Poeta cantador pernambucano Otacílio Batista Patriota (1923-2003)
O POETA E O PASSARINHO
O poeta e o passarinho
são ricos de inteligência
simples como a natureza
eternos como a ciência
estrelas da liberdade
peregrinos da inocência.
Herdeiros da providência,
um no chão, outro voando,
um pena com tanta pena,
outro sem pena penando,
um canta cheio de pena,
outro sem pena cantando.
O poeta sofre quando
vê um pobre passarinho
nas grades de uma gaiola
sem ter direito a seu ninho
são iguais no sofrimento
o poeta e o passarinho.
O poeta afina o pinho
no viveiro da garganta
o passarinho poeta
por entre as folhas da planta
sem viola metro e rima
só Deus sabe o que ele canta.
Do poeta a musa é santa
santa musa da poesia
passarinho canta e voa
no espaço rodopia
faz ziguezigue no corpo
brincando com a ventania.
Ao romper de um novo dia
o passarinho gorjeia
canta o poeta a saudade
no clarão da lua cheia
faz da viola um piano
da garganta uma sereia.
O poeta traz na veia
os segredos do além
quando canta de improviso
não pergunta de onde vem
o poeta e o passarinho
não sabem o valor que tem.
O poeta vive sem
ódio, maldade e rancor,
ainda sendo traído
perdoa o seu traidor,
canta alegre o passarinho
sublimes canções de amor.
O poeta e o beija-flor
ambos vivem sem ciúme
um que canta, outro que voa
da planície ao alto cume,
um de versos perfumado
outro colhendo o perfume.
Nas camadas do verdume
o passarinho vegeta
não disse nem a metade
dessa dupla tão completa,
do poeta ser humano
do passarinho poeta.
* * *
NÃO OFENDA A NATUREZA
Não ofenda a natureza,
inocente e sem maldade,
a dona do pão da mesa,
coração da humanidade.
Em nome da consciência,
deixa a natureza em paz,
verde fonte da inocência,
mãe de todos os mortais.