JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Celso Monteiro Furtado nasceu em 26/7/1920, em Pombal, PB. Jornalista, advogado, memorialista e economista dos mais conceituados no mundo. Estudou no Ginásio Pernambucano e aos 19 anos mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi estudar na Faculdade Nacional de Direito e começou a trabalhar na “Revista da Semana”. Em 1943, foi aprovado no concurso do DASP-Departamento de Administração do Serviço Público, como assistente administrativo. Em seguida foi convocado pelo Exército para lutar na II Guerra Mundial e segue para a Itália como aspirante a oficial da FEB-Força Expedicionária Brasileira.

Em 1946 ganhou o “Prêmio Franklin D. Roosevelt”, do Instituto Brasil-EUA, com o ensaio Trajetória da democracia na América e ingressou no curso de doutorado em economia da Universidade de Paris-Sorbonne, concluído em 1948, com a tese “L’économie coloniale brésilienne”. De volta ao Brasil, retomou o trabalho no DASP e junta-se ao quadro de economistas da Fundação Getúlio Vargas, passando a trabalhar na revista “Conjuntura Econômica”. Em 1949, mudou-se para Santiago do Chile, integrando a recém-criada CEPAL-Comissão Econômica para a América Latina, onde passa a cumprir missões em diversos países na condição de Diretor da Divisão de Desenvolvimento. Por esta época, passou a receber convites de universidades norte-americanas para dar palestras sobre os aspectos teóricos do desenvolvimento. Seu primeiro ensaio Características gerais da economia brasileira, foi publicado na “Revista Brasileira de Economia”, da FGV, em 1950, seguido de seu primeiro artigo de circulação internacional: Formação de capital e desenvolvimento econômico, traduzido para o “International Economic Papers”, da Associação Internacional de Economia.

Em 1953, presidiu o Grupo Misto CEPAL-BNDE, enfatizando as técnicas de planejamento e elabora um estudo sobre a economia brasileira. Tal estudo serviu como base do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek, em 1956. No ano anterior, junto com um grupo de amigos, criou o Clube de Economistas, que lança a “Revista Econômica Brasileira” e publicou A economia brasileira, seu primeiro livro sobre a teoria do desenvolvimento e subdesenvolvimento. Passou a morar na Cidade do México, em missão da CEPAL, e publicou o segundo livro: Uma economia dependente. No ano seguinte mudou-se para a Inglaterra e passou a lecionar no King’s College da Universidade de Cambridge. Aí escreveu seu livro mais conhecido: Formação econômica do Brasil, que lhe dará projeção internacional. De volta ao Brasil, assumiu uma diretoria do BNDE; foi nomeado pelo presidente Kubitschek, para dirigir o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, que dará a SUDENE-Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, em 1959. Encontrou-se com o presidente Kennedy, em 1961, cujo governo decide apoiar um programa de cooperação com a SUDENE e, semanas depois, com o ministro Che Guevara, chefe da delegação cubana à Conferência de Punta del Este. Em 1962 foi nomeado para o Ministério do Planejamento, quando elabora o Plano Trienal apresentado ao país pelo presidente João Goulart. No ano seguinte deixa o Ministério do Planejamento e retorna à SUDENE afim de implantar a política de incentivos fiscais para os investimentos na região.

Com o golpe militar de 1964, teve os direitos políticos cassados por 10 anos. No exílio, foi morar em New Haven (USA) e fazer pesquisas no Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Yale. Publicou o livro Dialética do desenvolvimento (1965) e mudou-se para a França e assume a cátedra de Desenvolvimento Econômico da Sorbonne por 20 anos. Em 1968 veio ao Brasil, a convite da Câmara dos Deputados, e publicou o livro Um projeto para o Brasil, seguido de Formação econômica da América Latina (1969). No correr da década de 1970, viajou pela África, Ásia e América Latina, em missão de agências da ONU. Foi também professor-visitante da American University, da Columbia University, da Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de Cambridge. Em 1973 publicou A hegemonia dos Estados Unidos e o subdesenvolvimento da América Latina, cujo título deixa claro uma relação de causalidade entre os dois fenômenos. Considera o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema capitalista, sendo contrário à ideia de que seja uma etapa para o desenvolvimento, como podem sugerir os termos de país “emergente” e “em desenvolvimento”.

