PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

João Abel

A patativa de gola
Nos campos da providência
Uma pequena figura
Uma larga inteligência
Canta com tanta certeza
Sem precisar de ciência.

João Santana

A viola e o repente ,
No reino da poesia,
São dois deuses do Parnaso
Imortais da cantoria
E o cantador é um mestre
Que traz ao plano terrestre
O que o universo envia.

José Monte

É bonito se olhar numa represa
A marreca puxando uma ninhada
Com um gesto de mãe tão dedicada
No encontro das águas da represa
Quanto é lindo o arrolho da burguesa
Num conserto de notas musicais
A lagarta com letras naturais
Numa folha escrever fazendo um cheque
E palmeira selvagem abrindo o leque
Espantando o calor que a tarde faz.

Lenelson Piancó

O pé de milho de pai
Dá uns dez pés de urtiga
É tão grande que a lagarta
Foi subir, sentiu fadiga
Transformou-se em borboleta
Sem alcançar na espiga.

Biu Dionísio

Meu sonho de alpinismo
No precipício caiu
Quando eu caí todos viram
Quando escalei ninguém viu
Os monstro feitos de mármore
Que a mão de Deus esculpiu.

Raimundo Borges

No varal do infinito
Uma nuvem pendurada
Parece com uma roupa
Bem confeccionada
Que Deus coseu com maestria
Para o corpo da madrugada.

João Lourenço

Eu já passei tanta coisa
Que na vida nem pensava
Pra minha felicidade
A mulher que eu procurava
Deus teve pena de mim
Mostrou aonde ela estava.

Ismael Pereira

O mínimo precisaria
Aumentar uns cem por cento
Quem recebe no salário
Quinze reais de aumento
É mesmo que receber
Nota de falecimento.

Antonio de França

Não deve um homem querer
Por qualquer coisa brigar
Se alguém desafiá-lo
Deve fugir do lugar
Bonito é se defender
Sem ser preciso matar.

Um comentário em “MESTRES DO REPENTE

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