Guilherme Macalossi
Sidônio Palmeira está para a inflação como Janja da Silva está para as relações públicas no governo Lula. A presença do ministro da marquetagem do governo Lula durante o anúncio do chamado “pacote anti-inflacionário” enfatiza a natureza da ação: panfletária. Já a ausência de Fernando Haddad, responsável pela política econômica, ressalta o contexto de sua progressiva perda de relevância política. Ele, mais do que ninguém, é que deveria ser a figura central do evento. Mas foi posto de lado, assim como a razoabilidade da política fiscal, substituída por um conjunto de medidas paliativas e inócuas.
Há uma inequívoca tentativa de terceirizar responsabilidades sobre a alta da inflação e dos preços dos alimentos no governo Lula. Os culpados agora seriam os produtores gananciosos e os governadores, estes últimos omissos que não estariam dispostos a abrir mão de qualquer arrecadação própria. A estratégia é mostrar que o governo federal ao menos está tentando fazer alguma coisa, passando o desgaste adiante.
Ao invés de corrigir a trajetória da dívida pública, que continua com viés de alta, o governo prefere corrigir os problemas com unguentos. A principal proposta é zerar o imposto de importação para forçar uma redução do valor de produtos como carne, café, milho e azeite. Outras medidas incluem estímulos à produção de alimentos da cesta básica, criação de um selo para identificar melhores preços e diálogo político com governadores para que estes também reduzam ou zerem o ICMS sobre itens da cesta básica.
O governo Lula acha que país enfrenta uma inflação decorrente de oferta, como se tivéssemos problemas de produção e de abastecimento. O erro de diagnóstico é tão elementar que ignora até o protagonismo do Brasil na produção de muitos dos produtos que terão a importação facilitada com as medidas tarifárias.
Na média, ou o Brasil lidera ou está entre os principais países exportadores dos itens que estão sendo impactados. E mesmo quando importa, as compras são provenientes de países que participam do Mercosul e que, portanto, são isentos de tais tarifas.
Na tarde de sexta-feira (7), durante um discurso feito em visita a um assentamento do MST, Lula mencionou que poderia tomar atitudes mais “drásticas”, já que “o que interessa é levar a comida mais barata para a mesa do povo brasileiro”. O que seriam as tais medidas “drásticas”? Vai determinar o congelamento de preços? Vai estatizar supermercados para forçar o acesso a produtos dentro do patamar de preço que o governo entende ser razoável? Lula sabota o próprio esforço de comunicação do governo ao deixar no ar o que pode fazer a respeito da inflação e do preço dos alimentos, ainda que nada disso seja possível do ponto de vista da viabilidade econômica.
Há certo incomodo nas falas de Lula. E isso se explica pelas pesquisas de opinião. No último levantamento feito pela Atlas Intel, o petista aparece com 50,8% de ruim e péssimo, um aumento de mais de 4,3% em relação ao levantamento anterior. 49,4% consideram seu governo pior do que o de Bolsonaro. A alta da inflação faz subir a rejeição do presidente. Hoje, no Brasil, só a demagogia é barata.