CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Para meus estimados amigos D.matt, Atamir Pinheiro e Brito

Seu José Amâncio da Silva era um velho do interior da Paraíba que tinha mais de cem anos. Morava vizinho de uma família que já havia morrido quase todo mundo: Tataravô, trisavô, bisavô, pai, tio, neto!…

O velho tinha o coro do bucho tão esticado que alumiava o sol. Daquele velho preto de sol a pino do sertão, do roçado, da paia da cana.

Certo dia o coletor do IBGE chega na casa dele e bate na porta: pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá! De lá de dentro o velho Amâncio fala: “Já vai!”

Quando abre a porta, o velho dá de cara com o coletor e pergunta: Diga?

Eu sou coletor do IBGE e gostaria de fazer umas perguntas pro senhor.

E o velho Amâncio: Arroche!

Nome do senhor: José Amâncio da Silva.

Idade? Eu não vou mentir pro senhor, não! Quando eu completei noventa e oito, eu parei de contar.

Faz muito tempo que o senhor parou? Perguntou o coletor. Resposta: Na faixa de uns quinze anos!!!!

Pelo amor de Deus – disse o coletor do IBGE – esse velho tem mais de cento e cinco anos com uma lucidez da porra dessas?! Não é possível!!!

E para testar o velho se não estava com malandragem, pergunta: Essa casa é do senhor? E o velho: Não! É de mamãe! E o coletor espanta-se: “tá cá bixiga nada! O velho ainda tem mãe!!”

E o coletor pergunta: Ela está? E o velho: Não! Ela saiu com papai!!

E o coletor, não acreditando, pergunta: Eles voltam logo? E o velho: Não! Eles foram visitar vovó que está com Chikungunya!!!

Curioso com a longevidade do velho, o coletor pergunta:

Qual segrego para estar vivo? E o velho responde na bucha: Não ter morrido ainda, oia! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá!

5 pensou em “EXPECTATIVA DE VIDA

  1. Cicero

    Agradeço a dedicatória e retribuo com uma história parecida que ouvi aí no Recife.
    Numa das últimas eleições em que Arraes, com uns 80 anos, participou, um correligionário mais próximo fêz-lhe algumas indagações com arrodeios: se ele estava bem de saúde; se iria aguentar o tranco de mais uma eleição; se não era hora de parar com isso, etc., etc.
    Arraes deu uma melhorada no estilo de “oráculo”, mirou o horizonte e disaprou: “Está bem. Eu vou consultar minha mãe”.

    Abs
    Brito

  2. Caríssimo Brito:

    Já que tocamos em política “Arraia”, vou lhe contar outra sobre o “Velho”:

    Certa vez Arraes estava fazendo um comício cheio da “manguaça”. Havia bebido um litro de “Dreia” antes de subir ao palanque. Quando começou a discursar não se apercebeu que estava “discostas” para o povo. Foi quando um puxa-saco lhe chamou a atenção:

    “Dr.º Arrai, o sinhor está falando “discostas” para o povo!

    Macaco velho, o Veio não perdeu tempo, e lascou no discurso:

    “Isso que eu fiz com vocês agora é o que o Imperialismo Americano fará com todos nós caso a direita vença as eleições aqui”.

    O Povo, abestado, aplaudiu o Velho por mais de cinco minutos, e a mentira, o engodo, a sacanagem, a esbórnia politiqueira, se propagaram até antes da chagada do Capitão!

    Valeu, Amigo Brito!

  3. Caríssimo amigo Cicero.
    Primeiramente muito gratos pela gentileza por dedicar o seu precioso
    artigo ,a minha pessoa e aos também meus amigos Brito e Pinheiro.

    Dei muitas risadas ao ler o seu artigo acima com muito humor e
    ótima narrativa, sem dúvida uma das melhores dos últimos tempos.

    Esses velhos são hilários e sacanas e se divertem com a ignorância e estupidez dos que ousam entrevista-los, por supor que são uns caducos babacas.. Na verdade são grandes sacanas e como dizia a minha vó,
    se fazem de mortos para entrar no cu dos vivos.
    Bela crônica, ganhei o dia.

    • Amigo do coração D.matt:

      Suas palavras elogiosas referentes à minha croniqueta despretensiosa me enche de júbilos, me emocionam e me deixam equilibrado entre a idade e a sapiência do aprendizado com o tempo e a maturidade.

      Aprendi a ter efetividade pelo nobre amigo, pelo cinéfilo Altamir Pinheiro,
      memorialista Brito, pelos excelentes cronistas Zé Ramos, Violante Pimentel, Aristeu, Maurício Assuero, Goiano, Adônis Oliveira (ácido e preciso nos artigos que escreve sobre assuntos diversos), Marcelo, Roque… e tantos outros feras, graças à lucidez e sapiência do EDITOR LUIZ BERTO, em ter tido o lampejo genial de ter criado essa Gazeta Escrota, que faz nos aproxima a lutarmos – com palavras – por um Brasil melhor!

      Obrigado amigo mais um vez! Não o conheço de perto, mas o admiro à distância! Também não precisa; o coração e a honestidade falam por si!

  4. Parabéns pela ótima crônica, prezado colunista Cícero Tavares! O coletor de dados do IBGE deve ter tido uma grata surpresa, ao encontrar Seu José Amâncio da Silva, com mais de 100 anos e ainda em forma, sabendo responder às perguntas, sem vacilar…. Essa história é um presente para os leitores, pois combate o mau humor. Seu José Amâncio da Silva deve ter ficado na história…rsrsrs

    Um grande abraço!

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