DEU NO X

PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

DOIS POEMAS DE CANCÃO

João Batista de Siqueira, Cancão, São José do Egito-PE (1912-1982), foi poeta

* * *

MEU LUGAREJO

Meu recanto pequenino
De planalto e de baixio
Onde eu brincava em menino
Pelos barrancos do rio
Gigantescos braunais,
Meus soberbos taquarais
Cheios de viço e vigor
Belas roseiras nevadas
Diariamente abanadas
Das asas do beija-flor

A terra da catingueira
Criada na penedia
Onde a ave prazenteira
Canta a chegada do dia
Planalto, ribeiro, prado
Onde até o próprio gado
Parece ter mais prazer
Terreno das andorinhas
Onde arrulham mil rolinhas
Quando começa a chover

A borboleta ligeira
Que desce do verde monte
Passa voando maneira
Roçando as águas da fonte
As aragens dos campestres
Pelas florzinhas silvestres
Atravessam sem alarde
Quando o sol se debruça
A Natureza soluça
Nas sombras do véu da tarde

Terreno em que os sabiás
Cantam com mais queixumes
Belas noites de cristais
Cravadas de vaga-lumes
Meus mangueirais magníficos
Por onde os ventos pacíficos
Atravessam mansamente
Verdes matas perfumadas
Nas lindas tardes toldadas
Das cinzas do sol poente

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BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

A FEIRA DA MINHA ALDEIA

Décadas atrás, entrando pelo século passado, a pequena cidade de Nova-Cruz (RN) era paupérrima, “sem água e sem luz” e não dispunha de consultórios médicos, ambulatórios nem hospitais.

A mortalidade infantil era absurda. A criança adoecia à tarde e antes de amanhecer o dia estava morta. Não havia assistência médica nenhuma, e, consequentemente, não havia plantão médico.

Chá de canela era o “remédio” que os curiosos indicavam para os bebês, quando de repente ficavam febris, pálidos e choramingando. Foi assim que vi um irmãozinho meu, Galdino, morrer, no dia em que completou sete meses de idade, ao sofrer uma convulsão pela madrugada. Tinha amolecido à noitinha, ficou febril e foi “medicado” por um conhecido charlatão da cidade, que, em sua casa, consultava o povo da roça, dia de feira. O remédio por ele indicado foi chá de canela, achando que deveria ser uma gripezinha.

Nunca esqueci o desespero da minha mãe naquela madrugada, gritando desolada, sem querer acreditar que a criança estava morta. Meu pai, também desesperado, tentava acalmá-la, mas era em vão. Eu tinha pouco mais de quatro anos. Nunca esqueci essa terrível cena, numa madrugada escura e fria.

Pela manhã, a casa se encheu de gente. À tarde, houve o enterro de Galdininho (como minha mãe o chamava), com a presença de familiares da minha mãe, que moravam em Natal. Essas coisas tristes da vida, a gente nunca esquece…

Pois bem. A feira municipal de Nova-Cruz era na 2ª feira. Era considerada a maior feira da região agreste. Começava pela madrugada e se estendia até o final da tarde.

Do balcão da bodega do nosso pai, assistíamos a um verdadeiro espetáculo de cultura popular: As cantigas dos cegos, pedindo esmolas, e insultando uns aos outros, defendendo seus direitos àquele ponto. Era uma verdadeira festa do Cordel. Os desafios eram hilários e maliciosos.

A feira era um verdadeiro encontro ou reencontro de almas. Era um dia divertido, com meu pai, minha mãe e todos os filhos no balcão da venda. Em frente, havia duas barracas que vendiam cocorotes (de coco), bolo branco (hoje chamado “bolo da moça”) e doce americano (geleia de coco). Nunca me esqueci do gosto dos cocorotes. Tudo era uma gostosura.

Mais adiante, chegava um vendedor ambulante, com uma mala cheia de óculos de grau para vender, e formava-se uma fila de pretensos “clientes”, para comprar óculos, cujo grau lhes permitisse ler as letrinhas da caixinha de fósforo “MARCA OLHO”. Esse era o teste para aprovação do grau.

A precariedade da vida em Nova-Cruz forçava o povo a dar preferência aos óculos vendidos pelo ambulante, na feira livre. Além do mais, se o problema fosse apenas “vista curta”, seria mais cômodo e mais em conta comprar os óculos já prontos na feira, do que ter que viajar a Natal, somente para esse fim. Os compradores de óculos ficavam satisfeitos quando enxergavam perfeitamente as letrinhas da caixinha de fósforos “Marca Olho”. Era o sinal de que o grau era aquele.

