CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Capa da revista Time da época que saiu a matéria despretensiosa, mas foi um sucesso estrondoso

Segundo o jornalista de música José Teles, ex crítico musical do Jornal do Commercio, Londres está na mídia, hoje, por causa do desmiolado Boris Johnson, mas nos anos sessenta, foi por causa de um artigo despretensioso publicado na Revista Time.

É preciso voltar no tempo e recordar a “Swinging London” dos anos 60.

No verão Londres recebe tantos turistas que, em certos logradouros, fazem-se filas para atravessar a rua. Tantos anos depois de ganhar o epíteto “Swinging London”, grosso modo, “Londres é da hora”, ou “Londres, a “Cidade da vez”, ainda é uma cidade onde todo mundo vai, ou quer ir.
Até 15 de abril de 1966, embora a Inglaterra fosse a terra dos Beatles, dos Rolling Stones, de Mary Quant, de Twiggy, gente que ditava as regras do pop para o mundo, sua capital era um destino turístico considerado pouco interessante.

A imagem que se tinha de Londres, e da Inglaterra, era de estereótipos: Jeck, O Estripador; Sherlock Holmes; a formalidade de sua gente; a moeda de divisão complexa, duodecimal (Pound, shilling, pence, farthing), de muita chuva, e bares que fechavam quando a clientela começava a se animar. Tinha-se tal impressão de Londres, de Liverpool, então quase nada se sabia, a não ser que os Beatles surgiram por lá.

John, George, Paul e Ringo ganharam honrarias da Rainha Elizabeth pela contribuição dada à divulgação do império britânico mundo afora. Mas quem fixou como um dos destinos turísticos mais procurados do planeta foi a revista americana TIME. Na edição do citado 15 de abril de 1966, a revista estampou na capa um desenho de Geoffrey Dickinson (por coincidência nascido em Liverpool), com um cartão postal da cidade, o Big Bem, ao fundo, e a nova paisagem da capital inglesa: jovens cabeludos, discoteques, óculos com bandeira inglesa estampadas nas lentes, um roll-royce dirigido por alguém assemelhado a um beatle. Em meio a tudo isso, o então primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson.

No alto da capa, numa faixa branca transversal, lê-se: LONDO:THE SWINGING CITY. Esta pequena chamada atingiu o alvo em cheio. Veio daí o “swinging London”, que se tornou quase um título honorífico da cidade. O título da matéria na revista não é nem um pouco atrativo:”Grã-Bretanha: você pode atravessá-la caminhando sobre a grama”. A grama a que se refere é a dos imensos parques, e praças de Londres.

“A nova vitalidade da cidade impressiona tanto os que a visitam, quanto seus habitantes. O planeta que já foi a Inglaterra, deu lugar a uma nova arte de viver – excêntrico, boêmia, simples e alegre.” A Time reproduz trecho de uma entrevista à revista Candide, de Paris, concedida por Robert Fraser, dono de uma galeria de arte pioneira em Londres: “Neste momento, Londres tem uma coisa que Nova Iorque já teve: todo mundo quer estar nela.” Não há lugar igual. Paris está engessada. “Há algo indefinido em Londres que faz as pessoas quererem ir pra lá.” Pra quem não se lembra, ou não sabe, foi nessa galeria de Robert Fraser que John Lennon conheceu Yoko Ono. Os dois formariam o casal mais badalado da Swinging London.

Nessa época a Revista Time jactava-se de manter uma tiragem de 14 milhões de exemplares semanais. Estimava-se que quando este artigo foi publicado apenas 9% dos americanos sabiam o que acontecia em Londres. Poucos já haviam ido à Inglaterra. A partir daí a capital inglesa tornou-se o local onde se deveria estar, sobretudo para gente jovem.

Há 56 anos a capital inglesa continua “suingada” e objeto de desejo.

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