FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Arrumações de gabinete de estudo revelam fatos, fotos e feitos que pareciam ter caído no baú do esquecimento, mas que saltam vez por outra para o cotidiano, exigindo respeito memorial, como se tudo fosse apenas uma simples questão de começo. Parecem ser de muita valia para os momentos que estamos vivenciando. Ressaltam angústias antigas que persistem, de incômodas consequências para todos. Alguns apontamentos de um ontem já não mais quase hoje, merecem ser aqui reproduzidos, as datas sendo irrelevantes:

a. A maior tragédia do ser humano contemporâneo está na sua dominação pela força dos mitos, abdicando de uma soberana capacidade de discernir e discordar, indispensável no trato das coisas terrestres. Compreensivelmente, inúmeros novatos estão mitificando os seus dirigentes executivos, para se arvorarem de primogênitos de deuses. Olvidam-se que no palco da vida há coisas, mil coisas, que custam bem pouco mas que acarretam efeitos extraordinários, inúmeros deles para sempre lembrados. Um telefonema, por exemplo. Um cartão de agradecimentos. Ou um atendimento personalizado quando o assunto merecer importância. Procedimentos que diferenciariam o agora de um passado majestático, tecnocrático e pernóstico, até bem pouco tempo vivido e observado pelos que não estão, nem jamais estarão cordeiramente de cabeça baixa.

b. Nada ameaça mais uma democracia que a gestão daqueles que desconhecem uma tese fundamental: em toda democracia, as respostas são difíceis diante de uma demanda facilmente induzida. Nos casos estaduais, então, nada mais oportuna que uma análise sem preconceitos sectários, sem apegos a cargos e funções, deixando-se refletir diante da seriedade de propósitos dos executivos eleitos. Estratégias e táticas bem definidas e amplamente debatidas, contínua postura dialogal e um ver-melhor-o-derredor poderiam constituir os balizamentos necessários para um fico-ou-saio dos que auxiliam diretamente os atuais mandatários.

c. Nossa atual conjuntura brasileira, que também se incorpora a uma bélica crise mundial, é merecedora de análises efetivamente binoculizantes. Devendo ser entendida como prenúncio do fim de uma era, início de uma nova fase, onde quase todo mundo está despreparado para um assumir consequente diante da IA – Inteligência Artificial e outras descobertas científicas e tecnológicas, inclusive lunares. A ausência de uma profissionalidade comprometida com a transformação do agora está levando inúmeros despreparados a uma não conformação com o fortalecimento do setor político, gerando um outro componente daquele caldo cultural que carrega dupla tendência: uma, a de ser hipercrítica em relação a tudo aquilo que desagrada; a outra, a de ser subcrítica diante daquilo que concorda. E os hiper e os sub não estão ampliando a cidadania pátria, muito pelo contrário. Estão, sim, deixando os senhores políticos sem uma densidade mais criativa e com uma frágil consciência acerca da própria estrutura governamental. E eivando-os de um mandonismo inoportuno, detentor de um poder decisório quase absoluto, que somente faz aumentar o número daqueles que consideram a repressão como caminho natural para o desenvolvimento nacional, única saída para garantir a segurança do grande capital.

d. A hora de reinventar-se rapidamente chegou. Ultrapassar os obscurantismos técnicos, políticos, religiosos e culturais é prova maior de querer um ambiente democrático cada vez mais solidificado. Caso contrário, outras situações poderão advir, com prejuízos para quase todo mundo.

Que todos se percebam sempre inconclusos, solidários, jamais solitários, sempre percebendo-se uma permanente metamorfose ambulante, como apregoava aquele menestrel inesquecível, famoso pela letra/voz, jamais por uma rabolagem metida a sexy.

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