JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Jorge Tibiriçá Piratininga nasceu em Paris, França, em 15/11/1855. Fazendeiro e político, foi um dos governadores mais progressitas de São Paulo. Filho de João Tibiriçá Piratininga, líder republicano, e Pauline Eberlé, veio para o Brasil aos 4 anos e fixou residência numa fazenda perto de Itu. Foi alfabetizado em casa pela mãe e concluiu os primeiros estudos no Colégio Barth. Aos 14 anos, viajou com a mãe para Zurique, afim de continuar os estudos.

O conflito na Europa na segunda metade do séc. XIX, com a guerra franco-alemã, dificultou sua estadia e causou a morte de sua mãe. Mas o pai, no Brasil, determinou que ele continuasse na Europa, onde concluiu o ensino médio no Colégio Riffel, em Zurique. Em seguida graduou-se em agronomia, concluiu o doutourado na Alemanha e emendou com um curso de filosofia em Zurique. De volta ao Brasil em fins da década de 1870, foi tocar a fazenda do pai, nas redondezas de Campinas; conheceu Ana de Queiroz Teles, com quem se casou em 1880, e se estabeleceu como fazendeiro e agrônomo. Com o falecimento do pai em 1888, herdou enormes extensões de terras. Seguindo os passos do pai, que foi presidente da Convenção de Itu e um dos fundadores do Partido Republicano Paulista-PRP e de seu sogro – Antonio de Queiroz Teles – que governou o Estado em 1886-87, logo ingressou na carreira política.

Como republicano apoiou o fim da escravidão e se antecipou à Lei Áurea. Foi um dos primeiros fazendeiros a fixar os imigrantes em suas terras, tornando-os pequenos produtores rurais, porém servindo aos seus negócios. Assim, a abolição não afetou tanto sua situação econômica. Com a proclamação da República, em 1889, Deodoro da Fonseca elegeu Prudente de Morais como governador de São Paulo, que logo deixou o cargo para se tornar senador do Congresso Constituinte. Assim, Tibiriçá chegou ao governo do Estado e iniciou o madato em outubro de 1890. Suas proridades foram a reconstrução da Estação Agronômica de Campinas e a organização das eleições para a Constituinte do estado. Mas devido aos atritos com o governo Deodoro da Fonseca, foi exonerado em 4/3/1891.

No plano estadual, os republicanos de São Paulo preparam as eleições de 1892. Jorge é eleito senador estadual, assume a vice-presidência do Senado e se torna membro da Comissão de Fazenda e Contas. No mesmo ano Bernardino de Campos foi eleito governador e convida-o para a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, tomando posse em 12/12/1892. Sua gestão foi marcada por um grande impulso no desenvolviento do Estado com o aumento significativo do fornecimento de água na capital, que passou de 3,5 milhões de litros diários para 31,5 milhões. Impulsionou a formação de engenherios agronômos e, consequentemente, o desenvlvimento agroindustrial. Sua atuação nestas áreas tornaram a Escola Politécnica de São Paulo, a Escola Prática de Piracicaba e o Instituto Agricola de Campinas, referências em nível nacional na formação de técnicos agricolas e fez de São Paulo uma potência agricola. Ficou neste cargo até 1895.

Amigo do arquiteto Ramos de Azevedo, promoveu a construção de diversos palácios na capital paulista, incluindo o Teatro Municipal. Pouco depois voltou a ocupar uma cadeira no Senado Estadual e em 1896 voltou a integrar as comissões de Fazenda e Contas, onde permanceu até 1900, quando passou a integrar, também, as comissões de Terras Públicas e Minas. Em 1901 foi reeleito senador e tornou-se membro das comissões de Indústria, Comércio, Obras Públicas e Estatística. Foi um político articulado e dotado de grande capacidade administrativa. Mesmo assim, sofreu um abalo com a crise do sistema cafeeiro no mesmo ano, obrigando-o a hipotecar sua Fazenda e conceder parte de suas terras para a subsistência de seus colonos. Encontrou uma saída na exploração da pecuária. Com a ajuda da esposa, passou a utilizar seu rebanho de gado na produção de leite e derivados

A crise do café fez com que o PRP voltasse a apostar em seu nome para nova candidatura ao governo de São Paulo. Assim, em 1904 foi eleito pela segunda vez com um madato até 1908. Contando com Washington Luís na Secretaria de Justiça e Segurança Pública, trouxe especialistas de Paris para ajudar na modernização da “Força Pública”, atual Polícia Militar e instalou a Polícia Civil, em 1906, nomeando apenas funcionário público, formado em Direito, para delegado de polícia. Esta modernização acabou com as indicações dos coronéis e ficou conhecida como “polícia sem política”.

Em sua gestão promoveu a aproximação com os governos do Rio de Janeiro e Minas Gerais, os maiores produtores de café, em prol de uma remodelação no sistema monetário. Com isso, teve que enfrentar o governo central de Rodrigues Alves e sua política de câmbio. Não podendo bater de frente com o governo central, promoveu, em agosto de 1905, uma reunião secreta com os governos do Rio e Minas Gerais ojetivando um pacto de proteção ao café com o aumento do seu preço no mercado internacional. O pacto ficou conhecido como “Convênio de Taubaté”, que rendeu uma expressiva lucratividade no setor. Isto se deu no ano de uma safra (20 milhões de sacas) que rendeu mais que o dobro das safras anteriores, O plano era que tais lucros fossem dirigidos à indústria, transformando-a no carro chefe da economia paulista.

Após deixar o governo em 1908, voltou a ser eleito para o Senado Estadual em 1916 e assumiu também a presidência do PRP, mantendo-se nos dois cargos até 1924. No mesmo ano renunciou o mandato de senador para assumir o cargo de ministro do TCE-Tribunal de Contas do Estado, a convite do governador Carlos de Campos. Na sessão inaugural de instalação da corte, foi escolhido por aclamação presidente do TCE, cargo em que permaneceu até o falecimento em 29/9/1928, aos 71 anos. Não obstante sua competência, prolífica vida política e relevância no desenvolvimento do Estado de São Paulo, hoje é uma figura pouco conhecida na história paulista. Sua vida e carreira política ficou registrada na biografia escrita por Rodrigo Soares Jr. Jorge Tibiriça e sua época, publicada por Rodrigo Soares Jr. pela Cia. Editora Nacional, em 1958.

4 pensou em “OS BRASILEIROS: Jorge Tibiriçá

  1. Excelente, Brito.
    Você não só nos trouxe à lembrança um grande brasileiro que a historiografia parece querer esconder, como retirou do esquecimento um verdadeiro homem público, como já não se fazem mais há muito tempo.
    Obrigado.
    Abraços.
    Airton

    • Grato Airton
      Fiquei lisonjeado com seu comentário sobre a síntese biográfica de Jorge Tibiriçá, que dizem ter abdicado do nome familiar Almeida Prado em troca do nome ancestral indígena Tibiriça, incluído em nosso Memorial, ainda mais vinda de um leitor qualificado
      Gratíssimo!

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