JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Dudu “empinando” a pipa para a liberdade

Luiz Eduardo. Mas podem chamar de Dudu. Ele até gostava. Se sentia bem. Íntimo, amigo!

Dudu era filho único de Messias e Dalva. Era único por entenderem que era aquele mesmo que eles poderiam criar, com carinho, atenção e sem deixar faltar nada na viabilização dos estudos – para que ele, Dudu, só se preocupasse mesmo e muito com os livros.

Messias e Dalva eram casados. Messias era filho de Marina, que ficara viúva há pelo menos duas décadas. Marina, como toda Avó, amava mais Luiz Eduardo que o próprio filho, Messias. Dudu era quase tudo para Marina. Além de único neto.

Marina morava numa casa “ainda em construção”, numa reforma iniciada pelo falecido marido. Quando tivesse o dinheiro suficiente, ela concluiria a reforma. Por enquanto, a casa grande, fora concluída apenas no primeiro pavimento, com a laje servindo também de futuro piso para o segundo pavimento.

Eis que, certo dia o destino disse “presente” e se fez cumprir. Messias e Dalva foram vítimas fatais de um acidente automobilístico. Dudu estava na escola, quando a avó Marina foi buscá-lo, aproveitando para acalmá-lo de alguma forma na hora de transmitir a notícia fatídica.

A princípio foi muito difícil para Dudu. Seria parta qualquer um. Mas, o tempo passou e ele, Dudu, acabou aceitando o destino. Menor de idade, sem renda e sem muita coisa, passou morar com a Avó – essa, viúva e também só.

Um, dois, três anos – período difícil para Dudu.

Ele precisava se apegar a alguma coisa, e acabou fazendo isso.

A avó fazia tudo por ele. Pretendia, única e exclusivamente, que ele fosse feliz. Que encontrasse o melhor destino e tivesse uma vida diferente dos demais.

Estudioso. Concentrado no que fazia e pretendia, Dudu dava o máximo de atenção aos estudos, mas não se descuidava do lazer, da brincadeira e da diversão.

Eis que Dudu se encantou com a brincadeira da pipa. Pipa, arraia, papagaio – fosse o que fosse. Era uma nova conquista de Dudu.

Mas, naquela novidade havia um particularidade. Dudu se acostumou a “soltar a pipa” num lugar cativo – a laje da casa inconclusa da avó. Era ali que, claro, Dudu se sentia do “dono do pedaço”.

Mandava a pipa para o ar, sozinho. Sem eira nem beira.

Pipa é algo para voar em liberdade

Dudu não conhecera algo que não fosse a liberdade. Sempre foi assim. Na convivência com os pais e, agora, na convivência com a Avó. Liberdade era o tema. Era o mote. Liberdade era tudo.

Por que Dudu escolhera para mandar a pipa para o ar, desde a laje da casa inconclusa da Avó?

A liberdade era o foco.

Dudu não queria a companhia de outros meninos. Os outros, com certeza, viveriam em torno do “corte” das pipas. Tudo em função do cerol, um elemento que descaracterizava o “soltar a pipa”.

Apreciador da liberdade, o que Dudu gostava mesmo era de “botar a pipa” no ar e, quando tivesse certeza da boa altura, romper a linha e deixar que a pipa seguisse seu caminho da liberdade.

A pipa. A liberdade. A realização de Dudu. Nada de cerol, nada de corte, nada de voltar a ser “pega” por outros meninos.

A liberdade era o mote. Era o êxtase.

A liberdade da pipa e da vida.

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