JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Roberto Burle Marx nasceu em São Paulo, em 4/8/1909. Artista plástico, pintor, designer, arquiteto, tapeceiro, e um dos paisagistas mais renomados do mundo. Filho da recifense Cecília Burle e de Wilhelm Marx, judeu alemão, parente de Karl Marx. Aos 4 anos, a família se mudou para o Rio de Janeiro e logo que os negócios (exportação e importação de couros) do pai prosperaram, foram morar num casarão do Leme, onde ele, aos 8 anos, começou a cultivar mudas de plantas e iniciar sua própria coleção.

Em 1928, teve um problema nos olhos e a família foi procurar tratamento na Alemanha, onde permaneceram até 1929. Lá entrou em contato com as vanguardas artísticas e conheceu o Jardim Botânico de Dahlen. Lá encontrou a vegetação brasileira numa estufa e ficou encantado com a beleza das plantas tropicais. Gostou, também, da pintura, com as visitas que fez às exposições de Pablo Picasso, Henri Matisse, Paul Klee e Van Gogh e passou a estudar pintura no ateliê de Degner Klem. De volta ao Brasil, seu amigo e vizinho Lucio Costa incentivou-o a entrar na Escola Nacional de Belas Artes. Aí fez amizade com alguns nomes que se destacariam na moderna arquitetura brasileira: Oscar Niemayer, Hélio Uchoa, Milton Ribeiro etc. Seu primeiro projeto paisagístico se deu em 1932, a pedido de Lúcio Costa, para o jardim da família Schwartz. O primeiro projeto público se deu em 1934, no Recife, projetando 5 praças, todas tombadas pelo IPHAN. Foi designado Diretor de Parques e Jardins do famoso DAU-Departamento de Arquitetura e Urbanismo, da Prefeitura do Recife e trabalhou com Joaquim Cardoso, que viria a ser calculista de Oscar Niemayer.

Neste cargo projetou diversos logradouros, fazendo uso intensivo da vegetação nativa. Em 1935, projetou a Praça Euclides da Cunha, que ficou conhecida como “Cactário Madalena”, devido a ornamentação com plantas da caatinga e do sertão. A partir daí passou a imprimir um caráter de brasilidade ao seu trabalho, livrando-se da influência europeia, com predomínio das azaleias, camélias, magnólias e nogueiras. Para isso contava com o apoio de Luiz Nunes, Diretor do DAU e Atilio Correa Lima, gestor do Plano Urbanístico da cidade, e de simpatizantes como Gilberto Freyre, Cícero Dias e Joaquim Cardoso. O projeto do primeiro Parque Ecológico do Recife ficou a seu cargo. Até hoje é celebrada anualmente no Recife a “Semana Burle Marx”, em agosto. Em 1937 retornou ao Rio de Janeiro e foi convidado para projetar os jardins do Edifício Gustavo Capanema (na época Ministério da Educação e da Saúde). Idealizou um terraço-jardim que é considerado um marco de ruptura no paisagismo brasileiro. Com vegetação nativa e formas sinuosas, o jardim apresentava uma configuração inédita no país e no mundo.

Por essa época tomou aulas de pintura com Cândido Portinari, de quem se tornaria assistente, e Mario de Andrade, no Instituo de Arte da Universidade do Distrito Federal. No final da década de 1930 sua obra paisagística já estava perfeitamente integrada à arquitetura moderna, uma tendência mundial. Assim, passou a integrar o grupo de arquitetos adeptos da escola alemã Bauhaus, influenciados pela corrente francesa liderada por Le Corbusier. Trata-se de um estilo humanista e integrador de todas as artes. Em 1949 adquiriu o Sitio Santo Antônio da Bica, em Campo Grande (RJ), com 365.000 m², e passou a viajar pelo Brasil, junto com botânicos, em busca de plantas tropicais. O objetivo foi coletar e catalogar exemplares para reproduzir, no sitio, a diversidade fitogeográfica brasileira.

Seu papel na definição da Arquitetura Moderna Brasileira foi fundamental, tendo atuado nas equipes responsáveis por diversos projetos célebres. A partir daí, passou a trabalhar com uma linguagem bastante orgânica e evolutiva, identificando-a com vanguardas artísticas como a arte abstrata, o concretismo, o construtivismo. Como é, também, pintor, as plantas baixas de seus projetos lembram em muitas vezes telas abstratas, nas quais os espaços criados privilegiam a formação de recantos e caminhos através dos elementos de vegetação nativa. Daí em diante sua parceria em trabalhos com Oscar Niemayer e Lúcio Costa toma impulso. Como arquiteto, inclui em seus parques e jardins elementos arquitetônicos como colunas e arcadas, encontrados em demolições; utiliza ainda mosaicos e painéis de azulejos, recuperando a tradição portuguesa.

