Sinésio Souza Lima é seu nome, os pais esforçaram-se para educar sete filhos. Durante a juventude, enquanto os amigos mais abastados, após o namoro bem comportado, de mãos dadas no portão da namorada virgem, subiam os degraus dos cabarés de Jaraguá, pagando descarrego e prazer com alguma mariposa do amor, Sinésio procurava aventuras com as jovens empregadas domésticas, geralmente vindas do interior tentando melhoria de vida, trabalhando em casas das famílias burguesas. As mais salientes saíam à noite em busca de aventuras, faziam ponto nas praças da cidade, gostavam de rapazes, estudantes, não cobravam pela noite de amor atrás de um muro ou na praia da Avenida da Paz. Sinésio, frequentador assíduo da Praça Centenário, conhecia, era íntimo das peniqueiras (assim eram chamadas maldosamente as empregadas domésticas – hoje seria crime), havia uma Associação no Farol, a famosa UCPM, União dos Conquistadores de Peniqueiras de Maceió, onde os sócios se reuniam contando aventuras, conquistas. Todos tinham postos, eram promovidos conforme o relato das aventuras, Sinésio tinha a maior patente, Marechal da UCPM. Por ser bom de lábia, cantadas açucaradas, prometendo o que não cumpriria, as empregadas apelidaram nosso amigo de Boca, assim ficou conhecido em todos os redutos da cidade.
Sinésio amava as domésticas, certa vez teve um caso prolongado, quase um ano com uma bonita morena. Maria Cícera trabalhava na casa de um médico na Rua Itatiaia. Os pais de Sinésio ficaram preocupados quando Cicinha apareceu grávida, um Deus-nos-acuda, falaram em casamento, aborto nem cogitar. A criança nasceu, Cicinha entregou-a aos pais de Sinésio que criaram o menino como filho fosse, o oitavo. Seus pais aconselharam, ele fez que ouvia, continuou em busca de suas queridas. Sinésio nunca perdeu o encantamento, a veneração pelas empregadas.
Ele casou-se com 31 anos, constituiu família, entretanto, não dispensava uma saída, uma voltinha quando podia acontecer. Sempre respeitou, à muito custo, as empregadas de sua casa, fez muita força, às vezes resistindo provocações de estar sozinho em casa com uma bela jovem. Fora de casa, dava umas saídas à noite para reunião com a turma no Shopping, mas, continuou exímio caçador de doméstica.
Certa vez, Marília, sua amada esposa, professora da Universidade, teve problema com uma empregada, dispensou-a e marcou entrevista numa agência. Numa segunda-feira, depois do jantar, a campainha tocou. Sinésio foi atender, deveria ser a nova empregada. Ao abrir a porta tomou um susto deparou-se com uma de suas conquistas amorosas. Rosa ao ver Sinésio não conseguiu segurar o espanto, saiu-lhe naturalmente um grito de espanto, “Boca?”. Ele assustou-se, perguntou o que queria, ela balbuciou, “sou a nova empregada, a agência me mandou”. Dona Marília se aproximava, ouviu o diálogo de espanto entre os dois, conhecia a fama do marido das brincadeiras dos amigos, dispensou Rosa na hora, não serve, disse. Ao fechar a porta perguntou, que história é essa de Boca, ela é sua amiguinha? Conta tudo, vai, quero saber. Boca? É assim que elas lhe chamam?
Sinésio recuperou-se do susto, defendeu-se.
– Não é nada que você está pensando, me respeite, você ouviu mal, ela falou “Boa”, de boa noite, como você é maldosa. Sou um homem sério, me respeite.
Deixou Marília em dúvida, o fato caiu no esquecimento. Por via das dúvidas, a esposa contratou uma matrona de 56 anos, exímia cozinheira.
Sinésio, agora aposentado, foi eleito síndico do prédio, está implantando a coleta seletiva de lixo no edifício, na primeira reunião para informações e procedimentos com todas as secretárias (é assim que se chamam hoje as empregadas domésticas) dos apartamentos, Sinésio ficou fascinado, deu-lhe uma recaída ao ver mais de vinte “secretárias” a seu redor no decorrer da reunião. Pelo olhar, sentiu atração por duas. Sentiu-se no paraíso. Depois de vários anos, o Marechal Boca volta a atacar, já tem planos, sem perceber que o mundo mudou.