JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Casimiro Montenegro Filho nasceu em Fortaleza, CE, em 29/10/1904. Militar da Aeronáutica, Marechal-do-Ar, pioneiro do CAN-Correio Aéreo Nacional, criador do ITA-Instituto Tecnológico de Aeronáutica, patrono da Área de Engenharia da FAB-Força Aérea Brasileira e da Academia Nacional de Engenharia e um dos patronos do INCAER-Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

Concluiu os primeiros estudos em Fortaleza e mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1923, a fim de tornar-se piloto do Exército. Ingressou na Escola Militar do Realengo e tornou-se Aspirante-a-Oficial do Exército em 1928, integrando a primeira turma da Arma de Aviação Militar da Escola de Aviação Militar, que iniciava no Campo dos Afonsos. Teve destacada atuação na “Revolução de 1930” junto com o brigadeiro Eduardo Gomes, Juarez Távora e Siqueira Campos. Ao atingir o posto de tenente, fez o voo inaugural entre Rio-São Paulo, que resultou na criação do CAN-Correio Aéreo Nacional, em 1931. Em seguida cruzou o País de norte a sul em voos expostos às mais diversas e inseguras condições, aterrissando em campos improvisados e pilotando sem instrumentação de voo.

Em 1938 concluiu o curso de Engenheiro Militar na Escola Técnica do Exército, atual IME-Instituto Militar de Engenharia. Em seguida deu-se a unificação dos serviços de voos da Exército e da Marinha, dando origem ao Ministério da Aeronáutica, em 1941. No novo Ministério, assumiu a Subdiretoria Técnica da Aeronáutica. Tinha em mente uma ideia, aparentemente, óbvia e costumava dizer que “somente seria possível desenvolver uma indústria aeronáutica no Brasil se o país dispusesse de uma escola que proporcionasse formação técnica de alto nível”. Assim, em 1943, viajou para os EUA afim de adquirir um lote de aviões e, com sua ideia de formar engenheiros aeronáuticos, visitou o MIT-Massachusetts Institut of Technology e ficou encantado com sua estrutura educacional. Retornou ao Brasil disposto a criar algo semelhante num país sem condições de fabricar até bicicletas.

Claro que a ideia de projetar e fabricar aviões pareceram excêntricas demais aos olhos dos colegas. Mal sabiam que ele contava com a ajuda de um contato feito nos EUA: o prof. Richard Herbert Smith, chefe do Departamento de Engenharia do MIT. Em 1945 reuniu um grupo de oficiais da Aeronáutica no local, que viria a ser um campus universitário, e apresentou seu projeto: “Aqui construiremos o túnel aerodinâmico, mais à direita o laboratório de motores, ali a área residencial: casas e apartamentos para os professores, oficiais e pessoal da administração e alojamento para os alunos. Ali à esquerda, os edifícios escolares e laboratórios. Aqui será o futuro aeroporto. Esta área está reservada para a indústria aeronáutica. Tudo isto constituirá o Centro Técnico da Aeronáutica.” Ao concluir a apresentação, verificou que a plateia havia sumido. Um dos oficiais que permaneceu no local, despediu-se gracejando da megalomania do projetista: “Até a vista, Júlio Verne!”.

Na década seguinte o sonho do piloto visionário começou a se concretizar e pouco depois estava criado o ITA-Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em 1950. Com instalações adequadas, bons professores inicialmente trazidos do exterior e residindo no próprio campus junto aos alunos, criou-se uma escola de engenharia de alto nível no País. Sua função não era apenas ensinar bem, mas também educar, o que não era assumido pelos cursos universitários brasileiros. Alguns itens constantes do ensino “Iteano”: cumprimento rigoroso do calendário de ensino, as aulas não dadas têm que ser repostas; diversificação dos professores não apenas na formação profissional, mas também na nacionalidade com muitos professores estrangeiros; currículo composto de matérias não técnicas (humanidades); professor e aluno morando próximos, possibilitando encontros fora das salas de aula.

