Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde as epgênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Cruz do Espírito Santo, Paraíba (1884-1914)
Leio e releio este e outros poemas de Augusto dos Anjos, e não me canso. Leio em silêncio, em voz alta, em silêncio de novo, e não me canso. Sensacional!
Marcos Mairton, é de uma verdade tao delicada, nao é mesmo?
Sim. E o vocabulário complexo não tira a leveza.