FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Confesso sempre que detesto discutir com quem não pensa, só rumina, critica e lamenta, sem uma mínima criatividade analítica. Todos eles me fazendo lembrar vagalumes que só acendem pela parte de trás, como se o fiofó tivesse algum QI.

Mas ler sobre política por gente que analisa e reflete, faz um bem danado de bom. E um dos pensantes que mais admiro, infelizmente já se encontra na eternidade, inspirando um montão de outros irmão desencarnados. E o nome dele é Rubem Alves (1933-2014), de nome completo Rubem Azevedo Alves, filósofo, teólogo, psicanalista e professor consagrado da Universidade de Campinas, São Paulo, mineiro de muita BS – Binoculização Social.

Com excepcional senso de oportunidade, a Companhia Editora Nacional lançou, em 2020, uma primorosa seleção de crônicas de Rubem Alves, algumas delas publicadas nos jornais Folha de São Paulo e Correio Popular, num livro intitulado CONVERSAS SOBRE POLÍTICA PARA TODOS OS TEMPOS. Com uma reflexão excelente na contracapa, feita pela sua filha Raquel Alves, atual presidente do Instituto Rubem Alves. Duas pequenas amostras: “Falar sobre política é um jeito de falar sobre nós mesmos. Falar dos nossos sonhos, do nosso estilo de vida e, principalmente, falar sobre o mundo que queremos e que construímos para nós e para aqueles que virão depois de nós.” A segunda amostra:

“Não há tempo certo para ler e pensar sobre as questões que Rubem Alves nos traz. Todo tempo é tempo de sonhar e construir. Sempre foi e sempre será. Seja passado, presente ou futuro, este livro será sempre fundamental e atual.”

No Prefácio, o aplaudido jornalista Jamil Chade revela que Rubem Alves, em seu texto, explicita que a insurreição, no Brasil, só se efetivará através da educação. E ressalta um pensar do teólogo mineiro: “Para que todo ambiente se democratize é preciso que o povo saiba pensar. Se o povo não souber pensar, votos e eleições não produzirão democracia.”
Do livro, lido e rabiscado por mim várias vezes, explicito abaixo algumas reflexões do notável Rubem Alves, por muitos amados e por alguns outros vistos com olhos enviesados, dada sua coragem gigantesca de opinar sem papas na língua, embora sempre muito caridosamente lúcida. Com licença do Luiz Berto, apresento algumas neste fubânico jornal:

“O crime não começa com o dedo que puxa o gatilho. Ele começa naquele que fabrica a arma.”

“A presença dos ratos na vida brasileira é evidência de que o nosso povo não sabe pensar, não sabe identificar os ratos.”

“Um povo se faz com ideais, com esperanças partilhadas. Estava certo o poeta Tagore quando dizia que o povo pedia canções. Como o Guimarães Rosa, vivo na esperança da ressurreição dos mortos.”

“Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.”

“A essência da representatividade é a igualdade entre o representado e o representante. Uma raposa não pode representar as galinhas. O dono da fábrica não pode representar os operários, nem um heterossexual pode representar os gays.”

“Não acredito que o conformismo dos homens se deva ao fato de que eles não dão importância ao próprio governo. Deve-se, ao contrário, ao fato de haverem perdido as esperanças. Sabem que seus esforços são inúteis.”

Que os leitores se cidadanizem mais, pensando mais racionalmente, com coragem e binoculização. Caso contrário, tudo vai dar mel…

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