CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

O pequeno imperador e, lembranças inesquecíveis…

Quando era criança, lá pelos meus 10 ou doze anos frequentava um cinema do bairro, ou algo que se assemelhava a um cinema, onde projetavam filmes de bang bang, desenhos, chanchadas e meus preferidos: sobre o império romano.

Acredito que muitos tenham tido essa experiência.

A história pouco interessava, era sempre a mesma: um tentando “sacanear” o outro, reis e nobres com barbichas que pareciam tão reais quanto uma nota falsa, enrolados em lençóis pregados com algum medalhão no ombro e cara de que mordia a fronha.

Bom mesmo era quando vinham as cenas de festins ou intimas, pois tínhamos as atrizes em trajes diáfanos, com olhar também, expondo pernas, coxas e colo que aguçavam minha imaginação, que na época já tinha lido por um jornal diário as diabruras de “Engraçadinha” de Nelson Rodrigues e, algumas coisas mais.

E quando, em meio ao grande festim, a personagem malvada – a sorrelfa – abria um anel e jogava o veneno no copo do infeliz que nada sabia? quase gritávamos para a perfídia que ele estava sofrendo.

Mas, as lembranças de quem hoje chega ao 70 é retornada quando vejo, não nas telas do “Cine Zezão” do meu bairro de infância, onde não existia proibição para assistir qual filme fosse, mas nas chegada do nosso governador nas suas entrevistas quase diárias desde o início da tal pandemia, via TV / HD.

Parece que ouço os clarins – ou cornetas – para sua chegada, sempre cercado por uma “entourage” e, destilando seus decretos e normas, como um imperador de plantão, pronto a desenrolar um papiro simbólico para determinar como serão nossos próximos dias, meses e talvez anos.

Começa sempre que tudo é feito em nome do povo, da pessoa e a necessidade de salvar vidas, como um “paizão” protetor, amigo e irmão camarada.

Destila tudo e, acredito que em sua maneira de pensar, faz o melhor; para quem não viu – vale a dica, – pois é muito bom – parece o chefe da série “The office”, que apesar de atrapalhar, constranger e tumultuar a vida de todo mundo, acredita estar resolvendo tudo.

Pequenos negócios já não existem, médios lutam para sobreviver, grandes – bem, os grandes migram para outros lugares ou fecham e vivem de rendas – e, o lema “fique em casa” é o absurdo que prega nosso sublime comandante.

Monocórdio, segue nosso pequeno imperador impondo leis, regras e que tais, sem quaisquer contestação de quem poderia intervir; a ALESP vai bem obrigado, o MP também, os funcionários públicos felizes com receber sem precisar bater ponto e o povo que é o gerador de renda, paga os impostos de onde sai os salários e benefícios dos privilegiados, sem poder trabalhar, sem ter nenhuma renda a não ser o suor do dia a dia.

Como dizia uma personagem da Escolinha do Raimundo: “O povo, ora o povo; o povo é mero detalhe”.

Então, ficamos assim: enquanto o nosso pequeno imperador continua com suas performances e imposições, sem ser contraditado, ouviremos as cornetas antecipando o palavrório, até que pereça o ultimo ser, talvez não contaminado pelo vírus, mas de fome dentro de casa, como lhe foi decretado.

Mas, como tudo pode acabar em ficção, talvez tenhamos um Charlton Heston em “A última esperança sobre a terra” ou Will Smith em “Eu sou a lenda”, a mesma história, mas podendo-se escolher quem sobreviverá ou melhor performance dentro das maluquice do momento.

“Quando as máquinas param” não é somente uma peça teatral ou aviso de greve; é a certeza que nada dura para sempre, até os imperadores caem; melhor preservar quem os sustenta, sem jogá-los numa vala indefinida, como hoje ocorre não só em São Paulo, mas onde pequenos imperadores fazem sua leis, ao amparo do STF.

Quem sabe um pouco de bom senso não esteja fazendo falta?

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