DEU NO JORNAL

Marcel van Hattem

Lula discursa na ONU: política externa brasileira tem sido marcada por alinhamento com autocracias.

Lula discursa na Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro

Durante a Cúpula do Futuro, na Assembleia Geral da ONU em Nova York na semana passada, o presidente brasileiro protagonizou uma das cenas mais vergonhosas da história da Assembleia, que acontece desde 1946. Durante um discurso recheado de clichês antiquados e promessas vazias, Lula teve o microfone cortado por não respeitar o limite de tempo. Inconformado com a situação, continuou o discurso, que parece ter sido preparado por um líder de DCE universitário, enquanto era tietado pela primeira-dama, Janja, e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao lado de um visivelmente constrangido Rodrigo Pacheco – sujeito que dificilmente se constrange por qualquer coisa, aliás. Infelizmente, o constrangimento não foi apenas do presidente do Senado. O desempenho pífio de Lula prejudica a já fragilizada imagem do Brasil no exterior e consolida o fato de que o discurso do governo não encontra lastro na realidade.

O discurso de Lula tratou de pontos irreconciliáveis como se fossem afins, como a defesa da democracia como valor enquanto o ex-presidiário declarava apoio às ditaduras de Cuba, China e Rússia. O Brasil faz hoje parte de uma pequena e execrável lista de países que baniram o “X” – uma das maiores redes sociais do mundo, por onde acadêmicos, políticos e cidadãos discutem livremente em uma verdadeira arena política no mundo todo –, mas Lula discursava como estadista da liberdade enquanto os brasileiros encontram-se censurados.

Fazemos parte também da lista de países que repetidamente condenam Israel por seus esforços defensivos. O que não é surpresa, afinal, parte relevante do grupo político de Lula defende a abolição do Estado judeu, e o mesmo tem reforçado tal posicionamento em falas e atitudes, inclusive participando do “ato de protesto” realizado na Assembleia, em que diversos líderes árabes se retiraram antes da manifestação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Não satisfeito com a hipocrisia de falar sobre democracia enquanto se alia a ditaduras e contribui para transformar o Brasil em uma, Lula considerou de bom tom dar lições de moral sobre preservação ambiental. Interessante: está sendo justamente sob este governo de Lula e a gestão de Marina Silva como ministra do meio ambiente que o Brasil está vendo as maiores queimadas de sua história, superando os recordes anteriores registrados nos próprios governos do PT no passado.

Concomitantemente, meu Rio Grande do Sul vê-se abandonado nesse momento por um presidente que não consegue fazer nem mesmo pronunciamentos para inglês ver e por um governo que decidiu cortar do orçamento nesta semana bilhões de reais que seriam destinados para o Estado que sofreu as piores enchentes de sua história. Que moral tem Lula para falar na ONU de desastres ambientais, prevenção e soluções, diante da inoperância de sua própria administração no Brasil? Enquanto os brasileiros têm dificuldade de respirar por causa das queimadas descontroladas e milhares de gaúchos ainda não têm sequer lugar para morar, somos obrigados a ver a ministra do meio ambiente sujeitando-se ao papel lamentável de tietar um presidente que ninguém mais se dispõe a ouvir.

Por fim, Lula falou sobre os bilionários e a desigualdade social. Janja, que o acompanhava, não exalava o contrário: como uma adolescente deslumbrada e ares de nova rica, a primeira dama é a caricatura da crítica de Lula à desigualdade de renda. No caso de Janja e do próprio Lula, porém, suas riquezas não advieram do trabalho produtivo que caracteriza os capitalistas que o PT tanto gosta de criticar. Somente em uma viagem a Paris, a comitiva da primeira-dama gastou cerca de R$ 235 mil do dinheiro gerado pela sociedade brasileira – isto é, pelo capitalismo, que os petistas tanto criticam. A desfaçatez de Lula em falar sobre desigualdade enquanto usa dinheiro público para manter luxos maiores do que o de muitos monarcas representados na mesma Assembleia Geral é impressionante.

A participação do petista na Assembleia da ONU teve, porém, um mérito: apesar da vergonha alheia gerada em quem o assiste com consciência crítica, o brasileiro lembra-se assim, novamente, que Lula é um demagogo que promete picanha mas entrega miséria. É mais um populista de esquerda que usa o povo para chegar ao poder mas, uma vez chegando lá, beneficia mais quem já é rico e poderoso com acesso facilitado ao poder à custa, justamente, de toda a população. E, infelizmente, a dura realidade é que Lula está conseguindo recolocar o Brasil no Eixo do Mal e classificando nossa nação outra vez como um pária mundial.

3 pensou em “O BRASIL VOLTOU A SER UM PÁRIA MUNDIAL

  1. Não sei por que Marcel van Hattem reclama do Lula estar levando nossa nação a ser classificada outra vez como um pária mundial.
    Para o patriota Ernesto Araújo – que chefiou o ministério das relações exteriores no governo passado – “é bom ser pária”.

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