MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

Fará um ano, no dia 27/10, que o segundo turno das eleições presidenciais foi definido. Após a vitória de Jair Bolsonaro tivemos dois Brasis: um externado pela reação do mercado com índice de Bolsa de Valores batendo recordes e no começo de janeiro deste ano, ultrapassando a casa dos 100 mil pontos, logo após o discurso de posse de Guedes. O outro eclodiu em críticas, protestos, desejo de ódio e de insucesso. A democracia apregoada foi, simplesmente, para o brejo, como se diz por aqui.

Dificuldades inúmeras de aprovar projetos. O projeto Anticrime, por exemplo, teve até propaganda proibida. A reforma da previdência se arrastou até esta semana e saiu menor do que era proposto. Não se enganem: essa reforma é um começo, não um fim. Se não mudarmos a regra da repartição e não buscarmos meios de deixarmos mais independente a formação de poupança no sistema, a gente vai depender, sempre, da capacidade contributiva da PEA – População Economicamente Ativa.

Mas, no cerne dessas questões sinto a presença maciça de um terrorismo ideológico sem precedentes. Compara-se o Brasil ao Chile, alardeando que os protestos que ocorrem por lá são fruto da política neoliberal de Sebastian Piñera, que governou o país entre 2010 e 2014, fazendo o PIB crescer 5,30% e o desemprego cair de 11% para 6%. Agora, a economia neoliberal está acabando com o Chile, dizem, mas os motivos dos protestos são bem conhecidos do Brasil: aumento de 380 pesos (equivalente a R$ 0,20) na passagem do transporte público.

Em junho de 2013, houve um aumento de R$ 0,20 na passagem do transporte urbano de São Paulo. Aumentou de R$ 3,00 para R$ 3,20, ou seja, 6,67% por passagem. Estudantes ganharam as ruas, houve protestos, e depois de uma semana resolveram reduzir os R$ 0,20 da passagem e, dessa forma, os empresários do setor perderam 6,25% por passagem. A diferença, 0,42% por passagem é um valor expressivo numa cidade que tem uns 7 milhões de pessoas usando transporte urbano.

Exatamente isso que aconteceu no Chile e que está sendo ampliado porque o presidente lá, este mesmo presidente que fez o produto crescer e o desemprego cair, é de um partido de direita. Assim, o que se pretende mesmo é ter-se um bode expiatório de modo que o culpado seja, sempre, o sucessor.

Eu já disse aqui em outros momentos que a esquerda tenta criar uma situação de caos para dizer “eu não avisei? Eu não disse?”. Não faz sentido, inclusive, por parte de economistas fechar os olhos aos números. O desemprego está caindo ao longo desse ano, basta olhar dados da CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, mas grande parte dos economistas ideológicos pergunta “onde?”. Paulo Guedes recebeu um prêmio de uma revista que é distribuída nas reuniões anuais do FMI e do BIRD, que circula a 30 anos fazendo análise econômica dos países. Reação? “É bom analisar a que interesses essa revista serve”, ouvi isso de várias pessoas.

Nós temos potencial de sermos uma grande economia. Eu, como economista, sou favorável que se critique apontando soluções. Vários colegas de profissão torcem a cara para o que escrevo, porque minha análise não é ideológica. Vejo defesas do modelo Keynesiano no qual o governo gasta para gerar crescimento. Eu acho que Keynes tem razão quando fala que a demanda efetiva é decisória para crescimento, mas o que tais defensores pleiteiam é investimento do governo em programas sociais “para reduzir desigualdade”.

No meu entendimento, o Bolsa Família foi um programa importante para transferência de renda. Ele tem três eixos: a) complemento de renda; b) acesso a direitos; c) articulação com outras ações. Na maioria dos estudos a análise é feita apenas sobre a transferência de renda. Longe de mim querer criticar ou negar que o programa melhorou a vida de pessoas extremamente pobres. Mas, o que eu pergunto é se esta é a melhor forma que o governo tem de combater a incidência da pobreza. Será que a entrada de mais pessoas nesse programa não indica piora na proposta de reduzir pobreza? Será que não temos outras formas de combater a pobreza?

Em 2006, Muhammad Yunus ganhou o Prêmio Nobel da Paz porque fundou um banco, Grameen Bank, em meados dos anos de 1970, e por isso ficou conhecido como “banqueiro dos pobres”. A proposta era conceder microcrédito a população de baixa renda, tendo como objetivo estimular o EMPREENDORISMO, estimular pequenos negócios. O dinheiro era emprestado sem a necessidade de garantias. O modelo foi adotado por mais de 40 países, o banco emprestou mais US$ 6 bilhões e o prêmio foi dado com um reconhecimento “aos seus esforços para gerar desenvolvimento econômico e social a partir de baixo. O desenvolvimento a partir da base também contribui para o avanço da democracia e dos direitos humanos”.

Assistencialismo é necessário porque há pessoas com limitações, que não dispõe de recursos próprios para se sustentar e nem são sustentados por ninguém. Agora, defender a ideia de que a concentração de renda vai se resolver por transferências governamentais é ilusório. O que se faz mesmo é manter o povo preso ao assistencialismo em troca de votos. Escolha o Brasil que você quer.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *