CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Em certo clube aqui do Recife, quando exerci cargo de Vice-presidente Cultural, me deparei com situação singular.

Um associado, que se dizia ex-Juiz de Pequenas Causas, se aboletava logo cedo na Sala dos Aposentados, instalava seu laptop, espalhava seus papéis na mesa de reuniões e passava a dominar o cenário.

Na hora de escrever, sem cerimônia alguma, abocanhava um lote de papéis tipo “A-4”, da estante do departamento. Quando notava que ninguém o observava, ensacavava-os em sua mochila. Iniciava seu “trabalho” navegando na Internet, todo pomposo.

Uma das senhoras do meu Departamento, que ali fora instalada, dias depois, fez discretos comentários sobre os furtos de papel e a insalubridade do ambiente. Procurei ouvi-la em separata diante denúncia tão significativa.

Segredou-me haver observado que os incômodos surgiram depois que o Dr. Salvilino Travassos Serpa começou a comparecer ali durante todas as manhãs, o que lhe obrigava, de vez em quando, a sair, a fim de aspirar ar puro, em que pese ser o ambiente ser climatizado.

Alegou a Diretora de Aposentados, que o ambiente havia se tornado verdadeiramente insalubre devido às flatulências constantes expelidas pelo orifício retal do dito-cujo, dizendo-me ela:

– O ex-Juiz se inclina na cadeira, procurando disfarçar, como se fosse coçar o tornozelo, levanta uma parte da bunda, e ficando livre o “cano de descarga”, dispara sem piedade, peidos a granel, de odor insuportável. Parece ter o intestino podre!

Fui primeiramente ter uma respeitosa conversa com o “peidão”, acompanhado de um assessor, tratando o assunto com o maior cuidado. Comecei pelas beiradas.

Ao solicitar sua atenção para os fatos e lhe transmitindo que as reclamações tinham cabimento, fiz-lhe ciência de que ele costumava usar muitos papéis destinados ao serviço do clube; além de soltar cada “pum” infernal.

Segurar peido dos outros não era brincadeira, aleguei ao jurisconsulto peidante.

Nas semanas seguintes, o ex-magistrado continuou soltando suas flatulências, agora sem o disfarce de “coçar o tornozelo”. Estava nos desafiando.

Passou a soltar seus peidos ainda mais à vontade; “na banguela”, como se diz, o que obrigou a pobre senhora a pedir transferência de setor. Uma gozação geral se espalhou pelos corredores: “A História do Juiz peidão”.

Sem alternativas senão a instância do Comité de Ética, escrevi ao Vice-presidente Administrativo:

FLAUTULÊNCIAS INSALUBRES – Já se tornou deboche o procedimento nocivo por parte do Sócio sr. Silvilino Travassos Serpa, que se arvora de haver sido Juiz de Vara Pequena, fato que está a merecer pena ou corrigenda regimental.

São repetidas irregularidades de ordem “sanitária” e moral, pelo que pedimos ser este registro encaminhado à instância correspondente.

Tornar a Sala dos Aposentados um ambiente insalubre e irrespirável é uma delas, em virtude da liberação de “gases intestinais”, pútridos em seu mais alto grau de decomposição, muitas vezes sem quaisquer disfarces e até “sonoros”.

Alguns peidos e sua forma de expeli-los são típicos de um sujeito descarado. Mais parecendo o ronco de uma moto Honda e cujo odor impregna o ambiente afugentando os frequentadores.

Advertido, na amaior diplomacia, ficou afobado e desejou saber quem o havia denunciado, a fim de tomar as “providências físicas” e até jurídicas.

Desejei contornar o assunto, durante a reunião, mas a Comissão de Ética não o perdoou. Resultado: exclusão sumária do “peidante” do quadro de associados.

E recordando aquele episódio tão nefasto, lembrei-me que num momento preocupante da conversa, quando tentei apaziguar a situação. Ele se levantou, após ouvir-me, brabo que só uma capota choca e com voz de trovão, bateu com a mão na mesa e engatilhou:

– Este clube não presta mais! Aqui não se pode nem peidar!…

Vista parcial da Sala dos Aposentados

8 pensou em “FLATULÊNCIAS INSALUBRES

  1. Ganhei o dia lendo esta divertida cronica no incício da manhã, não abro mão desta gazeta escrota, só tem “cabra! da melhor qualidade!

    • Caro Marcos,

      A paga do cronista são comentários assim atenciosos como o seu.

      Fico feliz em contar com leitores tão distantes e frequentes.

      Todos os sábados estaremos juntos.

      Às vezes tento escrever coisas sérias mas o Ibope trava.

      Pelo visto, o leitor procura diversão literária sadia.

      Muito grato por sua atenção.

      E Viva o Brasil!

  2. Que as socialites, grã-finas e dondocas fiquem longe desta encrenca…

    Morre a cada dia o sonho bertiano de fazer dessa gazeta um recinto apropriado para o lazer cultural de jovens imberbes, donzelas e piás. Lá vem Carlinhos, agora sem o disfarce de “coçar o tornozelo”, nos brindando com uma fedida e barulhenta crônica, imprópria para leitura em elevadores. Ainda bem que ainda não inventaram internet com “cheiro”. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  3. Sanchito,

    A tática do Juiz Peidão era quase teatral.

    Baixava a mão em disfarce perfeito e liberava as pregas para a passagem dos “silenciosos-fulminantes”.

    Mas, azar dele quando a covardia do próprio furico aparecia, denunciando que o tolête estava querendo abrir passagem. Era um anúncio.

    Como se fosse o corneteiro real informando que o Rei estava chegando; isto lá nos tempos medievais.

    Quando a Izabel via ele se abaixando, ela ia logo saindo da sala porque a desgraceira mal cheirosa estava para vir.

    Os fatos foram reais. Troquei apenas os nomes.

    E me veio outro fato sobre uma senhora que trabalhou muitos anos em nossa casa, como – com licença da má palavra! – piniqueira. Ela era muito gorda e a carnosidade bundal impedia que os peidos saíssem naturalmente, pois ficavam barrados pela banha.

    Ela então metia a mão na bunda, puxava as carnes, peidava e sempre exclamava: “Está como nunca”! Que alívio! E saia o “desmantelo” pelo ar, afugentando gregos e troianos.

    Bom sábado, amigão!

  4. Caro Deco,

    O Juiz peidão vai ficar feliz ao saber que entrou na monarquia, embora peidosinosa.

    Grato por sua leitura.

Deixe um comentário para Assuero Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *