VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Companheiros inseparáveis de infância e juventude, Antonino Luz e José Neves se separaram de repente, numa das encruzilhadas da vida. Os pais de Antonino foram morar no Rio de Janeiro, e nunca mais voltaram para a cidade do interior nordestino, onde sempre moraram.

Nesse tempo, não havia Internet nem Celular, e, à medida em que o tempo foi passando, os dois amigos se distanciaram, sem receber notícias um do outro.

No Rio, Antonino estudou e se formou em Direito. Ingressou na Magistratura e fez uma brilhante carreira.

José Neves continuou no interior nordestino, tornando-se fazendeiro, como o pai.

Muitos anos depois, José Neves encontrava-se numa fila de banco, em Natal, quando ouviu um funcionário, no balcão, chamar um senhor idoso para atendimento:

– Antonino Luz!!!

José Neves lembrou-se do amigo, que tinha este nome e que se mudara para o Rio, há décadas. Esperou que o homem fosse atendido e o chamou:

– Antonino Luz?!!!

Surpreso, o homem respondeu:

– Sim!

Atendendo ao chamado, Antonino aproximou-se desconfiado, ainda esguio, e trazendo no rosto as marcas do tempo. Estava vestido com distinção, e demonstrava nos modos, no porte e nas maneiras, saúde e prosperidade.

Olhou de perto o rosto do homem que o havia chamado e falou, emocionado:

– José Neves?!!!

– Sim!!!

Houve uma explosão de alegria:

– Antonino!!!!!!

– Zé Neves!!!

Os dois amigos se abraçaram fortemente e foi difícil segurar as lágrimas. Era o encontro de duas saudades.

Os dois, da mesma idade, agora eram setentões. Pareciam saudáveis e de bem com a vida, apesar dos cabelos brancos.

Antonino, alto, magro, bem vestido e educado, durante anos exerceu a magistratura, com dignidade, e agora estava aposentado.

Três minutos depois, estavam os dois senhores a um canto, em pé, enxugando os olhos, trocando notícias da vida pessoal de cada um e contando como a roda do destino lhes havia sido favorável.

O magistrado contou-lhe, depois, como prosperara, e como havia se dado bem, no Rio.

De repente, o fazendeiro lhe perguntou:

– Você constituiu família?

O magistrado respondeu:

– Não. Continuo solteiro. E você??

O fazendeiro falou:

– Eu fiquei viúvo, mas me casei novamente, há dois anos, com uma jovem de 20 anos. Já tenho um filhinho com ela.

– Um filho?!!! – Indagou o Juiz, admirado.

E ao ouvido do fazendeiro, cochichou:

– Você desconfia de alguém???

Os dois amigos caíram na gargalhada, como faziam antigamente.

8 pensou em “O REENCONTRO

  1. Cara e Divina Violante!

    Coisa mais linda estas suas histórias Provam que a verdadeira amizade resiste ao tempo. Tenho alguns amigos que não vejo faz mais de 40 anos. Mesmo em época de internet às vezes é difícil rever. Hoje há turmas de escolas de 30, 40 anos que se reveem a cada período para relembrar o passado. Não tive este privilégio.

    Minha memória também não me ajuda mais a lembrar de tudo o que aconteceu no passado. Só os vejo (velhos amigos que me separei) nos sonhos, onde estão minhas lembranças.

    Um beijo, minha querida.

    • Obrigada pelo comentário gentil, prezado João Francisco!
      Fiquei muito envaidecida com suas palavras.

      Infelizmente, o tempo passa rápido e a tendência é o distanciamento entre amigos de juventude e bancos escolares, principalmente quando alguns se mudam para longe.

      No começo, a saudade é grande e as lembranças são constantes. Entretanto, a roda do tempo vai colocando outros interesses, pessoas e acontecimentos em nossas vidas, preenchendo o lugar das recordações.

