Teus retratos – figuras esmaecidas;
mostram pouco, muito pouco do que foste.
Tuas cartas – palavras em desgaste,
dizem menos, muito menos
do que outrora me diziam
teus silêncios afagantes…
Só o espelho da minha memória
conserva nítida, imutável
a projeção de tua formosura,
só nos folhos dos meus sentidos
pairam vívidas
em relevo
as frases que teu carinho
soube nelas imprimir.
Sou a urna funerária de tua beleza
que a saudade
embalsamou.
Quando chegar o meu instante derradeiro
só então, mais do que eu,
tu morrerás em mim.
Gilka da Costa de Melo Machado, Rio de Janeiro-RJ (1893-1980)