Meu tio Paulo Afonso Lins dos Santos residia no bairro do Prado, no Recife, e sendo intelectual, atraia pessoas cultas para boas conversas no alpendre de sua casa, aos sábados.
Num desses encontros, lá pelos meses de 1952, quando eu tinha 16 anos, presenteou-me com a 1ª. edição da Revista “Manchete, de Adolpho Bloch. Era uma publicação que aparecia para concorrer com “O Cruzeiro”, de Assis Chateaubriand, publicação que logo se tornou a 2ª. do País.
Do plantel da Redação de Manchete estavam os intelectuais: Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Henrique Pongetti, Fernando Sabino, David Nasser, Nelson Rodrigues, entre outros.
O estilo de Pongetti logo me empolgou e, por isso, passei a ser leitor permanente de “Manchete”, sobremodo porque tio Paulo me emprestava os volumes lidos, pois estava formando uma coleção daquelas revistas.
Não tive o privilégio de conhecer o autor, mas segui seu estilo de crônicas, que comentavam temas da cidade do Rio de Janeiro. O cronista chamava a atenção por seus notáveis títulos:
“O rio que mora no mar.”
Não poderia descrever melhor sobre uma cidade que morava à beira mar. E sabendo-se que o próprio mar que lhe cerca à a extensão de sua área territorial; logo, também é o mar. Então muito própria foi a frase: O rio que mora no mar.
Em uma descrição em que enfocava determinado assunto saiu com esta:
“O Jogo do Bicho se enraizou na alma popular.”
Nem precisa comentar, porque aí estão as “Telecenas”, o “Baú da Felicidade” e vários outros sorteios que fazemos por via eletrônica.
Antes de ingressar nas páginas da Manchete, Pongetti tinha uma coluna permanente no jornal “O Globo”: “Show da Cidade”. Numa entrevista afirmou que o Rio de Janeiro e sua vida mundana eram verdadeiramente um show.
Assim, passei a estudar cada crônica e botar minha imaginação para funcionar, procurando títulos expressivos a fim de atrair o leitor; e lá adiante, no texto, focar uma frase qualquer capaz de lhe despertar atenção.
Notas do pesquisador Bruno Leal de Carvalhio informam que Henrique Feltrini Pongetti nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 18 de janeiro de 1898. Intelectual completo, foi dramaturgo, cronista, roteirista de Cinema e jornalista. Escreveu a peça teatral “Baile de Máscaras“, juntamente com o amigo escritor e jornalista Luis Martins.
Recebeu da Academia Brasileira de Letras o título de: “Príncipe dos Cronistas Brasileiros”. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 81 anos, em 09 de setembro de 1979.
Pongetti deixou para mim – como leitor anônimo – uma herança: a marca indelével de ter aprendido a escrever me aproximando do seu notável estilo de cronicar.