uma personalidade, como costuma fazer o Memorial. Melhor ainda, anuncia o profeta e detalha gestos e manhas brasileiras.
Em sua descrição preliminar vou ser obrigado a repetir sua profecia sobre o poder politico das mulheres e desde agradeço pela informação.
Certamente terei que usar mais que isso, pelo que agradeço antecipadamente.
O gênero biografia concisa, que tenho perseguido, está expresso ali em boa literatura. Pode-se dizer que é um bom perfil biográfico. Sim, um perfil conciso, completo e atualizado.
Menos, amigo Luís Carlos. Não precisa tanto. Mas grato, por tudo. Abraços com o coração,