A partir da década de 1950, passou a utilizar em seus trabalhos uma ordenação mais geometrizante, como ocorreu na Praça da Independência (João Pessoa), no Parque do Flamengo (RJ) ou Parque Ibirapuera (SP). Em 61 anos de carreira, assinou mais de dois mil projetos em todo o mundo e recebeu inúmeras honrarias. Mas a homenagem que mais apreciou foi ver seu nome designando uma espécie de planta tropical: a Calathea Burle Marxii”, conhecida popularmente como “Calatea Burle Marx” ou “Maranta de Burle Marx”. Foi contratado para projetar parques públicos em diversas cidades: Parque Generalíssimo Francisco de Miranda (Caracas, 1950); Jardins da Cidade Universitária da Universidade do Brasil (Rio de Janeiro, 1953); Jardim do Aeroporto da Pampulha (Belo Horizonte, 1953); Balneário Municipal de Águas de Lindóia (SP, 1954); Paisagismo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1955); Paisagismo da Praça da Cidadania da Universidade Federal de Santa Catarina (1960); Paisagismo para o Eixo Monumental de Brasília (1961); Paisagismo do Aterro do Flamengo (1968); Paisagismo da Embaixada do Brasil em Washington, USA, 1970); Paisagismo do Palácio Karnak (Teresina, 1970); Paisagismo do aterro da Bahia Sul em Florianópolis (1971) etc.

Tais atividades não o afastaram da pintura, e desde a década de 1930 participou de 74 exposições individuais, 71 coletivas e 22 póstumas. Seu traço revela influências de Pablo Picasso e dos muralistas mexicanos. Nos retratos, aproxima-se de Candido Portinari e Di Cavalcanti. Segundo os críticos de arte, a partir de década de 1950 “a tendência para a abstração consolida-se e a paleta muda, passando a incluir muitas nuances de azul, verde e amarelo mais vivos. Em suas telas o trabalho com a cor está associado ao desenho, que se sobrepõe e estrutura a composição. Nos anos 1980, passou a realizar composições geométricas em acrílico, os contornos são desenhados com a cor, as telas adquirem um aspecto fluído, flexível e ganham leveza. Dedicou-se mais à pintura com a mudança para o sítio Santo Antônio da Bica (RJ), em 1972 e passou a cultivar 3.500 espécies de plantas de todo o mundo, criando um verdadeiro “Éden Tropical”.

Em 1985, o sítio Santo Antônio da Bica foi doado ao governo federal, passando a chamar-se Sitio Burle Marx, mantido pelo IPHAN e aberto a visitação pública. Trata-se de num valioso patrimônio paisagístico, arquitetônico e botânico, além de uma escola para jardineiros e botânicos. Além disso, é mantido em São Paulo, desde 1994, o Parque Burle Marx, no bairro do Morumbi, com 168.000 m² e administrado pela Fundação Aron Birmann em parceria com a Prefeitura da cidade. Em 1982, recebeu o título Doutor honoris causa da Academia Real de Belas Artes de Haia, e do Royal College of Art, em Londres. Sua obra pode ser contemplada nos diversos livros publicados sobre suas contribuições ao paisagismo e nos livros de sua autoria: Arte e paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Nobel, 1987 e Arte e paisagem: a estética de Burle Marx. São Paulo: MAC/USP, 1997. Alguns livros sobre sua vida e obra: I Giardini tropical di Burle Marx (1964), de Pietro Maria Bardi; Roberto Burle Marx: Il giardino del novecento (1992), de G. Giulio Rizzo; Nos jardins de Burle Marx (1994), de Jacques Leehardt; Arte e paisagem: Roberto Burle Marx (2004), de José Tabacow Faleceu em 4/6/1994.

