CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ESTA É A ÚLTIMA VEZ…

É comum autoridades sobrevoarem áreas atingidas por tragédias, caso, por exemplo, das enchentes. Porém, jamais se ouviu dizer que autoridades sobrevoaram árvores enfolhadas, debaixo das quais professoras heroínas ministravam, rotineiramente, aulas para crianças porque o município não lhes forneceu o abrigo e condições necessárias: a escola. A cena, mostrada por órgãos da imprensa, verificou-se em alguns estados brasileiros, a exemplo do assentamento Belo Monte, zona rural de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, mostrado pela Record.

Se é banal ministrar aulas para crianças debaixo de árvores (com o agravante de muitas destas se encontravam famélicas, pés descalços, esmolambadas) então pode-se dizer que o vocábulo tragédia (“acontecimento que desperta lástima ou horror…), é apenas um modo particular de julgar, perceber ou entender alguma coisa. A tragédia perde a patente de tragédia quando ocorre rotineiramente.

Mais que legal, o Brasil tem a obrigação moral de proscrever da sua paisagem essa cena, que vexa e deprime: uma árvore servindo de escola. São crianças esquecidas, crias brasileiras à margem. Apesar de tão pequenas, tão cândidas e sob o açoite da escassez, ainda encontram na esperança o alento para ultrapassar a zona escura do analfabetismo.

Que nunca mais essa cena pardacenta, (que não combina com as cores nacionais), seja reeditada em nenhuma paragem brasileira, mas se eventualmente ocorrer que um governante possa, de pronto, aterrissar o seu helicóptero e dizer para a anônima e heroica professora:

– Esta é a última vez que você ministrará aulas debaixo desta árvore, mesmo que para isso eu tenha de cortar a verba do carnaval!

4 pensou em “JACOB FORTES – BRASÍLIA-DF

    • Realmente, Oliveira. Quem já conhece a impostura dos políticos brasileiros, a providência mais apropriada a eles seria mesmo cortar a árvore.

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