João comprou um galpão. E, logo, preparou placa de Aluga-se para pôr na entrada. Ocorre que, na mesma hora, 5 coqueiros estavam sendo plantados no meio da rua que ficava à direita do tal galpão. E, no local, instalou-se vistoso comércio informal de madeiras. Problema é que, com a ocupação da rua, os possíveis usuários do galpão não poderiam ter acesso ao estacionamento, que ficava nos fundos. João não iria alugar seu imóvel, nunca. Procurou o tal camelô das madeiras. E pediu que tirasse aquelas tralhas dali. Em vão. Perguntou, por perguntar, se o tal cidadão pagava imposto. Resposta foi “Imposto é prá otário”. E João sentiu, na hora, que o otário dessa história era ele. Por pagar, religiosamente, IR, IPTU, ISS, ICMS, Previdência dos empregados, DPVAT, Taxa de Bombeiros.
Foi à polícia para liberar a rua. O policial disse apenas: “Se o tal camelô fosse rico, como Vossa Excelência, a gente tirava. Mas pobre como nós, não”. E ainda o recriminou: “Deixe o coitado ganhar a vida!, homem”. João ligou para o 0800 da Prefeitura. Em vão. Foi lá, pessoalmente. Como o comércio de madeiras fechava uma rua, dirigiu-se à Secretaria das Mobilidades. O secretário informou que não estava, entre suas atribuições, cortar coqueiros. E sugeriu procurar a Secretaria do Meio Ambiente. Esse outro secretário prometeu resolver. Só prometeu. Que nunca esteve, nos seus planos, perder tempo com 5 coqueiros. Desesperado, João ligou para o telefone dos Bombeiros, 3421.9595. Tantas vezes que o dedo ficou roxo. O pessoal, provavelmente, estava de férias. Dirigiu-se à repartição. Foi lá, para conferir. E os bombeiros, por voz de um educado coronel, informaram que só atuavam em estabelecimentos “legalmente constituídos”. Regulares. Autorizados pela Prefeitura. Como se tratava de um camelô, perdão, mas não tinham nada com isso. João, então, lembrou frase de Fernando Pessoa, sobre os funcionários públicos: “São nomeados para não fazer nada, e é efetivamente o que fazem. Deles, pois, é o Reino dos Céus… Deixemo-los e volvamos à terra”. (1926, Revista de Comercio e Contabilidade).
João passou a se preocupar que, com aquela madeira tão perto, pudesse tudo pegar fogo. E perderia seu galpão. Só que na Seguradora, depois da vistoria, a resposta foi não. Por ser grande o risco de incêndio. Desesperado, chegou a mandar carta para a Voz do Leitor, no Jornal do Commercio, com fotos. Nada. Agora, confia só em São Pedro. Na esperança de que as chuvas do inverno levem, com elas, as tais madeiras. E tome reza. Foi quando, sem mais ter o que fazer, João sentou no meio fio. E chorou. Esse texto poderia ser ficção. Pena que não é. E não se trata de uma cidade imaginária. Dos romances. Dos filmes. Longe disso. É nossa Recife “de altos coqueiros”, “bravos guerreiros” e “imortal”. Infeliz João. Triste Recife.
Prezado Dr. José Paulo, após 24 anos de PSDB/PT, estes foram alguns dos legados negativos que nos deixaram: o tal do politicamente correto e o garantismo, o direito comum, foi transformado em direito individual, não apenas para os mais pobres, mas para todos cidadões, inclusive e em especial os mais ricos, senão vejamos os casos do impeachment da Dilma, a mudança da prisão em segunda instancia e por último o STF “obringando o governo a aumentar os usuário do bolsa família e diante dos fatos, abriram a porteira para os ambulantes, o cidadão de bem, tem que ouvir e sentir estas barbaridades.
Dr. José Paulo: Kafka nunca perderá a atualidade, sobretudo no Brasil. Parabéns pelo texto.
Magistral. Coitado do João que buscou as vias legais.
Dr.º José Paulo Cavalcanti filho!
Parabéns pelo excelente texto curto, enxuto, que retrata a realidade da burocracia perversa brasileira, sem retoque, sem acrescentar mais nada.
Tenho um grande amigo, tenente da reserva, contabilista de mão cheia, que me contou uma história interessante:
Um microempresário do Recife o procurou para corrigir distorções na contabilidade da empresa desde que a criou, mas que estava funcionando perfeitamente para os órgãos federal, estadual e municipal, mas para ele, que é honesto, não estava.
Incomodava-o as distorções. Gostaria que o contabilista corrigisse os erros, pois não gostaria de ver nada funcionando de forma irregular, mesmo que para os órgãos do governo estivesse perfeito.
Experiente no ramo. Profissional escorreito. O contabilista olhou o microempresário nos olhos certo dia e lhe disse:
“Para que corrigir o que está funcionando mesmo tronxo.” “Se você fizer essa besteira vai sofrer mais que ‘suvaco de aleijado’ e nunca mais vai ter paz na vida!” “Sem contar que pode ser processado!”
Constrangido com a resposta vinda de um profissional em quem confiava, preferiu seguir os conselhos do amigo contabilista e nunca teve problema com a empresa junto ao fisco.
“Se tudo está funcionando mesmo errado, para que mexer para sua vida tornar-se um inferno?”
É isso aí, Dr.º, o Brasil é o inferno dos que tentam viver com honestidade!