De Nova-Cruz a Natal são 110km. Entretanto, naquela época (60/70), em estrada de barro, a viagem de ônibus levava de 4 a 5 horas. Durante o inverno, o atoleiro era grande. Por isso, tanto os feirantes da zona rural, como os moradores da zona urbana, eram acostumados a comprar óculos de grau na feira, já prontos. A aprovação dos óculos era 100%, e ninguém reclamava. Meu saudoso tio Paulo Bezerra, por comodidade, também só comprava óculos de grau na feira, e se dava muito bem.

Também na feira de Nova-Cruz, costumava estar presente um homem vestido com uma bata branca, com pose de doutor, que ali armava uma pequena banca e sobre ela mantinha uma garrafada, que continha um ácido para “tirar” sinais da pele. Nessa época, não se falava em carcinoma. A fila de pessoas que pagavam para tirar sinais era grande. Nunca se soube de um insucesso de um desses “procedimentos cirúrgicos”. Hoje, esse homem seria preso por charlatanismo, mas, naquela época, era a salvação do povo que tinha problemas com sinais. Meus tios Paulo Bezerra e Eulina Bezerra chegaram a tirar alguns sinais com ele e os “procedimentos” foram muito bem sucedidos.

Essas lembranças fazem parte da minha saudade. Volto à minha infância e juventude. Essa feira, na minha vida, foi muito mais do que uma simples feira. Ela faz parte das mais belas recordações de Nova-Cruz, com cenários inesquecíveis, que guardo na memória e no coração.

Ave, Nova-Cruz!

PENINHA - DICA MUSICAL

A PALAVRA DO EDITOR

DEU NO X

RODRIGO CONSTANTINO

ATÉ LULA SENTIU QUE O POVO GOSTOU DA OPERAÇÃO NO RIO

Lula adota tom cauteleso e evita embate direto com governador do Rio

Cínico, sem dúvida, e oportunista como sempre, Lula resolveu se manifestar finalmente sobre a operação policial no Rio. O importante é que até o presidente, que considera traficantes vítimas dos usuários, percebeu que a operação que culminou na morte de mais de uma centena de marginais foi bem recebida pelo povo carioca. Disse Lula:

Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco.

Claro que, na prática, Lula não quer resolver nada. Tanto que concluiu sua postagem com uma propaganda da PEC da Segurança, que é uma porcaria e levaria apenas a uma centralização maior no governo federal, enquanto são justamente os estados que podem combater melhor o crime: “Com a aprovação da PEC da Segurança, que encaminhamos ao Congresso Nacional, vamos garantir que as diferentes forças policiais atuem de maneira conjunta no enfrentamento às facções criminosas”.

O deputado Marcel van Hattem não deu moleza para Lula: “Não é o traficante que é vítima do usuário de drogas? Você é parte do problema, cinismo descarado! Leva um dia e meio para dizer alguma coisa e não pede desculpas por não ter apoiado o governo do RJ quando pediu nem se solidariza com a família dos policiais mortos. Cúmplice!”.

Tanto é assim que o governo federal insiste em não classificar o crime organizado como terrorista. Mas a própria imprensa mostra o grau de terror imposto por esses marginais em seus territórios dominados: “Decisão que embasou Operação Contenção cita rotina de tortura e controle armado no Complexo da Penha”. A Folha continua: “Documento cita vídeos, mensagens e fotos que mostram práticas de tortura e domínio armado sobre moradores”.

Se isso não é terrorismo, é o que então? Esses bandidos possuem drones armados com granadas! O que fazem nos territórios que dominam é um atentado contra o Estado de Direito, mas o governo federal prefere considerar a Débora, com seu batom, uma ameaça maior à democracia. É uma piada de mau gosto!

Nesse contexto, é fundamental que os governadores de centro-direita mostrem união e apoio ao governo do Rio. Muitos o fizeram, mas a postura do governador Tarcísio de Freitas foi a mais errática. Ele decidiu não comparecer ao encontro dos governadores. Tarcísio está se mostrando covarde. Ele precisa apoiar politicamente o governador do Rio e demonstrar união dos governadores de centro-direita. Não pode se curvar à turma global.

Até porque a própria turma da Globo vem dando uma leve guinada na narrativa, ao perceber, como Lula fez, que a operação no Rio foi popular. O povo cansou da bandidolatria, e clama por um Bukele da vida para enfrentar os marginais. Quem titubear ou condenar os “excessos” da polícia nesse momento será atropelado pela opinião pública.

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

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