
Dá muita pena da multidão que deseja fugir em busca de melhores oportunidades também. Infelizmente, nem todos conseguem
Fui passar uma semana em Portugal com meus pais, para fazer uma surpresa à minha mãe, que fazia aniversário. Ao pegar um Uber para ir a Cascais visitar um amigo de longa data, o motorista olhou pelo retrovisor e disse: “Constantino? Rodrigo Constantino no meu carro?” Fomos o caminho todo de 30 minutos conversando. José é o caçula de onze numa família do Piauí. O trabalhador mudou-se para São Paulo para tentar uma vida melhor, como fazem tantos nordestinos, mas achou que era pouco. Há quase duas décadas, mora em Lisboa, pai de quatro. Dirige um Tesla novinho no Uber Black. Tira mais de cinco mil euros mensais.
Leva uma vida digna. Sua família vive em segurança. José ainda reclama do governo português, que dá esmolas para imigrantes, em especial os muçulmanos, num mecanismo perverso de incentivos. Ele acha que o país deve ser uma terra de oportunidades para quem quer trabalhar, não viver à custa do governo.
Gente com essa mentalidade é sempre mal tratada em países como o Brasil, que pune o trabalhador honesto. Toda crise econômica produzida pelo PT leva à fuga de capitais, e parte da elite se manda para o exterior em busca de mais conforto para a família. Mas não é apenas a turma do andar de cima que foge.
Nos Estados Unidos vemos vários brasileiros que chegaram com uma mão na frente e outra atrás, em busca de trabalho. Na Europa, às vezes pela maior facilidade de visto, também tem muito brasileiro humilde tentando encontrar oportunidades, em que pese um modelo econômico menos dinâmico. José é prova de que é possível encontrar um caminho com dignidade também na Europa.
Enquanto isso, muitos ficam no Brasil por falta de opção, mas cientes de que são mal tratados pelo governo. É um quadro triste, de oportunidade perdida. Tudo no Brasil conspira contra quem quer produzir de forma honesta. Além da falta de oportunidades para os trabalhadores, há maior insegurança, escolas péssimas, transporte público terrível, inúmeros outros problemas sociais.
Fiquei feliz pelo José, alguém totalmente antenado na política nacional. Basta pensar que mesmo depois de quase vinte anos, ele não desistiu de se informar sobre o país, e rejeita os caminhos “tradicionais” como a Globo, preferindo ouvir gente como eu. Mas ao mesmo tempo dá muita pena da multidão que deseja fugir em busca de melhores oportunidades também. Infelizmente, nem todos conseguem. E muitos seguem esfolados pelo Estado brasileiro, sem perspectivas de dias melhores…