JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

O NOSSO PRIMEIRO CHÃO

O nosso primeiro chão é a referência para o norte que tomaremos na vida. Nosso lugar nos guia.

Nossas raízes são fortemente fincadas nele. Mas, ganham solos além da terra onde fomos plantados e que nos viu nascer; porque depois que nossos galhos se expandem para sombrear outros horizontes, essas raízes acompanham a copa dos nossos sentimentos, no entanto, sem se desvencilharem de onde nossas sementes foram lançadas.

E nossas copas respiram ares outros, além daquele que esfriou o nosso primeiro choro – talvez berro de satisfação – pouco antes dos nossos olhos se abrirem para a contemplação do mundo que primeiro nos recebeu.

Maravilhoso é quando esse nosso berro foi um grito no Sertão de onde sou.

E ser sertanejo não é destino. É dádiva divina. Presente de Deus.

Quanta honra!

Não importando onde chegamos, com quem estamos, ou o que consumimos, é o primeiro chão em nossa memória que alivia qualquer dor, ou ansiedade da alma.

É a lembrança do nosso lugar que traz sorriso, para o lugar do choro; renovando sempre a esperança e nos aliviando o espírito.

Nós não somos simplesmente do Sertão. O Sertão está em nós, porque foi do filamento de sua água com seu barro que Deus nos formou, quando éramos somente um projeto de gente. Essa convicção é o nosso alimento diário.

E isso nos acompanha pela vida de uma forma que as palavras, por mais que sejam, jamais explicarão.

Só quem vive o sentimento disso tudo, em relação ao seu primeiro chão, pode saber do que eu falo.

Quem tem o Sertão em si. Como eu tenho.

DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JOÃO FRANCISCO – RIBEIRÃO PRETO-SP

O que está acontecendo com Recife?

Ratos Bar?

Assim vai continuar mais uns 20 anos nas mãos da esquerda.

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

HISTÓRIA ANTIGA – Raul de Leoni

No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi… um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era… Não sabia…

Desde então, transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente…

Nunca mais nos falamos… vai distante…
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la…

Raul de Leoni, Petrópolis, (1895-1926)

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

DEU NO X

DEU NO X

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O VINIL

O tempo do amor sincero e verdadeiro. Respeitoso, cordial, honesto e, principalmente, recíproco.

O namoro era na porta da casa da moça – muitas vezes sob os olhares dos pais. O beijo na boca não era prova de amor. Era a assunção do compromisso de casamento. Diferente dos dias atuais.

Talvez fosse esse procedimento que tornava o casamento duradouro e sem os problemas atuais que acabam em separação com pagamento de pensão alimentícia, ou até em feminicídio.

Long play de vinil

O compromisso sério recebia as bênçãos dos pais. Dos pais da jovem e dos pais do jovem – era, por assim dizer, o primeiro compromisso de união familiar.

O noivado era um acontecimento digno de festejo: precisava do consentimento dos pais da jovem, que recebiam a visita dos pais do jovem – quando acontecia o “pedido de noivado e de futuro casamento”.

Tudo mudou. E, entendo, mudou não para mais moderno. Mudou para a inexistência de compromisso e de união familiar. Os pais, tanto da jovem quanto do jovem, quase nem são avisados. São surpreendidos com a visibilidade da gravidez.

Mas, o que marcava mesmo, nos anos 50, 60 e 70, era a paixão. A forma de se dizer e mostrar apaixonado. “Arriado os quatro pneus”, como se dizia, principalmente, nas cidades interioranas.

E a mais contundente forma de mostrar paixão, era fazer uma “Serenata”. Os que amavam faziam serenata – e a jovem até incentivava, ainda que temesse a reação do pai. Mas, a mãe, ficava sempre do lado da filha, usufruindo do romantismo.

“Tu és a criatura mais linda que os meus olhos já viram
Tu tens a boca mais linda que a minha boca beijou
São meus os teus lábios
Estes lábios que os meus desejos mataram
São minhas as tuas mãos
Estas mãos que as minhas mãos afagaram
Sou louco por ti
Eu sofro por ti
Te amo em segredo
Adoro teu porte divino
Pela mão do destino
A mim tu vieste
Tenho ciúme do sol, do luar, do mar
Tenho ciúme de tudo
Tenho ciúme até
Da roupa que tu vestes.”

Orlando Dias

 Compact disc de vinil

Eu fiz seresta. Muitas vezes. Eu amei e fui apaixonado, também, com os quatro pneus arriados. Nunca tive problemas noturnos, com as namoradas ou com os pais delas. Sempre andei (e fiz serestas) com amigos – não ficava bem, entendia, varar a noite fazendo seresta, andando só.

Entendia eu que, naqueles anos, Orlando Dias, Agostinho dos Santos, Moacyr Franco e Altemar Dutra eram os mais apreciados ao mesmo tempo que os Beatles e os Rolling Stones.

“Tu és o maior amor
Da minha vida
Tu és uma estrela
Guiando os meus passos
Nas horas tristes
Nas horas mortas, minha querida
Tu és o maior amor
Da minha vida

Enquanto existir lá no céu
Uma estrela brilhando
E o Sol no infinito
Teu rosto queimando
Tu serás a luz
A iluminar o meu caminho
Tu serás querida o maior amor
Da minha vida”

Radiola portátil movida à pilha

Programávamos o dia e a hora de sairmos para a serenata na casa da namorada. Sempre pela madrugada. Separávamos os vinis e os cantores. Diferente de hoje, que tudo é levado num pendrive.

A radiola era separada, limpa e lubrificada. Pilhas novas. Tudo pronto – e a paixão se renovava e o namoro se comprometia. Acabava sempre em casamento.

DEU NO X