HÉLIO CRISANTO - UMA LUA, UM CAFÉ E UM BATENTE

Toda tapera esquecida
Nos confins desse sertão
Deixa um rastro de saudade
A lembrança de um pagão
Que sucumbiu sem defesa
Vítima de inanição

Quem sabe dessa tapera
Saiu um grande doutor
Um renomado juiz
Um conhecido cantor
Porque entre os pedregulhos
Também germina uma flor

Morcegos, ratos, corujas…
Dormem pelos seus escombros
O fantasma da pobreza
Seu dono levou nos ombros
Antro de vidas passadas
Onde dorme os “malassombros”

Na algaroba pendida
Dorme a casaca de couro
Numa estaca do curral
Arreia o chifre de um touro
Que morreu na sequidão
Berrando num bebedouro

Quem morou nesse casebre
Muita precisão passou
Talvez por necessidade
Varias vezes jejuou
Sem ter o pão da família
Olhou pro céu e chorou

Nela não resta sequer
O mugido de uma ovelha
O lodo do tempo cobre
As costas de cada telha
E o sol castigando as varas
Queimando como centelha

Sem ferrolho e sem tramela
O vento escancara a porta
Nos frechais da cumeeira
Despenca uma linha torta
Morrem secos os vegetais
Nos paus pendidos da horta

Museu de recordações
Rancho das desesperanças
Nas pedras dos teus batentes
Brincaram tantas crianças
Mas hoje da tua história
Restam somente lembranças

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