FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Uma epidemia de funestas consequências, o mal intitulado pelos peritos educacionais de analfabetismo funcional. A pessoa sabe, mal ou bem, ler o que se encontra escrito, mas não compreende o que está no papel resenhado. As sequelas de tal fenômeno estão grassando por toda parte, até irritando ministro que classifica uma gestão da sua área de masturbação procrastinatória, que não sabe sequer atentar para os fatos e as circunstâncias descritos em documento elaborado. E tal pandemia cognitiva está sendo agravada por uma conjuntura potencialmente deseducativa, que vitima os mais diferenciados setores da sociedade brasileira, incluindo os esportes e as manifestações religiosas, tudo bem mais doloroso, nos últimos tempos, pelo veloz desenvolvimento tecnológico das comunicações. Com um princípio universal sobrepairando sobre mentes e corações – “Se a democracia não pode tolerar a presença dos mais altos padrões de aprendizagem, então a própria democracia se torna questionável” -, o ambiente social termina sendo dominado por pulhas dos mais variados calibres e fingimentos, ampliando a crise e potencializando consequências autofágicas.

Não muito recentemente, um PhD de mesmo, o matemático John Allen Paulos, colaborador do The New York Times e da Newsweek, e autor do aclamado Mathematics and Humor, publicou um trabalho, intitulado Innumeracy, divulgado pela Nova Fronteira sob título Analfabetismo em Matemática e suas Consequências. Nesse estudo, ele ressalta o custo social provocado pela inabilidade de inúmeros diante de dados quantitativos, gerando decisões confusas, políticas governamentais equivocadas e a aceitação piegas de raciocínios jumentálicos e pérfidos malabarismos pseudocientíficos. Destilando um humor refinado, Allen Paulos salienta algumas “cavilações” advindas dos analfabetanuméricos, alguns deles executivos de primeira linha, dirigentes públicos e pessoas dotadas de taludas poupanças e consideráveis patrimônios, muitos dos quais sugados de comunidades tidas e havidas como dóceis manadas.

Do instigante trabalho do professor Allen Paulos, dois pequenos trechos devem ser difundidos, favorecendo uma maior eficácia dos procedimentos desbabaquizadores promovidos nas empresas, nas instituições públicas, nos lares e nos sistemas educacionais dos mais diferenciados graus:

1) “O analfabetismo em matemática e a pseudociência estão frequentemente associados, em parte devido à facilidade com que a certeza matemática pode ser invocada para obrigar os ignorantes a uma aquiescência muda”;

2) “Equívocos românticos quanto à natureza da matemática levam a um ambiente intelectual que favorece uma instrução matemática falha e até a estimulam, quando não incitam, a aversão psicológica pelo assunto”.

No mais é refletir dois mil réis sobre um pensar famoso de William Cowper, cientista Prêmio Nobel: “Seguir precedentes tolos e piscar com os dois olhos é mais fácil do que pensar”.

No último relatório do PISA 2023, recentemente divulgado, o Brasil se encontra classificado, entre 81 países, na última quarta parte da lista, revelando uma desconfortável PP – Precariedade Pensante, que menospreza um pensar crítico desatento às evoluções de uma IA – Inteligência Artificial que muito mais distanciará os talentos dos analfabetanuméricos, estes sendo vistos como a maior pandemia da pós-modernidade.

Um estimado amigo capixaba, hoje docente de Ciências Exatas numa universidade de Campina Grande, Paraíba, acredita, segundo definição dele, que o NBN – Nível de Burricídade Nacional se agigantará nos próximos anos, salvo se forem efetivadas estratégicas políticas educacionais públicas. Que favoreçam a elevação da Educação Crítica em todos os níveis de ensino. E ele recomenda aos seus derredores discentes minimamente pensantes, com entusiasmo de quase aposentado sempre sementeiro, a leitura de um livro recentemente editado: OS FUTUROS DE DARCY RIBEIRO, Andrés Kozel & Fabrício Pereira da Silva (orgs), São Paulo, Elefante, 2022, 304 p. Textos de um pensante para lá de arretado de ótimo, fundador da Universidade de Brasília. Que até hoje, juntamente com Paulo Freire e outros não muitos talentos, está fazendo uma falta do carajo (expressão usada pelo presidente argentino Milei) no cenário cultural brasileiro, hoje mais rabolátrico que argumentativo.

Formemos bons pedagogos, formadores de aprendizes multiplicadores, a vacina única contra uma analfabetização brasileira de desagradáveis infelicidades.

3 pensou em “TRAGÉDIA 21: OS ANALFABETANUMÉRICOS

  1. Agradeço o comentário e sugiro a oportuna leitura de um livro que muito nos fortalece mentalmente: A PSICOLOGIA DA ESTUPIDEZ, Jean-François Marmion, São Paulo, Faro Editorial, 2021, 320 p. Uma leitura amplamente binoculizadora, que muito favorecerá o PCC – Pensamento Crítico Cidadão.

  2. A matemática é a ciência que mais nos aproxima de Deus, especialmente, segundo Tesla, a junção dos números 3,6 e 9 mais suas combinações.

    Por ser uma ciência exata, a matemática é considerada por muitos autores entusiastas da teoria da Educação Crítica como uma ciência racista.

    Consciência social e senso crítico não se prestam a resolver cálculos e solucionar equações.

    Isso, obviamente, é um grave entrave para o avanço da mentalidade socialista revolucionária, que vê na disparidade de mérito pessoal (habilidades naturais + esforço + legado cultural herdado), inerente a qualquer grupo de indivíduos, um pecado mortal. A miséria (intelectual, no caso) adora companhia, por certo.

    Flertam eles até mesmo com o conceito de “progressão continuada” implementado no Brasil sob influência de Paulo Freire, o idealizador da “pedagogia do oprimido”, método este intrinsecamente ligado à queda acentuada de QI registrada em nosso país nas últimas décadas.

    É exatamente isso o que propõem eles quando dizem que seria descabido exigir a comprovação da assimilação dos conceitos básicos antes de passar para temas mais aprofundados.

    O intento destes autores constitui um verdadeiro crime contra a humanidade, na medida em que a matemática é a base da engenharia e da tecnologia da informação, duas atividades que permitiram o notável avanço dos índices de desenvolvimento humano registrado por todo o globo nos últimos dois séculos.

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