Clóvis Beviláqua nasceu em Viçosa do Ceará, em 4/10/1859. Jurista, filósofo, escritor, crítico literário, jornalista, historiador e autor do projeto do Código Civil Brasileiro, que vigorou de 1916 a 2002. Filho do padre e político José Beviláqua e Martiniana Maria de Jesus, teve os primeiros estudos em sua cidade natal. Em seguida, estudou em Sobral e Fortaleza, onde concluiu os estudos no Liceu do Ceará.
Em 1876 mudou-se para o Rio de Janeiro, e passa estudar no Mosteiro de São Bento. Aos 17 anos, junto com Silva Jardim e Paula Ney, fundou o jornal “Laborum Literarium”, dando início a carreia literária. Dois anos após, mudou-se para o Recife e ingressa na Faculdade de Direito, passando a integrar a famosa “Escola do Recife”, seleto grupo de filósofos e intelectuais da época, destacada na filosofia do direito. Em 1882, ao receber o diploma de advogado, foi escolhido como orador da turma. Atuou com desenvoltura entre os filósofos positivistas ao lado de Tobias Barreto, Farias Brito, Capistrano de Abreu, Silvio Romero e Rocha Lima entre outros. Em 1889 passou num concurso público para lecionar Filosofia e pouco depois assumiu a cátedra de Legislação Comparada na Faculdade de Direito do Recife.
Em 1883 publicou A filosofia positivista no Brasil, onde manifesta sua adesão ao “monismo evolucionista”, uma corrente científica do positivismo contrária a tendência mística. Assim, torna-se partidário do “evolucionismo”, inspirado mais em Spencer e Haeckel do que em Auguste Comte, que prevalecia no sul do País. Por essa época colaborou com artigos publicados na “Revista de Estudos Livres”, dirigida por Teófilo Braga, divulgador do positivismo em Portugal. Casou-se, aos 25 anos (1884), com Amélia de Freitas e passou a colaborar com diversos jornais e revistas: “Revista Contemporânea”, “Revista Brasileira”, “Vigílias Literárias”, “A Ideia Nova”, “O Pão”, publicação do movimento literário “Padaria Espiritual”, do Ceará.
Com a proclamação da República, em 1889, foi eleito deputado da Assembleia Constituinte. Mudou-se para Fortaleza e participou na elaboração da Constituição do Ceará. Foi o único mandato político que exerceu não obstante os convites para a Câmara dos Deputados e para o Senado. Foi indicado para governador do Ceará, mas declinou do convite. Segundo Hermes Lima “A política não o seduziu. Não o seduziu a advocacia. Desde moço ocupa-se de questões gerais de filosofia, de sociologia, de direito e de literatura”. Em 1894 incursionou pela ficção mesclada com filosofia e publicou o livro Frases e fantasia.
Com esta incursão, foi convidado como sócio fundador da Academia Brasileira de Letras-ABL, em 1897. Sem abandonar a literatura, atuou em diversas áreas jurídicas e politicas: promotor público, membro da Assembleia Constituinte do Ceará e do Instituto Histórico e Geográfico, secretário de Estado (Piauí). Em 1899 foi convidado pelo Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa, para redigir o projeto do Código Civil Brasileiro. No ano seguinte, mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro e concluiu o trabalho de próprio punho em 6 meses. Mas, o Congresso Nacional precisou de mais 15 anos para análises e emendas, sendo promulgado em 1916. Na tramitação, o projeto recebeu críticas de Rui Barbosa quanto a linguagem apresentada, mas foi rebatido pelo filólogo Carneiro Ribeiro.
Ente os mais de 30 livros publicado, esta foi a obra que deixou-o imortalizado no cenário jurídico nacional. Em 1906, o Barão do Rio Branco convidou-o para dar consultoria jurídico do Ministério das Relações Exteriores, cargo exercido por 28 anos. Convidado, em 1920, para integrar o Comitê dos Juristas no Conselho da Sociedade das Nações, não pode comparecer, mas enviou um projeto de organização da Corte de Justiça Internacional. Continuou publicando na área literária e no Direito, sobretudo os Comentários ao Código Civil, em 6 volumes. Além disso, deu uma substancial contribuição ao estudo do Direito da Família, das Obrigações e das Coisas. Conta, também, com uma sólida contribuição, principalmente em livros de Direito Civil e Legislação Comparada.
O jurista adorava animais e sua casa era repleta de gato, cachorro, aves, tartaruga etc., que viviam em harmonia com uma biblioteca de mais de 20 mil livros espalhados em todos os quartos. Era um “epicentro do saber jurídico” na cidade. Sua neta conta que às vezes alguém se dirigia à sua casa para pegar algum parecer e ele pedia para aguardar porque um gato estava dormindo sobre a pilha de papéis: “Vamos esperar o gatinho acordar”. Sua vida foi modesta e se manteve em relativo conforto devido a receita provinda dos diversos pareceres que elaborava para o público em geral. Em 1930, sua mulher também escritora, candidatou-se a uma vaga na ABL, mas foi recusada pelo fato de ser mulher. O casal ficou ressentido com o fato e ele nunca mais retornou à ABL.
