Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, Recife-PE (1886-1968)
Os poetas são muito ególatras.
Bandeira fala com o espelho, que reflete sua imagem no momento em que escreveu.
Depois fala dos sonhos de uma criança interior que que iria embora com sua morte.
Sou mais a imbatível Florbela que ao menos era mais intensa e mexe com nossos sentimentos.