CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

“MAMÃE, A CALÇA DAQUELA MULHER TÁ RASGADA”!

A mãe do menino levantou a vista do celular, no mesmo instante, a moça levantou também a vista, os olhares das duas mulheres se cruzaram e sorriram uma para a outra. O menino, de seus sete, oito anos, inquieto, tanta energia pra gastar, continuava com toda a atenção e o interesse voltados para os dois rasgões na calça da moça.

“Olha, mamãe, tá vendo como tá rasgada a calça dela”?

A mãe tentou explicar que era assim mesmo, que a outra tinha comprado a roupa já assim, mas o filho não entendia, não se conformava com o que via, e, por não se satisfazer com a explicação, saltou da poltrona e correu para a moça.

“Venha pra cá, Carlos Eduardo”, a mãe falou em tom enérgico, e o filho nem aí, a moça sorriu sem graça, já começando a se enfastiar com a curiosidade do menino que atrapalhava a diversão com o celular. No mesmo estado de espírito, a mãe voltou a chamar o menino de volta, “Venha já pra cá, Carlos Eduardo”, e ele nada, os ouvidos atochados de cera, ela, enfim, se levantou e partiu pra cima dele.

Foi no exato instante em que o mecânico apareceu, para me avisar que o carro estava pronto. Saímos para a oficina. (Como se vê, a cena transcorria na sala de espera de uma concessionária de veículos.)

Voltei uns dez minutos depois, para acertar, com a caixa, o pagamento do serviço. A mãe e o menino já não estavam lá. E a mocinha, a cabeça baixa, toda concentrada no celular.

3 pensou em “FRANCISCO SOBREIRA – NATAL-RN

  1. Ótimo texto, amigo Francisco Sobreira! Minha saudosa mãe gostava muito de costurar e tinha horror a fiapo Dizia que fiapo dava azar… Há vinte anos ela se encantou e não alcançou esta “moda” ridícula…Não posso ver essas calças, propositalmente rasgadas, sem me lembrar dela. Com certeza, ela não iria se conformar com isso. Ia querer cerzir todas as roupas rasgadas…rsrs.

    Bom fim de semana!

  2. Olá, Sobreira!
    Em determinada oportunidade da vida visitei uma fábrica de jeans no Piauí. Acompanhei todo o processo de confecção do produto e, ainda desconhecedor da moda citada acima, vi calças saindo da linha de fabricação com a coloração azulada característica do jeans.
    Umas delas seguiam numa direção, outras tomavam um rumo diferente. Curioso, perguntei ao guia qual o destino das que escapuliam noutra direção. Mostraram-me então o motivo da derivação de sentido: rasgar as calças.
    Isso mesmo, uma das máquina fazia rasgos nas calças novinhas em folha para parecerem esfiapadas. Não acreditei, até ver moças enfiadas nas ditas. Sempre abominei tal moda. Todas as vezes que encontro uma mulher – ou macho -, dentro de uma daquelas calças, lembro do conto “A Roupa Nova do Rei”, do dinamarquês Hans Cristian Anderson.
    Fazer o que? Tem gosto pra tudo, né?
    Valeu!

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