VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

“ANTOLOGIA DA CANÇÃO BRASILEIRA”, coletânea oferecida aos poetas, trovadores, musicistas e intelectuais brasileiros, pelo grande pesquisador Norte-Rio-Grandense, Gumercindo Saraiva, homenageou o poeta e compositor Catullo da Paixão Cearense, por ocasião do seu Centenário de Nascimento, a quem denominou de “o maior lapidador da Canção Brasileira” (1863 – 1963).

Catullo da Paixão Cearense nasceu a 8 de outubro de 1863, em São Luiz do Maranhão e faleceu no Rio de Janeiro a 10 de maio de 1946.

Na sua mocidade, sentindo a decadência da canção nacional, Catullo tornou-se um herói, desbravando de maneira patriótica os poemas mais sugestivos da literatura brasileira, notadamente de Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e tantos outros poetas, cujas composições se integraram ao cancioneiro popular do nosso país e alcançaram destaque fora do Brasil.

Gumercindo Saraiva quis restaurar aquilo que estava prestes a desaparecer do “dossier” cultural brasileiro. E ele estava certo. A Modinha está adormecida, ofuscada pela música de baixa qualidade.

Heitor Villa-Lobos, o expoente máximo da música brasileira, célebre autor das “Bachianas Brasileiras”, encontrou na obra de Catullo da Paixão Cearense, não simples melodias, escritas de forma banal e inexpressiva, mas um manancial de talento. Por isso, certa vez, disse: “Na música, Catullo me foi mais útil que o próprio Ernesto Nazareth”.

A notável tradição e o majestoso cenário emocional encontrados na canção de Catullo, não foram mais estudados e permanecem no ostracismo, por falta de divulgação. Sua grandiosa obra está adormecida. Temos necessidade de uma biografia mais positiva, que reviva na alma do povo a presença de Catullo e a universalidade dos seus cantos.

O escritor Rocha Pombo, estudando a obra de Catullo, declarou: “Catullo é um grande poeta. A meu ver, tem ele na alma alguma coisa mais que a exuberante e entusiástica poesia do nosso povo; nos seus versos, nos seus cantos, fala a excelsa musa anônima e imortal da raça”.

Alberto de Oliveira, príncipe da poesia brasileira, no seu tempo, referindo-se a Catullo, cantou, em versos, com o coração, a grandeza do grande vate maranhense:

“Esse outro poeta és tu, com as tuas harmonias
Com o teu estro a vibrar nas cordas do violão
Fazendo ao que te escuta ir-se a imaginação,
Ir-se o espírito além, além…por além afora,
Ao bom tempo feliz, ao bom tempo de outrora,
Em que eu sei que cantava esse de nome igual
E gênio igual ao teu – Catullo, o provençal.”

Catullo estudou um pouco de música, chegando mesmo a tocar flauta de cinco chaves, mas encontrando dificuldades por falta de embocadura.

Seus companheiros dessa época foram o flautista Viriato, o compositor Calado, o regente e compositor Anacleto de Medeiros, Quincas Laranjeiras, Albano, Cadete e outros que não alcançaram projeção no ambiente da boemia dessa turma tão conhecida nos meios das serestas do Rio de Janeiro.

O nome de Catullo da Paixão Cearense não precisa mais de apresentação no cenário da modinha brasileira.

Poeta popular, violonista, violinista, musicista afamado, bardo do povo, o autor de “ONTEM AO LUAR”, jamais encontrou quem o substituísse, devido à sua sublime inspiração, facilidade de rima, aproveitando de maneira auspiciosa motivos palpitantes para perpetuar nos seus versos e na sua musicalidade a misteriosa germinação do seu talento, como a semente que fecundou na terra e na alma do povo brasileiro.

Catullo transformou o acompanhamento, dando-lhe modulações imprevistas; entrou nos salões , e obteve calorosos aplausos, revelando a verdadeira beleza do violão brasileiro, nele entronizando de novo, a nossa Modinha, que, lamentavelmente, estava ofuscada por músicas de baixa qualidade. Esse foi o seu maior título de glória, na sua época.

Catullo morreu, levando o segredo da espontaneidade, o segredo da rima cantante dos regatos, da inspiração misteriosa e cheia de brasilidade. Levou a beleza dos céus de nossa terra, o luar imenso das noites sertanejas vividas e sentidas nas serenatas do seu tempo, a graça e o sorriso das caboclas bonitas do Sertão, a paz bucólica dos campos e das fazendas.

O violão que era um instrumento desprestigiado, companheiro inseparável da boemia e badernas, foi reabilitado por Catullo, que o impôs nos salões, tornando-o um irmão do piano, do violoncelo e do violino.

Entre suas inúmeras e belíssimas canções, estão “ONTEM AO LUAR”, “SERTANEJA” e “LUAR DO SERTÃO”, que se eternizaram.

