XICO COM X, BIZERRA COM I

E FAZ BEM AO CORAÇÃO, AO PÂNCREAS e À ALMA

Desaprendi o ‘Sinal da Cruz’ e o ‘Em nome do Pai’ que me ensinaram nos catecismos infantis. Salve-Rainhas e o Credo em Deus Pai são coisas do passado. Já os esqueci, ambos, por inúteis que são. Só me restou, de todos essas rezas e aprendizados que de nada servem, o respeito e a crença em Deus. Conversar com Ele, o faço todo dia, a meu modo, e sei que Ele me ouve. Igrejas para mim são todas iguais com seus vendilhões ávidos por lucros e metais. Iguais a todo e qualquer prédio, de quartéis a cabarés, de bares a teatros, aglomerado de tijolos e cimento, que abrigam soldados ou putas, bêbados ou artistas. Minha religião independe de templos: basta fazer o bem, respeitar a crença alheia e ajudar a quem precisa, na medida do possível. Ser bom, ou tentar sê-lo, não é ser rato de sacristia nem provedor material de falsos profetas. Também não é frequentar centros de umbanda ou mesa branca, saber de cor o Alcorão ou raspar a cabeça e virar Rare Krishna. Ser bom não é tampouco decorar o Bhagavad-Gita e saber Sânscrito de trás para frente e da frente para trás. Não! Ser bom é muito mais simples. Começa por não ser mau. O coração, o pâncreas e a alma agradecem. E meus joelhos não se ralam.

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3 pensou em “SER BOM É TÃO BOM

  1. Ótima reflexão, extraordinário poeta das crônicas leves, Xico Bizerra.

    Mais uma vez meus parabéns pela aula de civilidade! São geniais!

    Certa vez (e não foi só uma!), eu estava no Centro. Encontrei duas garotinhas sentadas em companhia de um cachorro vira lata. Elas olharam para mim e, com os olhos tristes, pediram para eu comprar-lhes uma “coxinha.” Estavam com fome.

    Perguntei se não queriam almoçar, já que passavam das 12h. Aceitaram a proposta. Entrei com elas no restaurante. O garçom ficou desconfiado. Pedi que elas sentassem numa mesa. Dirigi-me ao atendente e solicitei dos almoços e mais refrigerantes ou suco. Paguei. Elas comeram. Perguntei se estavam satisfeita. Elas disseram que sim. Após o almoço, deram uma parte ao cachorro e o resto puseram numa bolsa para levar para a avó, no Alto. Demovi-as da ideia. Mandei o garçom preparar um almoço num prato de plástico. Elas ficaram pulando de emoção. Pegaram o almoço, chamaram o cachorro e tocaram para casa com a barriga cheia e feliz!

    Eu preciso da Igreja para me dizer se o que eu fiz foi um gesto cristão ou não? E se eu pegasse esse dinheiro e ofertasse aos pastores em forma de dízimo, como ficaria a barriga faminta das crianças?

    Fraternais saudações, amigo Poeta!

  2. Exatamente isto, meu caro Cicero. De que adiantaria igrejas, pastores, aleluias e améns se aquelas crianças permanecessem com fome e olhar triste? O pagamento (embora você não mirasse isso) veio de imediato com o sorriso e o brilho de alegria nos olhos das meninas. Certamente os olhos do cão também brilharam.

    • Caro Xico:

      Proponho um desafio humanitário, já que o mundo está tão materialista e os poetas possuem essa áurea de torná-lo leve. O mundo, não, as pessoas (nem todas, que fique bem claro!):

      Escreva um poema sobre essa paisagem plástica vivida por mim: duas crianças famintas no sinal de trânsito. Um vira lata leal a tudo atento e balançando o rabo de alegria, sem entender bulhufa do que estava se passando. As crianças são convidas para comer, apenas satisfazendo com uma “coxinha.” Mas o estranho lhes propõe pagar um almoço. Elas sorriem e aceitam. Comem. Ficam felizes. Quis levar o resto da comida para a Avó no saco de plástico. O estranho propôs um almoço para a Avó. Elas agradecem. E os três alimentados, crianças e cachorro, tocam para casa de barriga cheia acreditando, mesmo inconsciente por serem crianças, que no mundo ainda existem pessoas solidárias que ajudam crianças com um prato de comida sem interesses outros!

      Englobe também a indiferença do primeiro atendente (garçom).

      Forte abraço do fã! Eu vou ficar muito feliz!

      Já tentei escrever um crônica sobre essa passagem, mas fico travado de remoço e alegria, e nada sai!

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