MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

São mais de 8 milhões de quilômetros quadrados perdidos no meio do nada! O nada parece um pântano de areia movediça que engole o caráter das pessoas e as transforma em simples fantoches. Já há algum tempo venho externando minha indignação com isso tudo e tudo que vejo é um cerco jurídico se fechando cada vez mais em torno de alguns e deixando, outros, totalmente livres. A sensação é de confinamento, para alguns, num grande círculo, enquanto outros apenas observam do lado de fora. A claustrofobia de uns será o remédio para a autofobia de outros.

Buscando frases de Roberto Campos para colocar no rodapé de uma lista de exercícios (sempre coloco em lista de exercícios, provas ou atividades, uma frase de alguém, algumas das vezes, frases minhas) e me deparei com uma frase de Roberto Campos que dizia: “Haverá salvação para um país que se declara “deitado eternamente em berço esplêndido” e cujo maior exemplo de dinâmica associativa espontânea é o Carnaval?”

Ao deitar-se em berço esplêndido, o gigante tornou-se algo diferente daquilo que preconizava a coragem do filho que não foge à luta. A sensação é que ou não existe luta, ou chegamos atrasados ou estamos nos recusando a participar e enquanto isso somos conduzidos de forma bem comportada para dentro do círculo do qual só sairemos curados.

Não sei ao certo qual a fobia que nos contagia, mas os sintomas são bem específicos e estão associados com a rejeição à: corrupção, aparelhamento do estado, justiça seletiva que libera corruptos e prende inocentes, poder absoluto da lei que desrespeita o “quantum” de 1/3 da república. Sim, ter tais sintomas nos transforma em doentes desenganados. Somos a reencarnação dos leprosos que há dois mil anos eram apedrejados nas ruas e precisavam se abrigar nas cavernas. Talvez seja isso: vamos isolar quem pensa diferente e tratar como se tratavam os leprosos.

Confesso que passa pela minha cabeça que a instrumentalização para a cura é o bisturi cirúrgico da lei. Vi um vídeo (no grupo do zap do Cabaré do Berto) que me assustou: um programa desenvolvido especificamente para o STF captar nas mídias sociais tudo que se referir ao órgãos, ao seus deuses e quiçá, aos órgãos dos seus deuses e dependentes também. Liberdade de expressão? Teremos, desde que não pronunciemos tais palavras ou que não chamemos um ladrão de ladrão.

Fica cá com meus pensamentos restritos que teimam em se materializar na forma de perguntas, mas as respostas me assustam, posto que, alguma delas eu deduzo facilmente. Não encontro resposta para “o que fazer?”. Não estou incitando a balbúrdia, a desobediência civil, nada disso, mas o que deve ser feito quando os órgãos institucionais se ergueram contra um governo legitimamente eleito e seus membros, que constitucionalmente deveria ficar isentos de partidarismo, foram os principais responsáveis por esse estado de incerteza?

Vamos fazer uma breve recapitulação: em 1988 o colégio eleitoral elegeu Tancredo Neves presidente com a proposta de fundar uma Nova República, mas quem governou foi José Sarney que vinha de um partido que deu sustentação ao governo militar que ora se findava. Em 1989, Sílvio Santos entrou na disputa pela presidência e deixou Collor de Melo em segundo lugar nas intenções de votos. A diferença era superior a 20 pontos percentuais. A campanha de Sílvio Santos durou dez dias e mediante decisão do TSE a candidatura foi cassada. O resultado é que Collor foi eleito porque naquele tempo o PT de Lula assustava até o bicho papão. Tratava-se de um governo de direita, mas com o impeachment assumiu Itamar que colocou Fernando Henrique Cardoso no ministério da fazenda, que convidou uma equipe – competente – de economistas para implantar o Plano Real e que com isso ganhou a eleição para Lula, em duas ocasiões. Resultado: de 1994 a 2018, o Brasil foi governado por partidos de esquerda.

Eu acredito que o pessoal que se diz de direita não consegue compreender e aproveitar as oportunidades que surgem. Bolsonaro montou um gabinete digno de referência. Teresa Cristina, Tarcísio Freitas, Moro, Paulo Guedes, mas tinha outros bem fracos em outras áreas prioritárias com saúde e educação. Perdeu tempo, dedicou parte do seu tempo a confrontos bobos e com isso perdeu a oportunidade de transformar o pensamento do país e continuar com a política econômica de Guedes que se apoiava na redução da inflação, no equilíbrio fiscal e no crescimento da economia com a redução do tamanho do estado.

Se você observar, Milei está fazendo algo extremamente parecido na Argentina e em poucos meses de governo já se vê protestos da população com medidas que deveriam ser adotadas de modo gradual. Já trocou um ministro por, supostamente, ser um “espião”. A Argentina é uma ilha na América do Sul: cercada de governos de esquerda por todos os lados!

Finalizo, chamando a atenção para a frase do Roberto Campos. Os fatos são assim mesmo: a única expressão espontânea é o carnaval. Talvez o poder espere que ele refresque a cabeça dos rebeldes. Talvez, quando a quarta-feira de cinzas chegar, tenha somente as cinzas de sonho ousado. Até o próximo carnaval vamos dizendo: “louco? Eu já fui louco! Me trancaram num quarto com ratos e os ratos me deixam louco”. Repete isso diariamente até o carnaval de 2025. É melhor.

8 pensou em “UM PAÍS DE MENTIRAS

  1. Excelente arrazoado.
    A prosseguirem as coisas nesse passo, logo estaremos todos proibidos e expressar qualquer tipo de opinião que não seja exatamente o que diria algum “jornalista” da globosta.
    Outra frase do saudoso Roberto Campos: “Um espectro ronda o país – espectro da desordem.”
    Quem sabe nos encontremos nas masmorras dessa “democracia relativa”…

  2. Os que hoje aplaudem o empurrar do país para o abismo, esquecem as lições do passado recebe.
    Avós e pais dos cubanos de hoje, choram por filhos e netos, pois apoiaram Fidel e suas estripulias.
    Da mesma forma, avós e pais dos venezuelanos, choram pelos filhos e netos que sofrem nas mãos do herdeiro de Chávez.
    Os que apóiam o regime imposto no Brasil não demora, chorarão a dor dos cubanos venezuelanos e seus filhos e netos pagarão pelos erros dos pais e avós tal qual ocorreu naqueles países.
    Torcendo para estar errado.
    Parabéns, professor!

    • Nonato, talvez a única forma de fazer a juventude mudar e pagando um estágio na a Coreia, Venezuela ou Cuba. Um reality life: o caro vai sobreviver com o fruto do trabalho.

  3. IMPECÁVEL arrazoado. Não esqueçamos jamais: QUE “Neste país, a única escola que recebe vultosos investimentos públicos e é defendida com unhas e dentes pela população é a Escola de Samba.”

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