12 pensou em “OS BRASILEIROS: Burle Marx

  1. Adail Augusto Agostini disse:

    Sr. José Domingos Brito:
    Meus melhores parabéns pelo seu excelente e precioso trabalho.
    Ele prova, indubitavelmente, que é falsificada a ideia – emburrecente e alimentadora do “complexo de vira-lata” – de que o Brasil é, mentirosa e somente, o “País do Carnaval e do Futebol”.
    Aliás, isso nada mais é do que um proposital produto da criação e pseudo valorização sistemática, midiática, idiotizante e comercial, dos seus fugazes, efêmeros “ídolos de pés-de-barro”).
    Eis, pois, três sugestões para a sua Coluna:
    Mário Quintana – “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (1989) – a quem Manuel Bandeira dedicou o poema Quintanares”(após ser rejeitado pela 3ª vez pela ABL); autor do conhecido:
    “Todos esses que aí estão
    Atravancando o meu caminho
    Eles passarão…
    Eu passarinho”.
    Oswaldo Aranha – diplomata, presidente da ONU – com a criação do Estado de Israel; verdadeiro autor da frase (furtada e plagiada pelo “ghost writer” do Kennedy):
    “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, e sim o que tu podes fazer pelo teu país”;
    Honório Lemes – revolucionário maragato, o “Leão do Caverá”, autor da frase-lema antológica (que deveria ser a estrela-guia comportamental de todo verdadeiro brasileiro, político ou não):
    “Quero leis que governem homens e não homens que governem leis”.

    Desde o Alegrete – RS,

    Um baita abraço,
    Adail.

  2. Grato Valéria,
    me envie seu endereço postal (literacria@gmail.com Quero lhe mandar um Calendário 2020 Memorial, com os nomes até agora estampados

  3. Caro Brito.

    Obrigado por me dar a oportunidade de conhecer melhor este grande Brasileiro que produziu e viveu de sua arte, tornando-se um dos grandes paisagistas do século 20.

    A cultura brasileira tem valor e não precisa de ideologias para se destacar.

  4. Caro Brito. Um belo trabalho de revelação da grandiosidade de um
    dos mais famosos brasileiros em todo mundo. Uma aclamação
    universal, não só como amante da natureza, como também um exemplo
    de como conviver e amar este mundo criado por Deus.

    Sempre fui admirador da obra de Burle Max, conheço bastante seus
    jardins criados no RJ ,, principalmente o imenso jardim do Parque do Flamengo
    o qual, quando morador do Bairro do Flamengo no Rio, frequentava
    todo fim de semana, pois o jardim contorna toda apraia do flamengo. Frequentei muito também os Jardins do Museu de Arte Moderna no RJ, Ibirapuera em SP. e muitos outros. O importante a ressaltar é a presença de Brasilidade em
    todos eles, dispensando totalmente a presença de plantas européia e de
    outras nacionalidades, que destoariam no meio daquela brasilidade, crua,
    vigorosa e arrogantemente imposta com genialidade.

    Sempre fui um grande admirador das pinturas de
    Burle Max, que como citado acima no seu texto, sentiu grande influência
    dos grandes mestre do modernismo, porem conseguiu um estilo
    próprio com suas cores exuberantes cheias de brasilidade tropical,
    uma beleza incrível, usando sempre muito verde, muito azul e amarelo.

    Mais um grande mestre que teve a sorte de ser rabiscado pela sua pena.
    Seu aluno d.matt.

  5. Mestre Brito:

    Meus parabéns pela pesquisa irretocável a esse grande mestre sampeano conhecido internacionalmente por Burle Marx!

    Em vários locais onde se passa aqui no Recife tem um obra genial desse grande paisagista, que o nobre memorialista o retrata muito bem nesse trabalho de pesquisa séria.

    Mandei um I-mail ao nobre memorialista semana passada agradecendo pelo envio do CALENDÁRIO 2020 – MEMORIAL – BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA, onde na primeira página – JANEIRO 2020, o nobre memorialista abre com um comentário a uma das figuras mais instigantes, lendárias, controversas da historiografia recente do Brasil, sendo o terceiro homem mais biografado do mundo: LAMPIÃO! Mal sabia assinar o nome, mas dominou na caatinga por mais de vinte anos a pé, tocando o terror com uma caravana de mais de 120 homens brutos, rudes, bárbaros…

  6. Beleza, Cícero

    Bom que recebeu o Calendário 2020. Cumpri a promessa que ano passado de lhe mandar o Memorial/Calendário com todos os nomes publicados no JBF
    É isso aí, o Memorial não publica apenas os bons nomes, publica Lampião também

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