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

2 pensou em “EVOCANDO “ONTEM AO LUAR”

  1. Violante,

    A sua crônica presta homenagem ao poeta, compositor, cantor e teatrólogo Catulo da Paixão Cearense (1863 -1946). Quem não conhece ou já não cantou “O Luar do Sertão” de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco? Mas quantos sabem que Catulo foi um poeta de rara inspiração e teve 15 livros publicados?

    Ele era filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga (natural do Maranhão). Mudou-se para o Rio em 1880, aos 17 anos, com a família. Trabalhou como relojoeiro. Conheceu vários chorões da época, como Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva, quando se iniciou na música. Integrado nos meios boêmicos da cidade, associou-se ao livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório de modinhas da época.

    Catulo da Paixão Cearense passou a organizar coletâneas, entre elas O cantor fluminense e O cancioneiro popular, além de obras próprias. Vivia despreocupado, pois era boêmio, e morreu na pobreza. Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Francisco Braga e outros. Como intérprete, o maior tenor do Brasil, Vicente Celestino .

    Suas mais famosas composições são ‘Luar do Sertão’, de 1908, que na opinião de Pedro Lessa é o hino nacional do sertanejo brasileiro, e Flor amorosa (sem data). Também é o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da “modinha”.

    Aos 19 anos, Catulo interrompeu os estudos e abraçou o violão, instrumento naquela época, repelido dos lares mais modestos. Iniciante tocador de flauta, a trocou pelo violão, pois assim, podia cantar suas modinhas. Nesse tempo passou a escrever e cantar as modinhas como, “Talento e Formosura”, “Canção do Africano” e “Invocação a uma estrela”.

    Moralizou o violão levando-o aos salões mais nobres da capital. Em 1908, deu uma audição no Conservatório de Música. Catulo foi autodidata autentico. Suas primeiras letras foram ensinadas por sua genitora e toda sua grande cultura foi adquirida em livros que comprava e por sua franquia à Biblioteca do Senador do Império, por ser professor dos filhos do Conselheiro Gaspar da Silveira. “Aprendi música, como aprendi a fazer versos, naturalmente”, dizia o Velho Marrueiro.

    Seu pai faleceu em 1 de agosto de 1885, desgostoso por seu filho ter abandonado os estudos para ser poeta, sem tempo de assistir a moralização do violão, o que veio a marcar tremendamente Catulo. Quem não conhece ou já não cantou “O Luar do Sertão” de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco? Mas quantos sabem que Catulo foi um poeta de rara inspiração e teve 15 livros publicados?

    Catulo morreu aos 83 anos de idade, em 10 de maio de 1946,a rua Francisca Meyer nº 78, casa 2. Seu corpo foi embalsamado e exposto a visitação pública até 13 de maio, quando desceu a sepultura no cemitério São Francisco de Paula, no Largo do Catumbi, ao som de “Luar do Sertão”.

    Termino brevíssima biografia de Catulo da Paixão Cearense, cuja admiração sempre me acompanhou, com a reprodução da letra de Luar do Sertão:

    LUAR DO SERTÃO

    (Letra de música)

    Não há, oh gente
    oh não, Luar
    Como esse do sertão

    Oh que saudade
    Do luar da minha terra
    Lá na serra branquejando
    folhas secas pelo chão

    Este luar cá da cidade
    Tão escuro
    Não tem aquela saudade
    Do luar lá do sertão

    Não há, oh gente…

    Se a lua nasce
    Por detrás da verde mata
    Mais parece um sol de prata
    Prateando a solidão

    E a gente pega
    Na viola que ponteia
    E a canção
    É a lua cheia
    A nos nascer do coração

    Não há, oh gente…

    Coisa mais bela
    Neste mundo não existe
    Do que ouvir-se um galo triste
    No sertão, se faz luar

    Parece até que a alma da lua
    É que descanta
    Escondida na garganta
    Desse galo a soluçar

    Não há, oh gente…

    Ah, quem me dera
    Que eu morresse lá na serra
    Abraçado à minha terra
    E dormindo de uma vez

    Ser enterrado
    Numa grota pequenina
    Onde à tarde a sururina
    Chora a sua viuvez

    Não há, oh gente…

    Desejo uma semana plena de paz, saúde e a inspiração de sempre!

    Aristeu

  2. Obrigada pelo excelente comentário, prezado Aristeu. É gratificante saber que não só sou eu quem gosta de Modinha.
    Nasci e me criei ouvindo meu avô paterno cantar e dedilhar modinhas ao violão, que ainda guardo na minha saudade. É uma pena que esse tipo de canção tenha sumido completamente da mídia.
    Seu comentário enriqueceu o meu texto.

    Luar do Sertão, realmente, é a canção mais cantada de Catullo da Paixão Cearense. É um verdadeiro hino dos sertanejos.
    “Sertaneja” também é uma das músicas mais cantadas e tocadas, nas raríssimas serenatas do interior nordestino.
    Gostei muito dos detalhes da biografia de Catullo da Paixão Cearense! Parabéns!

    Desejo a você também um feliz final de semana, com muita saúde, inspiração e Paz!

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