PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

OS SOFRIMENTOS DE JESUS CRISTO – José Pacheco

Oh Jesus meu Redentor
dos altos Céus infinitos
abençoai meus escritos
por vosso divino amor
leciona um trovador
com divina inspiração
para que vossa paixão
seja descrita em clamores
desde o princípio das dores
até a ressurreição.

Dentro do Livro Sagrado
São Marco com perfeição
nos faz a revelação
de Jesus crucificado
foi preso e foi arrastado
cuspido pelos judeus
por um apóstolo dos seus
covardemente vendido
viu-se amarrado e ferido
nas cordas dos fariseus.

Dantes predisse o Senhor
meus discípulos me rodeiam
e todos comigo ceiam
mas um me é traidor
só a mão do pecador
meu corpo ao suplicio vai
porém vos digo que vai
do homem que por dinheiro
transforma-se traiçoeiro
contra o Filho de Deus Pai.

Todos na mesa consigo
clamavam em alta voz
Senhor, Senhor qual de nós
vos trai dos que estão contigo
disse Cristo: é quem comigo
juntamente molha o pão
e todos me deixarão
mas São Pedro respondeu
mestre garanto que eu
não vos deixarei de mão.

Em verdade deixarás
nesta noite sem tardar
antes do galo cantar
três vezes me negarás
Pedro com gestos leais
disse em voz compadecida
eis-me a morte preferida
mas não serei teu contrário
ainda que necessário
me seja perder a vida.

Estava tudo benquisto
com Pedro dizendo igual
até na hora fatal
da prisão de Jesus Cristo
então quando se deu isto
Pedro a espada puxou
num fariseu despejou
um golpe tão destemido
que destampou-lhe o ouvido
quando a orelha voou.

Ouviu a voz sublimada
de Cristo em reclamação
dizendo em repreensão
Pedro guarde a tua espada
deixa não promovas nada
porque tudo é permitido
não sejas enfurecido
não tentes e nem te alteres
pois se com o ferro feres
com ele serás ferido.

Jesus na frente seguia
na hora que lhe prenderam
todos discípulos correram
mas Pedro atrás sempre ia
de longe coitado via
Jesus de queda e de trote
sobre as mãos do grande lote
cada bordoada um passo
até chegar no terraço
da casa do sacerdote.

Depois da tropa chegada
Jesus foi interrogado
bastantemente acusado
e Pedro viu da calçada
quando veio uma criada
perguntando com rigor
– Tu és acompanhador
do que está preso aqui?
Pedro disse: eu nunca vi
nem conheço esse Senhor.

E assim continuou
de quando em vez a negar
antes do galo cantar
3 vezes Pedro negou
depois então se lembrou
do que Jesus tinha dito
amargo e bastante aflito
derramou pranto no chão
porque fez a transgressão
do que disse a Jesus Cristo.

Jesus além da prisão
bofetes e pontapés
ainda diziam: tu és
réu da crucificação
e procuravam razão
para o tal cruel transporte
uma testemunha forte
com legalidade pura
que lhe desse a desventura
passando a pena de morte.

O sacerdote indagou
perante os fariseus
tu és o Filho de Deus
disse Jesus Cristo: eu sou
em breve verão que vou
pra meu pai Celestial
eis a voz sacerdotal
pra que testemunha mais
do que as blasfêmias tais
da boca do mesmo tal.

E rasgando-lhe o vestido
cuspiram as faces divinas
logo das mãos assassinas
foi espancado e ferido
nas cordas foi envolvido
atado de braço e mão
no outro dia então
ordenou Poncio Pilatos
dizendo aos insensatos
dai-lhe crucificação.

Pilatos bem que sabia
quase com realidade
que por inveja ou maldade
deu-se essa algozaria
mas Jesus nada dizia
Pilatos quis revogar
mas não podia falar
tantos que lhe cercavam
que lhe pedindo gritavam:
mandai-o crucificar.

Sob o poder dos ingratos
escribas e fariseus
Jesus o Filho de Deus
foi entregue por Pilatos
os mais horrendos maltratos
cada um deles fazia
Jesus a cruz conduzia
golpe de sangue lançava
do peso que carregava
quando topava caía.

Do seu vestido brilhante
brutamente lhe despiram
depois noutro lhe vestiram
de púrpura agonizante
uma corôa infamante
de espinhos tecida a mão
pra fazerem mangação
na cabeça lhe botando
todos gritavam zombando
viva o rei da nação.

Um algoz lhe espancou
com uma cana pesada
que com esta bordoada
sua cabeça sangrou
seu sangue se derramou
lavando-lhes os ombros nus
e marchando em passo truz
para em Gólgota chegar
aonde ia se findar
morto e pregado na cruz.

Jesus depois de cravado
ouviu-se os gemidos seus
clamando Deus oh! Meu Deus
porque fui abandonado
e viu-se o astro nublado
trevas pelo mundo inteiro
um centurião fronteiro
disse verdadeiramente
este homem é inocente
filho de Deus verdadeiro.

E um algoz suspendeu
uma esponja flocada
numa cana enfiada
botou vinagre e lhe deu
logo ali Jesus morreu
com seu gesto divinal
que tormento sem igual
daquela tão vil derrota
foi Judas Escariota
o sacerdote fatal.

Que profano traidor
equiparado a Lusbel
da morte fria e cruel
foi êle o traidor
que fez nosso Salvador
na cruz de prego cravado
pelo corpo retalhado
fitas de sangue corriam
dos pregos que lhe feriam
cada qual mais aguçado.

Veio José de Arimatéia
pediu seu corpo e foi dado
pareceu sendo tocado
por uma divina ideia
tirou no meio da plateia
inda pregado na cruz
afastou-se dos tafus
antes do morrer do sol
envolvido num lençol
deu sepultura a Jesus.

Numa pedra natural
que tinha grande abertura
ele deu a sepultura
ao seu corpo divinal
felizmente este local
muito fácil ele encontrou
ali o depositou
a rocha era rachada
revolveu outra pesada
cobriu com ela e deixou.

Perto estava Madalena
que sempre a Jesus seguia
ela com outra Maria
ali chorava com pena
depois dessa triste cena
seguiram na noite escura
compraram essência pura
num vaso branco trouxeram
logo de manhã vieram
incensar-lhe a sepultura.

Porém um anjo sentado
em verdade lhe dizia
eis a rocha que jazia
Jesus o crucificado
mas já foi ressuscitado
para o alto tribunal
está na graça real
na corte santa e perfeita
da parte da mão direita
de Deus Pai Celestial

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