JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Geraldo Horácio de Paula Souza nasceu 5/7/1889, em Itu, SP. Médico sanitarista, professor e pioneiro da saúde pública no Brasil e um dos fundadores da OMS-Organização Mundial da Saúde. Criado numa das mais tradicionais famílias paulistas, os “Paula Souza” se destacam na história desde o séc. XIX com políticos, engenheiros e médicos renomados. Seu pai – Antônio Francisco de Paula Souza – foi um dos fundadores e diretor da Escola Politécnica de São Paulo.

Ainda adolescente ingressou no curso universitário e graduou-se aos 19 anos pela Escola de Farmácia de São Paulo. Em seguida foi estudar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e tomou gosto pela saúde publica. Enquanto aluno, aproveitou as férias e viajou pela Europa, onde realizou estágios em laboratórios de química e institutos médicos de Berlim, Zurique, Genebra e Paris. Após formado médico, em 1915, trabalhou no Laboratório de Química da Santa Casa, em São Paulo. Em 1918 foi indicado como professor-assistente de higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, dado o interesse na área de higiene e saúde pública.

Visando aprofundar os estudos, foi indicado pelo diretor da Faculdade de Medicina, Arnaldo Vieira de Carvalho, para receber uma bolsa para estudar nos EUA, na Escola de Higiene da Johns Hopkins University, onde foi diplomado doutor na área. Trabalhou no Nutrition Laboratory, em Boston e visitou instituições ligadas a área sanitária, solidificando os conhecimentos que seriam aplicados no Brasil. De volta ao Brasil, em 1914, tornou-se professor-assistente de química médica e, em 1922, tornou-se professor catedrático da Faculdade de Medicina de São Paulo e instalou o Serviço Sanitário de São Paulo. Em 1927 este serviço foi transformado no Instituto de Higiene, com atribuições mais amplas. Organizou serviços especializados de alimentação, de fiscalização do exercício da medicina e da inspetoria da lepra.

Assim, pode-se dizer que foi pioneiro, também, na criação do CFM-Conselho Federal de Medicina e dos conselhos regionais, em 1945. Seu trabalho junto a direção do Instituto de Higiene, após 20 anos de intensa atividade, chegou onde queria: a criação da Faculdade de Saúde Pública, em 1945. Em se tratando de pioneirismo, vale lembrar que esta Faculdade foi pioneira em diversas áreas: Entomologia Médica, Demografia Sanitária, Saúde do Trabalhador entre outras, além de fornecer pessoal especializado para as reformas sanitárias de São Paulo e do Brasil. Um de seus primeiros trabalhos no Instituto foi a criação de um Centro de Saúde Modelo, Dizia que o “centro de saúde” era preciso para acompanhar e prever as doenças na comunidade e não apenas um local que se procura quando já se está com algum sintoma. O “Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza” segue funcionando há quase 100 anos. Inovou em diversas atividades sanitárias, como adicionar cloro na água de abastecimento pela primeira vez no Brasil. Tal procedimento resultou numa notável redução de doenças infecciosas, como a febre tifoide, em São Paulo.

Atuou com afinco na educação sanitária nas escolas, promovendo técnicas básicas de higiene, como lavagem das mãos e a importância do banho. Sua crença era que as crianças levariam tais informações para suas famílias. Em 1925, elaborou a reforma do Código Sanitário criando a “Inspetoria de Educação Sanitária” e “Centros de Saúde”, que foi copiado em outros estados. Teve destacada atuação, também, fora da área acadêmica. Participou da criação da SOBRAHSP – Sociedade Brasileira de Higiene e Saúde Publica, fundada em 1923, tornando-se seu presidente no período 1947-1951. Em meados da década de 1940, através das conexões políticas de sua família, tornou-se representante diplomático do Brasil em questões relacionadas à saúde e, assim, viajou pelo mundo. Foi um dos primeiros brasileiro a escrever artigos sobre a medicina do Japão e da China, que permanecem importantes até hoje.

