Eu acho incrível as críticas que a esquerda faz ao governo atual e, principalmente, a política econômica adotada pelo ministro Paulo Guedes. Logicamente, não tenho a pretensão de que todo mundo concorde com tudo que tem sido feito. Em qualquer democracia é salutar que exista oposição, mas que esta fiscalize o governo e apresente propostas. Não é o caso do Brasil. Aqui não se fiscaliza, só se critica, e após um ano de governo a esquerda continua gritando “fora Bolsonaro”.
Pra ser mais exato, não é a crítica em si que me incomoda, mas a falta de coerência dos críticos. Eles simplesmente esqueceram o que fizeram no passado e agora cobram do governo ações para corrigir os erros que eles cometeram e os desvios que praticaram. Basta qualquer coisa acontecer e logo a gente ouve “esse governo que está aí”, embora alguns indicadores econômicos mostrem que o Brasil está melhorando. Particularmente, gostaria de citar três casos.
O Banco Central divulgou um déficit nas contas externas de US$ 50 bilhões, em 2019, e isso foi suficiente para o pessoal de memória fraca ir para as redes sociais cobrar explicações do governo. Primeiro é preciso entender que temos déficit nas contas externas desde muito tempo. Só em 2010, o rombo foi US$ 79 bilhões. Em 2014, ápice do desastre econômico de Dilma, tivemos US$ 101 bilhões de rombo e somente em 2017, já no governo Temer, as contas externas ficaram negativas em US$ 15 bilhões, o menor saldo da década. Então, qual o motivo desse alarde? As contas externas envolvem mais do que a balança comercial cujo desempenho, inclusive favoreceu este resultado. Ao contrário de anos anteriores, a entrada de capital externo no Brasil chegou a US$ 78 bilhões e a esquerda não comemorou. Então, de certo modo o governo tem como cobrir esse rombo, embora o ideal fosse que estes recursos de investimentos externos se destinassem a geração de emprego. Ninguém olha o passado. Simplesmente descem a lenha na política de Guedes como se dentro de um ano ele fosse obrigado a consertar as mazelas deixadas nesse país. Economia não é miojo, digo sempre.
A segunda questão ainda fala de dívida, mas agora nossas contas que fecharam com um saldo negativo de R$ 95 bilhões. Ninguém lembra que essa situação está assim a seis anos, ou seja, desde 2013 temos um rombo nas nossas contas, mas quem critica fala do buraco sem sequer lembrar que, embora negativo, este é o menor saldo negativo dos últimos seis anos. Os números estão disponíveis no site do Banco Central, basta consultar e interpretar, mas ninguém da esquerda tem interesse em analisar dados. O que se quer é divulgar notas com informações negativas com o intuito de desestabilizar o governo.
A terceira questão é sobre a tal caixa preta do BNDES e a auditoria de R$ 48 milhões que não encontrou nada. Eu trabalhei em bancos sendo responsável pelas operações de repasses do BNDES e da FINAME e sei como funciona. Em 31 de agosto de 2019, publiquei aqui um texto intitulado JATINHOS FINANCIADOS explicando onde estava a perda de dinheiro na operação que financiou o jato de Luciano Hulk. O que houve no caso dessa auditoria foram dois erros bobos: açodamento por parte do governo e análise errada das operações. Vamos comentar primeiro o erro na análise.
Aparentemente, a auditoria focou contratos, liberação de crédito, reembolso de parcelas, etc. e não focou as condições de financiamento. Como eu disse, fiz um demonstrativo, no texto citado, com base em informações divulgadas sobre as operações de FINAME para financiamentos dos jatos. Apenas no caso de Luciano Hulk calculei um prejuízo para os cofres públicos de R$ 1.618.340,43. Se eu tivesse acesso ao contrato teria feito isso com mais precisão.