Porém o atributo educacional que mais diferencia o ITA de outras universidades é a chamada “disciplina consciente”, que implica na realização honesta de todos os trabalhos escolares. A “cola” comprovada é punida com severidade, a expulsão do aluno. Em 1950, o Reitor Joseph Morgan Stokes delegou esta função aos alunos através do Centro Acadêmico, que para isso criou o Departamento de Ordem e Orientação. Ou seja, os vigilantes desse processo eram os próprios alunos, que identificavam o transgressor, julgavam e propunham a penalidade. Ao reitor cabia apenas a execução. Outra inovação relevante se deu com a pós-graduação, em 1961. Através de convênio mantido com a Universidade de Michigan, foi adotado o modelo de pós-graduação vigente nos EUA, com poucas alterações, que teve grande repercussão Brasil. No ano seguinte, a COOPE-Coordenadoria de Pós-Graduação em Engenharia, da UFRJ, seguiu o ITA e ambas influenciaram o Conselho Nacional de Educação, com sua resolução de 1965, que alterou toda a pós-graduação brasileira.

Na sequência, outro visionário, o engº Ozires Silva, entra em cena e cria o primeiro avião usado nas linhas regionais, denominado “Bandeirante” (1968). No ano seguinte foi criada a EMBRAER-Empresa Brasileira de Aeronáutica, tornando-se a 3ª maior fabricante de aviões do mundo. Junto com Santos Dumont e Ozires Silva, Casimiro integra o que vem sendo chamado de “Santissima Trindade da Aviação Brasileira” e já foi homenageado em diversas ocasiões, contando com sua estátua no Campus do ITA, que lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa. Em 1975 recebeu o mesmo título da Unicamp-Universidade Estadual de Campinas e em 1981 foi agraciado com o “Prêmio Anísio Teixeira”, a mais prestigiada comenda dirigida aos grandes educadores brasileiros. Faleceu 26/2/2000, aos 95 anos, e foi sepultado na Cripta dos Aviadores do Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Pouco depois foi aclamado “Patrono da Engenharia da Aeronáutica”, por Decreto Presidencial, de 28/6/2000.

Duas biografias dão conta de sua trajetória, além de alguns textos na Internet: Montenegro: as aventuras do Marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil, de Fernando de Morais, publicada em 2006 e Marechal Montenegro, criador do ITA e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), de seus amigos Ozires Silva e Decio Josué Antonio Fischetti, publicada em 2006. Há um consenso em se afirmar que “se a indústria aeronáutica é o que é, hoje, em termos mundiais, isso começou com o ITA e com o antigo CTA, com a criação do Bandeirante”, aproveitando o nome que os paulistas deram aos desbravadores do interior do Brasil. Em 2020, o ITA fez 70 anos e realizou uma exposição virtual – “Asas para que te quero”, mostrando as diversas áreas da instituição e relato de sua história. Vale a pena dar uma olhada: Mostra #VicentinaNaSuaCasa on Behance

7 pensou em “OS BRASILEIROS: Casimiro Montenegro

  1. Caro colunista

    Me aresponda por favor: a foto exibida do Sr. Casimiro Montenegro contente e satisfeito, contempla feliz os novos aviões fabricados pela Embraer trafegando pelos céus nunca dantes trafegados?

  2. Em 12 de junho de 1931, Casimiro Montenegro, cearense da gema, realiza o primeiro voo do CAM (Correio Aéreo Militar, transformado, mais tarde, no Correio Aéreo Nacional), entre o Rio de Janeiro e São Paulo, serviço este que ajudou a criar e também abriu várias novas rotas com destinos como o sul e o nordeste do país.

    Só por esse feito esse brasileiro super nacionalista, já poderia constar nas minibiografias elaboradas pelo pesquisador Brito, que honra todos os domingos esse espaço nobre do JBF.

    Parabéns mais uma vez grande memorialista pela proeza.

  3. Essa coluna tem um papel relevante trazendo para conhecimento público nomes que ajudaram a escrever a história do nosso país.

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