Tinha grande interesse pelos hábitos alimentares dos lugares que visitava e guardou uma coleção de menus de restaurantes de todo o mundo. Seu fascínio pela comida levou-o apoiar e ajudar a fundar o curso de nutrição na Faculdade de Saúde Pública, um dos mais importantes do País. Foi representante do Brasil na Liga das Nações, futura ONU-Organização das Nações Unidas. Numa das reuniões diplomáticas, em 1945, em conversa com o diplomata chinês Szeming Sze, propôs a ideia de criar uma agência voltada à saúde internacional. No ano seguinte, participou da reunião que esboçou a entidade, fundada em 1948, OMS-Organização Mundial da Saúde. Foi um de seus membros, mas não houve tempo para ver o progresso de sua inciativa. Faleceu de infarto fulminante em 2/5/1951, quando a OMS dava seus passos iniciais.

Atualmente pouco se fala de sua pessoa ou de seus feitos, mas existe a convicção no meio médico que ele representa para o Instituto de Higiene de São Paulo o que Arnaldo Vieira de Carvalho foi para a Faculdade de Medicina de São Paulo e Oswaldo Cruz para o “Instituto de Manguinhos”, a Fundação Oswaldo Cruz. O artigo A casa de Geraldo de Paula Souza: texto e imagem sobre um sanitarista paulista, de Lina Faria, publicado na revista “História, Ciência, Saúde – Manguinhos”, v. 12, nº 3, de dez. 2005, resgata sua história e preenche uma lacuna na história da ciência brasileira. Publicou um grande número de trabalhos sobre saúde pública e de temas correlatos, como a profilaxia das doenças endêmicas; os serviços de saneamento ambiental; os centros de saúde; a formação de pessoal especializado; políticas públicas sobre saúde, muitos deles também apresentados em congressos.

Tais publicações foram essenciais para a institucionalização da saúde pública no País. O artigo acima citado conta com informações sobre o legado de Paula Souza, mas não deixa de ser intrigante o fato de não haver uma biografia especifica dedicada ao reconhecimento de seu trabalho. É o patrono das cadeiras nº 101 da Academia Paulista de Medicina e nº 30 da Academia Paulista de Psicologia. Em São Paulo temos a Rua Paula Souza e o “Centro Paula Souza”, que administra as escolas técnicas, mas homenageiam o pai de Geraldo. O que temos sobre ele são artigos publicados em revistas científicas sobre sua vida e legado, como o escrito por N.M.F. Candeias – Memória histórica da Faculdade de Saúde Pública da USP: 1918-1945 -, publicado em nº especial da “Revista de Saúde Pública”, nº 18, 1984, ou o texto de Cristina Campos – Geraldo Horácio de Paula Souza: atuação de um higienista na cidade de São Paulo: 1925-1945, publicado na revista “História & Ensino, v.6, de out. 2000.

8 pensou em “MEMORIAL DOS BRASILEIROS: Paula Souza

  1. Paula Souza foi um dos fundadores da OMS-Organização Mundial da Saúde, em 1948. Cinco anos depois assumiu a direção-geral outro brasileiro, Marcolino Gomes Candeau, por 20 anos (1953-1973). Próximo domingo falaremos dele. Estes são dois dos destacados fundadores da OMS

  2. Os Paula Souza, pai e filho, deixaram de forma indelével uma memoria nas nossas escolas, Engenharia e Medicina. Parabéns, Brito pela escolha.

    • Mestre Plínio

      O senhor, como um dos veteranos da Poli, pode falar dos Paula Souza com propriedade mais do que qualquer outro.
      Na área médica podemos falar todos nós que estamos precisando da OMS, mesmo a revelia do presidente do Brasil.

  3. O Geraldo Horácio de Paula Souza deve estar se revirando no túmulo ao saber no que tornou-se a sua sonhada OMS sob a “direção” de um quadrúpede, que por mais que se esforce – e receba apoio de outros iguais – não consegue (nem jamais conseguirá!!!) tirar os membros superiores do chão, e se assemelhar a algo parecido com um antropoide.

  4. Caro Adail
    Não seja tão cruel com o diretor-geral da OMS. Ele tem feito o que pode para esclarecer o Mundo sobre a pandemia. Mas a OMS pode pouco e menos ainda com a saída dos EUA. Mesmo assim, sem apoio de políticos como Trump e o presidente do Brasil, tem alertado para os perigos que o mundo atravessa, caso a vacinação não chegue para todos. .

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