A questão do açodamento é que o governo está caçando vampiros com reza e não com estaca e alho como ensinado nos filmes de Drácula (Santo Altamir Pinheiro me acuda!). Esse trabalho não era pra ter sido conduzido dessa forma e ele deveria focar, num primeiro instante, os contratos com governos corruptos como Venezuela, Cuba, Angola e tudo mais. As operações de FINAME são feitas através de agentes financeiros que assumem todos os riscos. O BNDES não tem inadimplência nessas operações porque, como se trata de repasses, o agente financeiro é intermediário, isto é, ele recebe os recursos do cliente, retiram seu “Del credere” e repassam o resto para o BNDES, em datas especificas (no meu tempo, o repasse era feito no dia 15 de cada mês). Se o cliente pagar ou não a prestação, o agente financeiro é obrigado a repassar o valor devido ao BNDES, logo não há inadimplência. Focaram o problema de forma errada.
Como consequência, o pessoal da esquerda se locupletou esbanjando sorrisos e acreditando que essa auditoria atesta as ações que foram feitas. A pressa do governo em apontar culpados levou a esse erro de estratégia e acabou favorecendo o discurso de inocência que sempre pregaram. O presidente se perde pelo que fala. Antecipa ações dessa natureza e se expõe a erros. Coisas desse tipo precisam ser feitas internamente e só depois referendado por consultores externos. O que deve ser divulgado é o relatório de apuração, não a ação previamente.
Entendo que as propostas de Guedes devem continuar. Particularmente, sou favorável ao programa de privatização e, recentemente, falando com uma pessoa sobre isso ela criticou o que tem sido feito, mas eu fiquei pensando sobre o assunto e me perguntando: não pode privatizar porque vai tirar o emprego de um cara cujo salário é pago pelas pessoas que estão na iniciativa privada? É esse o argumento? Na nossa economia, o setor privado emprega menos que o setor público e não me parece que esse seja o caminho para o desenvolvimento. Há muita coisa para se consertar. O governo precisa acertar mais, entretanto, o presidente precisa entender que não está jogando vídeo game.
Prezado Sr. Maurício, seus artigos são sempre uma aula de como funciona o Universo das complicadas transações comerciais executadas pelos senhores que estão nos diversos órgãos governamentais.
Talvez se lhe tivessem convidado para a tal “auditoria” a conta seria bem menor e mais, seria uma chance para agrupar seus alunos ou ex-alunos.
Forte abraço a toda família Assuero.
Prezada, muito obrigado pelas palavras.
Assuero: O PT e a “esquerda” sempre estevem onde sempre estevem, e sabem fazer muito bem: fazerem oposição sem apresentarem solução. Quem não se lembra de Lula no ABC Paulista e os conchavos com os empresários para manter a mordomia?!
A única oposição que o PT sabe fazer é organizar-se para saquear o país e expandir essa organização criminosa para países pobres. Podia! Agora, dançou!
Nenhum governo que entrasse teria a mágica de consertar os desmandos criminosos na economia provocados pelo PT e sua ORCRIM. Isso são fatos, e não invenção de economistas e analistas coerentes com a realidade. Não sou economista feito o nobre colunista, mas tenho a lógica no cérebro!
Concordo com mais outro ponto do artigo, professor Assuero: quando começarem as privatizações em massa das grandes “empresas estatais”, autarquias, empresas mistas (tipo Compesa, que só se sustenta porque não paga a matéria-prima: a água), Bando do Brasil, Petrobras, Eletrobras e outros sanguessugas, o Brasil dará um salto de qualidade e eficiência! Paulo Guedes está fazendo a lição de casa: trabalhar em pró do País!
Correção: “O PT e a oposição sempre estiveram onde sempre estiveram”…
Cícero, eu acho que o governo perde tempo com bobagens. Para demonstrar que houve roubo, não precisava contratar essa auditoria. Eu vou estudar as contas da Odebrecht, sem alarde.
Assuero, tomei a liberdade de criar uma lista de transmissão e enviar o link para parte dos meus contatos do WhatsApp.
Brilhante como sempre você.