      Quando, depois de muitos anos, acontece um reencontro entre amigos de verdade, há uma explosão de emoções, e a amizade adormecida ressurge com toda a força, iluminando os rostos marcados pelo tempo,
      A verdadeira amizade nunca se acaba.

      Um beijo, querido amigo, e um feliz final de semana!

  2. Violante,

    Parabéns pela belíssima crônica sobre a amizade. Ela é uma das coisas mais importantes na vida de uma pessoa. … Vai muito além de concordar com tudo o que o amigo faz. Um amigo consegue nos resgatar de um dia mais vazio, impulsiona-nos para frente. Um amigo divide coonosco os momentos bons assim como os ruins, tanto os seus quanto os dele.
    “A amizade é um amor que nunca morre.”, disse com muita sabedoria o poeta gaúcho Mário Quintana ((1906-1994).

    Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria

    Aristeu

    • Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Aristeu.

      Não há coisa mais preciosa na vida de alguém do que uma amizade verdadeira e com raízes. Os amigos são anjos que Deus coloca em nossas vidas.
      Quando os verdadeiros amigos se reencontram, mesmo depois de muitos anos afastados, a amizade continua tão forte. quanto sempre foi.

      Obrigada por compartilhar comigo a bela frase do grande poeta Mário Quintana (1906-1994), .“A amizade é um amor que nunca morre.”..

      Para você também, um final de semana, pleno de paz, saúde e alegria!

      Violante

  3. Digníssima Violante Pimentel,COROLÁRIO DO JBF.

    Só agora é que vim ter tempo para sentir que a felicidade da vida está nas coisas simples como o demonstra a sua belíssima crônica: O REENCONTRO, antológica como o são todas as crônicas inteligentes, escritas por pessoas inteligentes e sensíveis feito você.

    Terminada a leitura de “O Reencontro”, me lembrei de um vídeo que circula no zap com duas crianças rindo em seus baldes cheios de água, cada uma batendo com as mãozinhas na água e tando altas gargalhas, demonstrando que a vida é bela até na simplicidade de um pinto de água caindo do balde para o chão.

    Linda crônica, querida cronista.

    Parabéns, com ótimo final de semana a você família.

  4. Obrigada pela gentileza do comentário, querido cronista Cícero Tavares!

    O segredo da felicidade está em aceitarmos a vida como ela é, e não como desejaríamos que fosse. Mas isso é difícil…
    A felicidade, realmente, pode estar nas pequenas coisas. Tanto num reencontro inesperado entre dois grandes amigos de mocidade, há anos distanciados pela vida, como na inocência de duas crianças, como citou você, “rindo em seus baldes cheios de água, cada uma batendo com as mãozinhas na água e dando altas gargalhas, demonstrando que a vida é bela até na simplicidade de um pingo de água caindo do balde para o chão”.

    Grande abraço e um feliz final de semana!

  5. Mais uma deliciosa crônica da Dama do JBF.
    Todos nós temos algumas velhas e boas amizades.
    É uma sensação incrível poder rever, lembrar e conversar sobre os bons tempos.

    Na vida, é sempre bom fazer novas amizades, porém o melhor que temos a fazer é conservar as antigas que nos lembram quem fomos e aonde podemos chegar.

    Parabéns, Violante.

  6. Obrigada pelo honroso comentário, prezado Marcos André.

    Diz a sabedoria popular:

    “Mais vale amigo na Praça, do que dinheiro na Caixa”.
    A verdadeira amizade não se acaba nunca, por mais que o tempo passe. Daí, a explosão de emoções e a alegria extravasada entre os dois amigos de mocidade, que se reencontraram depois de tantos anos.,
    Nada supera o valor de uma amizade sincera e recíproca.
    Você tem razão quando diz:
    “Na vida, é sempre bom fazer novas amizades, porém o melhor que temos a fazer é conservar as antigas que nos lembram quem fomos e aonde podemos chegar.

    Amigo não se procura; o coração é quem encontra.

    Grande abraço!

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