MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

2021, o ano em que pandemia se tornou coisa corriqueira

– Era para ser alguns dias, que tudo se resolveria. Depois, era para ser algumas semanas, para o sistema de saúde se preparar. Depois, era para não faltar UTI, só que sempre faltou UTI. Depois, era para esperar a vacina. Todo mundo tem que tomar a vacina e quem não tomar é negacionista e terraplanista, mas tomar vacina não adianta porque tem que continuar usando máscara.

– Todas as prefeituras combinaram direitinho com o vírus quando ele contaminava: só nos bares e restaurantes, só depois das 18, ou das 19, ou das 20, dependia da cidade. Nos ônibus lotados, não pega.

– Como era para evitar aglomeração, as prefeituras mandaram diminuir o horário de funcionamento dos supermercados, o que fazia todo mundo se aglomerar nos horários em que eles funcionavam.

– Os especialistas diziam que com um certo percentual de vacinados atingiríamos a “imunidade de rebanho”. Já temos mais de 80% de vacinados e até agora só temos rebanho, mas nada de imunidade.

– Todo mundo que tinha salário garantido se tornou fiscal da vida alheia e ficava repetindo no facebook que eram pessoas do bem, evoluídas, conscientes e com empatia, enquanto xingavam os outros.

– Ninguém gritou “fique em casa” para o porteiro do prédio, nem para os lixeiros, funcionários do supermercado ou entregadores do iFood.

– As escolas ficaram dois anos sem aula, mas considerando o nível do nosso sistema educacional, é pouco provável que isso tenha feito alguma diferença.

– Na área de medicamentos, a ciência há décadas seguia protocolos que exigiam anos de testes e pesquisas antes que um medicamento fosse considerado seguro e liberado para uso. De repente, tudo isso foi esquecido, e quem pergunta por quê, escuta como resposta “é ciência”.

– Como o governo proibiu todo mundo de comprar vacina exceto o SUS, o brasileiro concluiu que o SUS é indispensável, e quem não concordar com isso é genocida.

– Era para ser duas doses, mas aí decidiram que era melhor dar a terceira, depois a quarta, quem sabe a quinta, talvez a sexta…

– Primeiro disseram que não era necessário vacinar crianças, agora crianças têm que ser vacinadas. É ciência. Ou talvez seja apenas o interesse nos bilhões que são movimentados nos negócios com os fabricantes de vacina, e ninguém pode perguntar nada porque é uma emergência. Só para lembrar: duzentos milhões de doses a dez dólares cada (parece que é mais) são dois bilhões de dólares, ou onze bilhões de reais. Para duas doses, é o dobro. Para três doses…

– Na Europa, estava todo mundo vacinado e tudo parecia resolvido, mas veio uma variante com nome grego e começou tudo de novo. O alfabeto grego tem 24 letras, e depois da omicron há mais nove. Quando acabarem as letras, qual alfabeto vão usar? Talvez o japonês, que têm 2136 símbolos no alfabeto kanji.

– Como é preciso evitar aglomerações, nas cidades turísticas os hotéis estão lotados para a noite de ano-novo. As autoridades garantem que todo mundo vai ficar quietinho em casa durante o carnaval.

– Muitas pessoas acham perfeitamente normal quando as autoridades dizem que não existem direitos individuais e que todos devem aceitar qualquer coisa em nome do interesse público. Quem define o que é interesse público são essas mesmas autoridades.

– Este é o mesmo país em que um juiz proíbe a Petrobrás de reajustar preços falando em “busca desmedida de lucro” e “consagração de um sistema econômico perverso”. Se o povo acha que as autoridades podem cancelar os direitos individuais, é natural que as autoridades também possam determinar qual seria o lucro aceitável, e qual sistema econômico é bom e qual é perverso.

– Aliás, a composição dos preços dos combustíveis é perfeitamente conhecida, mas cada um têm um culpado diferente pela alta dos preços. Aqui, até a matemática é relativa.

– O IGP-M acumula alta de 45% em dois anos.

– Pensando mais longe: as autoridades dizem que a democracia é fundamental para a liberdade, mas o conceito de democracia diz que se 51% das pessoas acharem que não deve haver liberdade, os outros 49% devem se conformar.

Um comentário em “RETROSPECTIVA

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