O interesse pela área editorial o faz juntar-se a um grupo liderado pelo deputado Fernando Gasparian na compra da Editora Paz e Terra, em 1974. Uma destacada editora na área das ciências sociais. Nos anos 1978-81, integrou o Conselho Acadêmico da recém-criada Universidade das Nações Unidas, em Tóquio. Na mesma época, integrou o “Commitee for Development Planning”, da ONU. Entre 1982-85, como diretor de pesquisas da Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, coordenou seminários sobre a economia brasileira e internacional. A partir de 1979, com a Lei da Anistia, retorna com frequência ao Brasil, retoma a vida política e é eleito membro do Diretório Nacional do PMDB. Em 1985 foi convidado pelo presidente Tancredo Neves para integrar a Comissão do Plano de Ação do Governo, mas não pode assumir com a morte de Tancredo. Foi nomeado embaixador do Brasil junto à futura União Europeia, e integrante da Comissão de Estudos Constitucionais, presidida por Afonso Arinos, para elaborar o projeto da nova Constituição. No governo José Sarney, foi nomeado ministro da Cultura. Uma de suas primeiras medidas foi a aprovação da lei de incentivos fiscais à cultura. Em julho de 1988 pediu demissão do cargo, retomando suas atividades acadêmicas no Brasil e no exterior.

Memorialista nato, decidiu fazer uma autobiografia e publicou o 1º volume A fantasia organizada (1969); o 2º A fantasia desfeita, veio em 1989 e o 3º, Os ares do mundo, em 1991. No período 1987-90 integrou a “South Commission”, formada por países do Terceiro Mundo para formular uma política para o Hemisfério Sul. Entre 1993-95 atuou no grupo dos 12 membros da Comissão Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento, da ONU/UNESCO, presidida por Javier Pérez de Cuellar. Entre 1996-98 integrou a Comissão Internacional de Bioética da UNESCO. Foi homenageado, em 1997, com um congresso internacional em Paris, organizado pela Maison des Sciences de l’Homme e a UNESCO, intitulado “A contribuição de Celso Furtado para os estudos do desenvolvimento”, reunindo especialistas do Brasil, Estados Unidos, França e outros países. No mesmo ano foi criado pela Academia de Ciências do Terceiro Mundo (Itália), o “Prêmio Internacional Celso Furtado”, conferido a cada dois anos ao melhor trabalho no campo da economia política. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pelas universidades de Lisboa, Brasília, Campinas, Rio Grande do Sul, Paraíba e Grenoble, na França. Junto a estes títulos, junta-se a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada de Portugal.

Entrou para a Academia Brasileira de Letras em 1997. No discurso de posse, declarou: “O fundador desta Cadeira número 11 foi um antepassado meu, Lúcio Furtado de Mendonça, de quem possivelmente herdei os pendores memorialísticos, o gosto mal sucedido pela ficção literária e uma irreprimível sensibilidade social. Esse socialista declarado empenhou-se na criação desta Academia e certamente a ele mais do que a ninguém devemos a existência desta nobre Instituição”. Em 2009, a ABL inaugurou a “Biblioteca Celso Furtado”, contendo parte dos livros que lhe pertenceram. 10 anos após, sua esposa Rosa Freire D’Aguiar decidiu doar toda a biblioteca do casal, de 14 mil livros, junto com os arquivos pessoais ao IEB-Instituto de Estudos Brasileiros, da USP.

Publicou mais de 40 livros, além de inúmeros artigos. Seu último livro não poderia ter outro título: Raízes do subdesenvolvimento (2003). Dias antes de falecer, foi surpreendido com uma distinção que o comoveu: recebeu a comenda “Casa Avelino de Queiroga Cavalcante”, outorgada pela Câmara Municipal de Pombal pelos relevantes serviços prestados a humanidade. Pode falecer tranquilo, em 20/11/2004, reconhecido em sua terra natal. Em 2019, sua esposa organizou e publicou seus Diários intermitentes: 1937-2002, um relato dos momentos decisivos de sua vida, diálogos, desabafos, perfis biográficos, impressões diversas, além de fotos, documentos e registros inéditos.

4 pensou em “OS BRASILEIROS: Celso Furtado

  1. Brito.
    Muito boa essa biografia do Celso Furtado. Fui aluno dele quando fui estagiário do ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros, do Ministério de Cultura, no RJ, logo após formado. Esse seu texto, Brito, é excelente, como de resto os outros também. Meus cumprimentos.

  2. Parabéns mestre brito pelo seu ótimo e oportuno texto
    sobre a pessoa de Celso Furtado, que eu conhecia muito pouco.
    Não tenho comentado ultimamente sobre os seus ótimos
    textos biográficos, porque desconheço o desempenho
    das personalidades ultimamente biografadas e só gosto
    de comentar quando conheço algumas coisas dos retratados.

    Abraços do seu aluno d.matt

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