São Luís, capital do Estado do Maranhão é um dos melhores lugares para alguém viver. Alguém que não exija tanto de si mesmo e de seus pares.
Rios perenes, clima com variação aceitável – mas que, infelizmente, vem sofrendo com péssimas administrações desde muito tempo.
Os moradores convivem com a extrema pobreza e a única coisa abundante é a “falta de tudo”. Necessidades básicas, falta tudo. Fornecimento d´água é caótico, esgoto sanitário não existe, saúde nem pensar, transporte urbano caótico, ordenações do trânsito, uma verdadeira merda.
Mas, se por um lado falta tudo, a cultura popular é algo abundando e que, como o circo, faz o povo esquecer as necessidades básicas de uma boa saúde pública e de educação beirando o zero.
São fortes três itens da cultura popular: Tambor de crioula, Cacuriá e Bumba-boi. Esse último é tão fortemente envolvente que, alguém que jamais escutou uma “toada” de qualquer sotaque do bumba-boi do Maranhão, sairá dançando e cantando como se vivesse na cidade há anos.
Entre as toadas que viraram sucessos, destaque para “Se não existisse o sol”, cantada pelo “cantador” Chagas da Maioba, que chega a ser apresentada até por sotaques diferentes e “adversários”
Vejamos:
Se não existisse o sol
Chagas – o “cantador” da Maioba
Se não existisse o Sol
Como seria pra Terra se aquecer
E se não existisse o mar
Como seria pra natureza sobreviver
Se não existisse o luar
O homem viveria na escuridão
Mas como existe tudo isso meu povo
Eu vou guarnecer meu batalhão de novo
OBSERVAÇÃO: Atualmente Chagas não faz mais parte do Bumba-boi da Maioba, e mostra sua competência e categoria por outro “sotaque” da Ilha.
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BARRIGA DE CHORO
Mãe mandando filho “engolir o choro”
Na mais recente oportunidade que estive em Pindaré-Mirim, logo ao término da Piracema, fui comprar uns peixinhos (e só comprei peixinho mesmo, pois o grandes não estavam liberados ainda, haja vista que, eles que desovam) para comer. Comprei piaus, anojados, lírios, mandis, tapiacas.
Comprei passagem para voltar na tarde do dia seguinte. Na noite anterior choveu muito. Choveu tanto, que vi cachorro bebendo água em pé, e tendo dificuldade para nadar em algumas ruas alagadas. Com certeza, a chuva era tão forte que, dez pingos encheriam uma garrafa d´água.
Calçado com essas sandálias das propagandas, tive que tira-las dos pés, para não perdê-las na correnteza que se formava no trajeto de uns 30 metros do bar onde enxugava umas louras, até o carro do cunhado.
Foi naquele momento que viajei, e me vi na infância. Tempos bons. Quando começava a chover – coisa rara na minha Fortaleza dos anos 50/60 – a gente colocava o calção e procurava o primeiro “jacaré”, que em São Luís é chamado de “biqueira”. E tome banho e tome banho.
Quando estava de bom humor, a mãe até levava sabonete e toalha. Quando isso não acontecia, ela bradava:
– Chega! Tá bom! Tá na hora de parar! Tá querendo ficar branco, é?
E eu e os outros irmãos, todos “tremilicando” de frio, com os beiços roxos de tanto banhar, nem nos atrevíamos a reclamar.
– E fique aí mesmo! Não me venha molhar o chão da casa! Não quero mais escutar um pio!
Arre égua! Como era bom aquele tempo. Até mesmo quando a gente apanhava, e era obrigado a escutar:
– Engole o choro! Eu engoli tanto choro, que hoje minha barriga é grande.