Em 26/7/1944, sua filha encontrou-o caído em seu escritório sobre a mesa de trabalho cheia de folhas de papel com textos manuscritos e incompletos. Faleceu em plena atividade e deixou um legado precioso ao estudo e aplicação do Direito. Seu nome e estátua passou a constar em diversos logradouros públicos, particularmente nas praças de sua cidade natal, Fortaleza e São Paulo, onde se encontra o Palácio da Justiça, no centro da cidade, contigua a Praça da Sé.
Esse eu não conhecia.
Quando acabar ainda tem chame este JBF de “Bixiga lixa”.
Caro Jesus
Em Pernambuco, uma coisa “da bixiga lixa”, também quer dizer “do balacobaco”, “arretado”. Assim, podem falar do JBF à vontade,
No bairro do Hipódromo, Recife, tem uma escola com seu nome. Vou parar de ler História. Quando quiser saber vou ler a coluna de Brito
Caro colega Mauricio
Você quer “matar o véio” né? rsrsrs Grato pela postagem. Ganhei o domngo
Uma nação se faz com gênios. E o Brasil foi assim feito. Clovis Beviláqua é um deles. E o colecionador atual é o José Domingos Brito. Talvez essa sua Coleção devesse chamar-se Coleção dos Gênios do Br.
Mestre Plínio
Sua sugestão surge num momento em que meu filho computero, pois tenho outro que é “sem putero”, está bolando um facebook intiulado “Memorial do Povo Brasileiro” para divulgar os nomes aqui publicados.
Grato pela oportuna sugestão. Fico lisongeado com esta dica partida de sua lavra.
Brito
Rapaz! De Clóvis Beviláqua eu só conhecia a praça, imortalizada pelo mestre Paulo Vanzolini:
“Na praça Clóvis
Minha carteira foi batida
Tinha vinte e cinco cruzeiros
E o teu retrato
Vinte e cinco
Eu, francamente, achei barato
…”
Caio
Tem outro samba do Adoniran Barbosa que fala da Praça Clóvis. Ou será este mesmo?
É esse mesmo, Brito. Talvez você esteja se lembrando de uma gravação dos Demônios da Garoa.
Caro Brito,
Clóvis Bevilácqua com certeza foi um Gênio múltiplo que se encantou aos 84 anos trabalhando deixando uma obra múltipla eterna!
Sua contribuição na área jurídica é incomparável!
Direito de Família, Direito das Coisas, Direito das Sucessões, Teoria Geral do Direito Civil, e outros milhares de livros e artigos escritos numa época que não havia nem máquina datilográfica é de uma beleza inimaginável.
Todos os juristas que se destacaram no Brasil beberam em sua fonte. Só isso já demostra sua extraordinária contribuição à área do Direito.
Suas memórias do Homem está supimpa, principalmente na passagem onde o nobre memorialista relata que, “em 26/7/1944, sua filha encontrou-o caído em seu escritório sobre a mesa de trabalho cheia de folhas de papel com textos manuscritos e incompletos.”
Hoje a juventude tem tudo ao alcance dela e, na maioria das vezes, são um fiasco, seguindo orientação do Pajubá Petista! Kkkkkkkkkk!
Pois é isso, Cícero
Grato por me ajudar a divulgar Nosso grande jurista, que anda esquecido
Com o seu ótimo e completo texto, mais uma vez fica demonstrada
a genialidade dos homens nordestinos, pois tenho reparado que
a maioria dos seus grandes homens públicos biografados, são nascidos ou
de ascendência nordestina.
Muito pouco ouvi falar e li de Clovis Beviláqua e só agora tomei
conhecimento que perdi a história de um grande patriota e
sobretudo um grande ser humano
Grande abraço.
Caro D. Matt
Bem oportuna sua observação. Já fui acusado de ufanista por ser nordestino e privilegiar meus conterrâneos. Mas, o fato é que o Nordeste foi a primeira região a despontar no Pais e foi lá que surgiram os primeiros brasileiros dignos desta nacionalidade.
Daqui em diante vamos incluir outros não menos dignos como Érico Veríssimo, José Bonifácio, Tiradentes, Dom Pedro II, Machado de Assis, Mario de Andrade, etc e etc e todos os heróis e heroinas da Pátria.
Aguarde e verás o quanto temos de nomes ilustres neste Pais.
Grato pela oportuna observação de um leitor atendo e categorizado.
Excelente!! Espetacular!! Muito bom!!
Parabéns Brito, pelo excelente artigo à altura do homenageado, que sozinho escreveu o Código Civil de 1916, que muita falta nos faz, seja pela clareza das ideias, seja pela proteção e defesa de bens perenes como a família monogâmica e a propriedade privada.
Beleza, Airton
O depoimento de um jurista de seu quilate engrandece a biografia do mestre Clóvis Beviláqua.
Muito grato
Brito .