DEU NO X

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

FRUTO PROIBIDO – Adelino Fontoura

Escravo dessa angélica meiguice
por uma lei fatal, como um castigo,
não abrigara tanta dor comigo,
se este afeto que sinto não sentisse.

Que te não doa, entanto, isto que digo
nem as magoadas falas que te disse.
Não tas dissera nunca, se não visse
que por dizê-las minha dor mitigo

Longe de ti, sereno e resoluto,
irei morrer, misérrimo, esquecido,
mas hei de amar-te sempre, anjo impoluto.

És para mim o fruto proibido:
não pousarei meus lábios nesse fruto;
mas morrerei sem nunca ter vivido.

Adelino Fontoura Chaves, Axixá-MA, (1859-1884)

DEU NO X

DEU NO JORNAL

A FLOTILHA DA IMPRENSA SUBMERSA

Guilherme Fiuza

Quando a imprensa assume como fato a encenação de Greta e ignora o contexto do Hamas, abandona o jornalismo e vira assessoria de militância

O episódio da interceptação da flotilha de Greta Thunberg por forças israelenses foi noticiado assim pelo “Jornal Nacional” (TV Globo):

“Marinha de Israel intercepta mais de 40 barcos com ativistas que tentavam levar ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. O Itamaraty condenou a interceptação, dizendo que viola direitos e coloca em risco manifestantes pacíficos.”

A imprensa é livre para tratar demagogia como ativismo. Mas, nesse caso, não pode querer continuar sendo chamada de imprensa. Mesmo que alguém pudesse confundir, de boa-fé, provocação espetaculosa com ação humanitária, valeria observar como essa notícia foi divulgada.

Digamos que a imprensa em questão tivesse decidido se satisfazer, para criar sua manchete sobre o assunto, com o ponto de vista do Itamaraty.

(OBS: qualquer jornalista que queira hoje tomar o Itamaraty como fonte central de qualquer notícia precisa consultar antes a posição do órgão sobre a última eleição presidencial na Venezuela. Consultou e achou que está tudo bem? Ok, vá em frente.)

Voltando: se a intenção da chamada do JN fosse basear esse noticiário na posição oficial do Itamaraty — mesmo sendo, hoje em dia, uma escolha altamente duvidosa — a manchete não seria essa. Ou seja: na notícia citada acima, o veículo foi além do ativismo do Itamaraty.

“Marinha de Israel intercepta mais de 40 barcos com ativistas que tentavam levar ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.” Nessa parte da manchete, o Itamaraty ainda não havia entrado. A premissa, até aí, é de responsabilidade do jornal. Se quisesse dar notícia e não fazer panfletagem, bastava ao JN dizer que mais de 40 barcos haviam sido detidos na rota para a Faixa de Gaza.

Intenções, alegações de princípios e outras subjetividades deveriam ser atribuídas aos respectivos sujeitos: “segundo fulano, o objetivo era…” etc., etc.

Mas o jornal achou melhor falar pelos outros. Sim, eram ativistas que tentavam levar ajuda humanitária — decretou a manchete. Tentavam mesmo? Rumando para uma zona de exclusão onde, por conta do estado de guerra, havia um bloqueio militar? Então, qual era a tentativa? Furar o bloqueio com a marinha festiva da Greta? Não, isso todos sabiam ser impossível. Então, como a ajuda humanitária chegaria ao seu destino?

Ah, não era para chegar ao destino? Era só para chamar atenção para o problema? Então, a manchete está errada da mesma forma. Poderia falar em denúncia, manifestação, protesto ou qualquer outra descrição similar. Se o jornal assume como fato uma intenção duvidosa, não é mais jornal. É press release. E press release de intenção duvidosa não é uma boa assessoria de imprensa.

A parte atribuída ao Itamaraty seria um pouco mais patética — se não fosse tão previsível. Qualquer assessoria de imprensa — mesmo a mais mambembe — sabe que o contexto inescapável da atual crise de Gaza é o poder obscuro que se estabeleceu sobre os palestinos.

Tanto o Itamaraty quanto qualquer representação nacional ou social têm — teriam — a obrigação de desqualificar, antes de mais nada, o Hamas como liderança legítima da Palestina. O Hamas hoje é, pelos motivos óbvios, parte importante dos problemas do povo palestino. Ninguém nesse suposto novo ativismo pró-Palestina desqualifica o Hamas em seu discurso. Isso é mesmo um movimento humanitário?

“O Itamaraty condenou a interceptação, dizendo que viola direitos e coloca em risco manifestantes pacíficos.” Ou o Itamaraty repudia a existência do grupo terrorista que domina a Palestina, ou não tem mais autoridade para falar em pacifismo. Nem no “Jornal Nacional”.

HÉLIO CRISANTO - UMA LUA, UM CAFÉ E UM BATENTE

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CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

DEU NO JORNAL

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA