Em dias de março de 1970 compareci ao Grande Hotel, no Recife, a fim de realizar uma entrevista com o Senador Ney de Albuquerque Maranhão, sobre o comércio Brasil-China. Ouvi daquele parlamentar uma descrição pormenorizada das vantagens de nosso país ter um vínculo mais aproximado com aquela nação.
Fazia ele uma cruzada por vários estados divulgando o tema. Tornara-se uma espécie de Bandeirante, no momento em que a partir dos anos 70, nossos países iniciaram relações diplomáticas, durante o Governo Geisel.
Após os flashes, o fotógrafo Diógenes Montenegro foi dispensado, e concluída uma parte principal do assunto, o Senador notou que eu apreciava a literatura e os conceitos filosofais daquele povo, oportunidade em que passamos bom tempo conversando sobre os modos de viver daquela tão antiga civilização e literatura em geral.
Depois de falar sobre Confúcio, o maior pensador chinês, que viveu 300 anos antes de Jesus Cristo, lembro-me que ele tirou do bolso um papel com anotações e me deu de lembrança. Dias depois que a reportagem foi publicada me passou um telegrama agradecendo.
E recordando aquele expressivo momento, publico alguns conceitos que ele me passou: Lembre-se de cavar o poço bem antes de sentir sede; Procure acender uma vela em vez de amaldiçoar a escuridão.
Mas isso era na China tradicional e não nos tempos atuais em que muita coisa ali ficou revirada, em termos de comportamentos, tal a influência da civilização ocidental e devastadoras ações políticas que sob o chicote de tiranos alteraram milenares conceitos.
Tudo muito bonitinho estaria hoje se os gestores da China estivessem obedecendo as regrinhas básicas, mantendo as antigas tradições. Todavia, após os impérios vieram as ditaduras e aquele povo, em sua maioria, mudou seus rumos de vida e seu jeito de ser, ocidentalizando-se e desejando ser a maior potência mundial.
Meu entrevistado naquele dia, entretanto, se concentrou em defender com grande entusiasmo, a aproximação do comércio entre as duas nações, considerando que o crescimento da população chinesa viria dar oportunidade à pecuária e à agricultura brasileira.
Hoje, nosso país registra excelentes laços diplomáticos e o panorama de amizade entre os povos se iniciou sendo historicamente caracterizado por operações comerciais em diversas áreas.
A China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil e nós somos importante fornecedor de commodities para aquele país. Nessa história me orgulho de haver contribuído com pequeníssima participação, exercendo o papel de jornalista.
Ney Maranhão foi um visionário por desenvolver um magnífico trabalho de aproximação comercial entre a China e o Brasil, há mais de 50 anos.
Era um pernambucano autêntico; inclusive na maneira de calçar e vestir. Mesmo em oportunidades de reuniões formais no Senado Federal não dispensava seus ternos de linho branco e as alpercatas de couro.
Ficou conhecido como um dos pioneiros na defesa constante do estreitamento das relações diplomáticas e o estímulo ao comércio entre as duas nações.
Foi um político de fibra. Marcou sua passagem como homem público de grande valor, durante tantas legislaturas que exerceu. Em 1993, como Senador, foi agraciado pelo Presidente Itamar Franco com a Ordem do Mérito Militar, no grau de Comendador.
Faleceu no Recife aos 11 de abril de 2016, com 88 anos de idade. Pernambuco lhe tributou honras após o falecimento, denominando um trecho da BR 232, que liga o interior à cidade de Moreno, seu torrão natal, com o nome de Rodovia Senador Ney Maranhão, por proposta do Deputado Eriberto Medeiros.
Meu entrevistado foi cinco vezes Deputado Estadual, tendo presidido a Assembleia Legislativa de Pernambuco e assumido, interinamente, o Governo do Estado. Iniciou sua carreira política como Prefeito de Moreno, eleito em 1951. Em outubro de 1954 elegeu-se deputado federal. Integrou também a Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos Deputados.
Ney Maranhão será lembrado como um homem público valente, autêntico, destemido, idealista leal e será lembrado por preservar suas raízes. Foi, de fato, um pioneiro nas relações comerciais Brasil-China.
Trabalhei com ele nos anos 1983/1984 na Companhia Brasileira de Alimentos – COBAL e certa vez ele me disse : ” Comigo não tem ladeira, tudo é chão ” até hoje lembro. Grande homem.