CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ENTOANDO O CÂNTICO DE LÁZARO

Progride a legião dos famintos que encompridam as filas à espera de uma refeição com que possam matar a fome sua ou a de algum familiar. Sem trabalho, e com bocas para aprovisionar, nada mais restou aos flagelados da epidemia senão entoar o cântico de Lázaro, a bem dizer, abraçar o ofício da mendicância, evidentemente lamuriando os seus destinos. Outrora, os versículos de Lázaro costumavam ser cantados apenas pelos cegos e paralíticos que pediam esmolas.

Agora, em virtude da ação deletéria do coronavírus, passaram a ser entoados também por trabalhadores sãos. Isso remete ao evangelho de Lucas, capitulo 16 versículos 19-31, que disserta sobre dois personagens: de um lado, um homem rico, trajado à púrpura, se alimentava à farta, em banquetes lautos; e, de outro, um mendigo, de nome Lázaro, infestado de hanseníase, que deliberou aquerenciar-se nas proximidades do palácio do rico com o intuito de catar o que sobrava dos banquetes lautos para poder matar a sua fome.

Enquanto Lázaro – em razão das feridas abertas, a lepra -, catava, de modo furtivo, os sobejos do rico, os desempregados da pandemia pleiteiam, de forma gritada, uma marmita para saciar os seus estômagos. É a caridade brotando dos corações pios.

Resta torcer, rezar, para que se restabeleça a normalidade brasileira modo com que será dissipada essa lepra social. Os sãos precisam mesmo é de trabalho, não de esmola. “A esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

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