CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

O MUNDO DE AMANHÃ

Imagino que vocês leitores brasileiros do Jornal da Besta Fubana, todos como intelectuais que continuam sendo, estejam curiosos em relação à política que se desenrola por aqui. Especialmente de um país como os Estados Unidos que influencia o mundo todo.

A minha visão é puramente de uma observadora, brasileira que aqui reside há mais de 30 anos, onde tem marido, filhos e netos.

Acredito que a história se repete para todos os impérios do mundo ao longo dos muitos milênios. O império se estabelece devido a genialidade industrial, bélica, etc., de seus governantes e cidadãos.

Uma vez estabelecido, vive os frutos de suas conquistas. Muitas vezes conquistas que escravizam e exploram os países vizinhos ou parte do mundo.

Diante de tanta riqueza os cidadãos do império se acomodam a serem recebedores de privilégios e já não se esforçam tanto para agir com esforço e genialidade. Importam tudo e perdem a capacidade de gerir seu próprio sustento.

Finalmente as coisas começam a apertar e o império se divide entre fações políticas e ideias de governança opostas, ignorando que uma casa dividida não se mantém em pé.

Essa repetição é absurdamente previsível e observamos isto com os impérios da antiguidade e os mais modernos. Só para ilustrar, vejamos o império Romano, há mais de 1700 anos e o pequeno império Português/Espanhol que foram os que descobriram e dividiram o mundo só há 500 anos.

Depois veio a Inglaterra, que se transformou em Reino Unido. Foi o último país imperialista antes dos Estados Unidos.

A Europa ficou tão mimada que deixou até de produzir crianças. Hoje a população europeia está quase que irreversivelmente em extinção. Estão agora dependendo de aceitar estrangeiros, anteriormente pisoteados como inferiores, tendo sido sua principal mão de obra, cientistas, etc. A Inglaterra, pelos indianos, a França e demais países latinos, pelos africanos e árabes. Enfim. Assisto de camarote!

Sempre fui fascinada por história e nunca havia entendido como um país culto e poderoso pode ter sua influência e o estilo de vida apagado de suas cidades, até que essas se tornam vilarejos de pessoas iliteratas, que não conhecem o seu passado.

Estou vendo acontecer na Europa e infelizmente para nossos descendentes está começando a acontecer aqui nos Estados Unidos.

Ou o país se une e aceita a diversificação racial e cultural trazida pelas minorias e imigrantes ou se constituem populações ainda minoritárias, das quais a economia depende.

Especialmente a economia básica, como agricultura, indústrias de construção civil e manufatura, ou a divisão se tornará a queda desse país que até agora para mim tem sido um eldorado.

Os trabalhadores “importados” começam a tomar corpo e fôlego; e o fim da história; é só a parte que podemos prever.

Não há ainda uma definição precisa para o destino da América, porque, em minha opinião, como o Brasil, desde sua origem, é um país de imigrantes e um grande caldeirão onde as outras culturas e raças se misturam, diferente dos outros impérios anteriores onde havia uma etnia de origem.

Aqui por mais que haja os “brancos” fanáticos eles não vão poder superar o fato de que havia índios e africanos antes de sua chegada para a construção do Estado, mesmo antes de se tornar um império. Então há um ponto diferenciador.

Diante de tudo isso os simpatizantes de Trump, que são nacionalistas e em grande maioria, classe média, branca, não tem chance de calar a outra metade que são em sua grande maioria defensores de direitos de minorias, imigrantes.

E triste ver Hollywood Boulevard com vendedores ambulantes, como em nosso Mercado de São José; assaltos em grandes cidades, como em qualquer outra metrópole cosmopolita do mundo. Enfim, ou há união ou haverá desmoronamento.

Acho que não estarei viva quando os privilégios da classe social na qual eu e meus filhos estamos estabelecidos, vier a sucumbir, se assim for.

Por enquanto, assisto a tudo como se estivesse no cinema assistindo a um documentário histórico. O interessante é que o final ainda não está determinado.

Os sensacionalistas ignorantes, ou deliberadamente tentando influenciar a uma camada de público, fazem um barulho danado, ao qual me nego a dar ouvidos.

Na realidade, me impressiona como as pessoas são politicamente ingênuas. Acho que como fui uma “inocente útil” e vivi intensamente esse envolvimento político. Já posso aposentar esse meu lado.

Nem antes, como jovem, tive a inteligência emocional parar fazer carreira política, que seria a única coisa restante para meu envolvimento. Meu temperamento não me permitiu.

Hoje continuo engatinhando para alcançar uma inteligência emocional que me permita discutir política. Concordo com todas os meus colegas, sejam eles trumpistas, bolsonaristas, bidedistas ou lulistas. Vejo-os todos como personagens de um filme. E peço a mim mesma, para sempre ter paciência.

16 pensou em “ELIANE LAWRENSE – BOUDLER CITY – LAS VEGAS – EUA

  1. Perfeito. É a realidade nua e crua. Assim como os impérios da antiguidades, não se poderia acreditar que os EUA irá ser um império que nunca irá cair. E a culpa vai ser dos próprios americanos. E então a China voltará novamente a ser um império dos tempos de Genghis Khan. alias, já é.

    • Romildo, talvez não. A China carrega dentro de sua população uma amargura imensa, que ao extravasar-se, tal como uma tsunami, levará tudo a pique. A Europa, América e as culturas ocidentais estão feridas de morte. Abandonaram seus valores culturais, éticos, religiosos – resumindo, sua cosmovisão (visão de mundo) em benefício de “uma suposta boa convivência com um discurso politicamente correto – e, aos poucos está dando adeus a si mesmos. É o fim de um ciclo civilizacional.

  2. Essa Vovó é uma “Gênia”!

    Que texto maravilhoso!

    Prezada Eliane, não deixe de nos presentear com mais textos advindos das considerações dessa sua cabeça maravilhosa.

    Grande abraço e um Feliz Natal, para ti e para toda a tua família.

  3. “Concordo com todos os meus colegas, sejam eles trumpistas, bolsonaristas, bidedistas ou lulistas. Vejo-os todos como personagens de um filme.”

    É ótimo olhar um filme da nossa vida como espectador.

    A vida passa, as coisas acontecem e a gente olha.

    Todos têm razão. Todos estão errados.

    E eu olho com muita paciência.

    Afinal tudo passa, inclusive nossas vidas.

    • Prezado João Francisco,
      Faço minhas as palavras de Voltaire:
      “Tudo isso está muito bem dito — respondeu Cândido, — mas devemos cultivar nosso jardim.”
      Hoje vivo de verdade cultivando meu jardim, fazendo compotas e observando meus netos crescerem. Certa de que devemos ser sempre agentes ativos de nossa história, sempre otimistas. Certa também que é tão importante quanto nos contentarmos não de uma maneira vencida mas vencedora com o cultivo de nosso jardim e com o bem estar daqueles mais próximos.

  4. O império americano teve seu apogeu nas décadas quarenta, cinquenta e sessenta O começo do seu declínio deu-se com o início dos protestos contra a guerra no Vietnã. O império amarelo está ávido para ocupar o primeiro lugar. Será que é de lá que virá o terceiro Anticristo ?

    • Prezado Terracota,
      Tem muita gente acreditando nisso. Eu pessoalmente espero que não. Estaria muito perto, mas por outro lado só com o fim haverá o recomeço, certo?

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